Está nas bancas a edição especial da revista Placar em comemoração aos 45 anos de fundação, pela Editora Abril em março de 1970, quando o País já vivia a expectativa da nona Copa do Mundo que se realizaria no México entre junho e julho daquele ano.
Placar surgiu no vácuo deixado pela Revista do Esporte, dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos que já havia criado o fenômeno Revista do Rádio. Editada em papel jornal e com capa colorida, a RE circulou a partir dos anos 50 e fechou em 1969.
Antes de lançar o exemplar número um de Placar, a Abril botou nas ruas uma edição experimental número zero, trazendo na capa uma foto em preto e branco de João Saldanha e a manchete “Acorda, João” e um comentário do técnico Aimoré Moreira.
Abaixo de Saldanha e das letras garrafais sobre a entrevista exclusiva de Aimoré sobre os riscos da seleção das feras perder para a Argentina, uma foto colorida do time do Brasil e uma de Fontana em P&B com a manchete: “Este reserva manda na seleção”.
O saudoso zagueiro Fontana, que brilhou no Vasco e Cruzeiro, foi um dos mais vigorosos beques nacionais. A edição zero de Placar tinha uma longa reportagem levantando sua bola e o tratando de líder nato, apesar de ser o reserva de Scalla.
Noutra página, uma matéria com o então técnico russo Gavril Kachalin, ex-craque do Dínamo de Moscou, dizendo que o Brasil iria ganhar a Copa no México. Um contraste com as reportagens de abertura onde Aimoré Moreira e Pelé derramavam pessimismo.
A edição número um saiu em março, repetindo basicamente as mesmas abordagens da capa anterior. Outra entrevista com Aimoré dando pitaco sobre os favoritos na Copa, as receitas de Pelé para a conquista do tri e outra vez destaque para a crise da seleção.
Para quem não sabe, o Brasil ganhou a vaga para o México graças aos gols de Tostão e viajou sem a menor credibilidade, e sem povo no aeroporto. Em quatro páginas, uma reportagem sobre a seleção de Saldanha com uma manchete crua: “A crise da fera”.
O que havia de mais diferente em relação ao exemplar-teste era uma matéria enaltecendo a liderança de Gérson e já sem qualquer alusão a Fontana. O canhota realmente seria o líder na Copa e o zagueiro capixaba ficaria na reserva de Piazza.
Sempre que folheio o primeiro número de Placar, releio as duas páginas dedicadas a um craque da Europa que se tornou um ídolo da minha juventude e que quase nenhum colega de geração conhecia quando eu iniciava alguma ladainha de louvação.
Não foi por acaso, obviamente, que a revista Placar iniciou seus dias com um destaque para o atacante irlandês George Best, artilheiro e ícone do Manchester United e incorporado à cultura pop na condição que “quinto beatle”, como era chamado.
A manchete de Placar era consagradora para um tiete como eu, que tinha o jogador nos times de caixa de fósforo desde quando a Revista do Esporte deixou de circular no ano do homem na Lua. As grandes letras negras diziam “George Best, o Deus”. E era.
Já adulto, apenas três amigos trataram Best como ele realmente foi dentro de campo: Marcelo Navarro, Adriano de Sousa e Rubens Lemos Filho. Com eles eu podia babar pelo futebol do polêmico craque, sem que precisasse informar sobre sua carreira.
Aliás, aquela manchete da primeira Placar seria replicada dois anos depois em forma de interrogação e com letras vermelhas. Numa edição de novembro de 1972, assim perguntava a reportagem: “Alberi, um Deus?”. Vida longa a Placar, já eterna.
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Foto: Placar
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