O BLOG DO VITÃO, normalmente, fala de futebol (“esporte é futebol, o resto é educação física”), mas aqui também tem espaço para as outras paixões nacionais do blogueiro, como samba e Carnaval.
E hoje, 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba, não vamos deixar a a data passar batida.
Profissionalmente, vivo de futebol, mas, em minha vida pessoal, o samba tem um papel parecido com o do futebol.
O samba é 10
1) O samba é motivo para eu falar com meu irmão _Marcos Caju Guedes, corinthiano, jornalista esportivo e mangueirense também por culpa deste primogênito aqui_, lembrarmos de sambas antigos e nos encontrarmos hoje em ensaios por aí. Marcão ter ido em dois ensaios da Leandro este ano, no lançamento das eliminatórias do samba e na festa dos pilotos, me deu muita alegria.
Vitor Guedes e Marcos Guedes no lançamento das eliminatórias do samba-enredo. Abaixo, os irmãos na companhia do jornalista e amigo Felipe Cerqueira na festa de pilotos. O carnavalesco Marco Aurélio está de parabéns: o Leão Guerreiro da ZL vem bonito para sacudir o Anhembi em 2015
2) Tenho um filho de cinco anos, tão branquelo quanto este colunista. Poderia falar para ele que todos são iguais, que não há hierarquia entre classes sociais, brancos e negros, que crianças, jovens e velhos têm o seu espaço, que heterossexuais, homossexuais e travestis merecem ser tratados com o mesmo respeito. Poderia e, quando for um pouco maior, falarei. Por ora, levo ele no samba: sem precisar de muitas explicações, ele vê negros, brancos, homens, mulheres, ricos, pobres, gays e héteros, todos convivendo em harmonia, em um respeito natural e autêntico, sem hipocrisia.
3) O samba ensina a ser bom anfitrião, a tratar bem quem visita a quadra, ao mesmo tempo em que ensina a valorizar nossa raiz, nossa comunidade, a celebridade, a rainha, o mestre de bateria, o compositor, o intérprete local, da respectiva comunidade. É cultura exercida na prática. Ensina, com música, convívio e alegria, o que Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa ensinou em “O Rio da Minha Aldeia”:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
4) A minha música preferida, “Espelho”, de João Nogueira, é um samba; minha cantora e cantor predileto eram sambistas, respectivamente, Clara Nunes e Bezerra da Silva. No samba, só desfilando pela Gaviões, vivi as sensações de ser campeão do Especial e do grupo de acesso. E também de ser rebaixado ao Grupo de Acesso.
Neste ano, 2014, subi com a Vila Maria, caí com a Leandro de Itaquera, na estreia do meu Basa, que tomou uma hora de granizo na cabeça... E quer desfilar de novo porque “na zona leste, Vermelho e Branco é raiz”.
Mathias Adorno, Andréa Adorno, Lays Guedes e Vitor Guedes no desfile das campeãs, na Ala Amigos do Favella, da Unidos de Vila Maria. Abraço Geisa, presidente Adílson, grande Favella, professor Aderson, presidente Adilson, compositor Jorge Zanin e toda a rapaziada que faz um trabalho social belíssimo: tem de ter paixão pra ser da Vila!
5) O samba ensina que ganhar não é tudo: o meu samba preferido da minha Mangueira, por exemplo, não foi campeão (“Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão” foi vice, em 1988);
O samba paulistano me ensinou a respeitar e admirar agremiações que não são as cores do meu coração (Camisa Verde e Branco 1988 tem um dos sambas que mais gosto: "Convite Para Amar"), e valorizar obras que não foram premiadas com o caneco (por exemplo, o da minha Leandro de Itaquera-1989: "Babalotim", ano em que eu ainda não era Leandro nem mesmo morador da ZL, minha pátria amada e adotiva), além de me fazer ter sincera simpatia e carinho (sim, no samba, ao contrário do futebol, é possível gostar de verdade de mais de uma escola) por Nenê, Vai-Vai e Unidos de Vila Maria.
Mangueira 1988
Camisa Verde e Branco 1988
Babalotim: Leandro de Itaquera 1989
6) O samba ensina quem nasceu no milênio passado (sou de 1977, ano 0 para a Fiel, ano que Deus Basílio abriu o mar e libertou o povo sofrido de 23 ano de angústia) e foi criado em uma era que os valores hegemônicos eram machistas, que as mulheres, inclusive as lindíssimas, com corpo, carisma, caráter e postura de rainha _poderia citar várias, mas, só para registrar, cito Ivi Mesquita (Vai-Vai) e Vivi Brilho (Leandro de Itaquera)_, têm na beleza e no charme qualidades para lá de desejáveis que dialogam e se completam com outras, como profissionalismo, competência, inteligência. E que toda mulher, seja a professora infantil, a empresária, a dona de casa, merece ser tratada como uma rainha.
IA A empresária Ivi Mesquita: beleza, profissionalismo e talento: com carisma, trabalho, inteligência e alegria!
Vitor Guedes e a educadora infantil e rainha Vivi Brilho no ensaio da Leandro de Itaquera
Vale para rainhas, vale também, claro, para senhores. Na pessoa de meu amigo Paulo Valentim, alvinegro do Bixiga e tricolor do Morumbi, embaixador do samba, cidadão-samba 2014 e presidente da Velha Guarda do Vai-Vai, cumprimento toda a comunidade que honra o nosso samba. Obrigado, Paulo, companheiro de trabalho no jornal AGORA, pelas aulas diárias diárias de humildade e pelos conhecimentos que o senhor, com toda a paciência que lhe é peculiar, me passa.
Vitor Guedes e Paulo Valentim na redação do AGORA: o samba, a amizade e o ser humano não tem raça nem cor
7) Visto por quem não conhece e por quem olha com preconceito como um ambiente ruim, quadra de escola de samba é o lugar que eu me sinto bem para levar meu filho, minha mulher, minha família e meus amigos. É onde comemorei alguns aniversários e onde pretendo, saravá, São Jorge, comemorar outros. Alô, Karin Darling, Suzy, faço 38 anos no final de janeiro... Reserva uma mesa aí para os amigos do Vitão no Elite Itaquerene em um ensaio da nossa Leandro que é nóis no samba!
8) O samba é cultura. Muita gente, pelo péssimo sistema educacional do país, tem na letra de sambas-enredo a única fonte de informação sobre períodos e personagens históricos. Quanta gente, entre brancos e negros, quis saber mais sobre Zumbi dos Palmares após o título da Vila Isabel em 1988 com "Kizomba, a Festa da Raça", no centenário da Abolição da Escravatura? Quantos paulistas, paulistanos e brasileiros tiveram curiosidade de conhecer a Liberdade após a Saracura levantar o Anhembi e o Caneco em 1998 cantando e contando a imigração japonesa com “Banzai, Vai-Vai”? Quantos conhecerão mais sobre o invencível Nelson Mandela no desfile 2015 da Leandro de Itaquera?
Vila Isabel 1988
Vai-Vai 1998
Leandro de Itaquera 2015
9) Clara Nunes era branca e personagem frequente na televisão nos anos 70. O quanto o seu sucesso midiático não colaborou para diminuir o preconceito em relação a religiões com origens afros e com praticantes de maioria negra, como candomblé e umbanda? Samba, assim como futebol, é muito mais do que um ambiente onde o negro é aceito. É um espaço que serve para mostrar que é um absurdo que não seja assim em qualquer área!
10) O nascimento de um filho, ainda mais quando ele é planejado e amado desde antes do nada, é hors-concours. Fora isso, a sensação de estar na concentração, na hora do grito de guerra da escola, minutos antes de entrar no Anhembi, é indescritível. Viver isso, então, na companhia do meu Maloqueirinho não tem preço! Caímos? E daí. Vamos, subir. E cantando Madiba, a quem ele começa a conhecer quem é pelo samba que canto para ele.
Vitor Guedes com Arthur e Basa; acima, Lays Guedes (a popular mãe do Basa), Mathias e Andréa, pai do Arthur: amigos unidos no samba
Meus pêsames a quem não curte e, principalmente, a quem tem preconceito contra o mundo do samba. E meu muito obrigado por fazer parte da minha vida e por ajudar esse ser cheio de imperfeições, manias e erros a ser alguém menos ruim, menos preconceituoso e menos ignorante.
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Foto: UOL, Arquivo Pessoal e Divulgação
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