A eternidade dos ídolos nasce do amor da torcida. Foto: Fotojump/SP Open

A eternidade dos ídolos nasce do amor da torcida. Foto: Fotojump/SP Open

Há algumas semanas fiz um artigo meio que ensinando ao leigo como torcer para nossos melhores tenistas, Bia Haddad e João Fonseca. O objetivo era diminuir a pressão sobre eles, criar um elo de apoio e carinho que os impulsione rumo às vitórias que todos queremos. Mas há um outro lado que não pode ser esquecido, o lado daquele que cria e alimenta os ídolos e move o milionário mercado esportivo: o lado do às vezes desprezado, mas sempre resiliente torcedor.

É ele, mais até do que a imprensa, que pode levar um atleta de qualquer modalidade à condição de astro, que faz com que um time de futebol atraia patrocinadores e lote arquibancadas. A hierarquia do esporte mais popular do País é ditada pela quantidade de torcedores de cada time há muito tempo.

Antes de serem permitidos os patrocínios nas camisas, os clubes profissionais só podiam contar com as verbas de bilheteria. Assim, as agremiações mais populares sempre tiveram orçamentos maiores do que os rivais e, assim podiam contratar jogadores melhores e formar times mais fortes. É assim desde o advento do profissionalismo.

De clubes elegantes, como Paulistano e Fluminense, o futebol passou a ser dominado pelos mais populares. Quem se apercebeu disso saiu na frente. Elegante clube da Zona Zul, o Flamengo resolveu tornar-se popular, objetivo alcançado com enorme sucesso.

Está bem. Houve um tempo em que a beleza e a arte fizeram o Santos conquistar as massas e ter a maior torcida do Brasil, isso atestado por um censo do IBGE de 1968, segundo o qual os adeptos do time de Pelé representavam mais do que as torcidas de Flamengo e Corinthians juntas. Mas esse fenômeno só acontece com times espetaculares. No mais, prevalece a norma de que times grandes sediados em metrópoles angariem mais torcedores, faturem mais.

Enfim, não haveria desportistas ricos e famosos não tivessem caído nas graças do torcedor. E hoje, o que esse herói ganha em troca, além de ser bombardeado com anúncios de casas de apostas? Muito pouco, como sabemos. Alguns clubes não lhes oferecem sequer um lugar decente de convívio, nem uma mísera mesa de ping-pong. Encaram o torcedor como um eterno contribuinte.

No caso de esportes individuais, não é raro o atleta se voltar contra o fã quando é cobrado. Ora, o mesmo que idolatra não tem o direito de alertar quando o ídolo claudica? Você sabia que no tênis o montante ganho em prêmios por um tenista representa apenas metade do rendimento que ele recebe com patrocínios? Pois é. Ser popular é a maior vitória e maior fortuna de um atleta profissional.

Para tentar descobrir como deveria ser a melhor reação de um esportista famoso diante da cobrança dos fãs, cheguei à frase dita pela apaixonada raposa ao belo Pequeno Príncipe, no livro de Antoine de Saint-Exupèry: “Tu te tornas eternamente responsável por quem cativas”.

 



Odir Cunha - Escritor com mais de 30 livros publicados. Jornalista profissional desde fevereiro de 1977

 

 

 

 

 

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