Sou um ser urbano, criado no asfalto, com algumas breves incursões em estradinhas vicinais na região entre Campo Limpo Paulista e Atibaia, quando para essas bandas me deslocava para o sítio do meu sogro.
Confesso que, ao estar guiando sozinho naquele curto trajeto, coisa de quatro quilômetros, sempre abusei do pedal do acelerador serpenteando a paisagem, levantando poeira ou tendo alguma habilidade para desvencilhar-me de poças ou atoleiros um pouco mais ingratos, na maior parte das vezes com carro de tração dianteira.
Assim, a curiosidade para participar de uma prova em um terreno desses sempre esteve presente, ainda que latente.
Quando estive cobrindo o Rally dos Sertões em 2013, em Goiânia, meu encantamento pelo mundo off-road só aumentou, a ponto de um piloto de rali, o ótimo Guilherme "Guiga" Spinelli ter sido um dos mais frequentes entrevistados no meu Bella Macchina, programa de automobilismo que recentemente completou sua 100ª edição no Portal Terceiro Tempo.
E também vieram outros pilotos deste mundo, entre eles Reinaldo Varela, Gabriel Varela, Helena Deyama e Helena Soares.
E todos, absolutamente todos, foram categóricos em dizer que aquele que sonha em começar no rali deve fazê-lo na categoria regularidade.
Aos leigos, simplificadamente, explico: como o nome diz, piloto e navegador devem cumprir um roteiro estabelecido pela organização da prova da forma mais regular possível, respeitando velocidade e passando nos PCs (postos de controle) no tempo estabelecido. Assim, o vencedor é aquele que menos pontos perde. Para se ter uma ideia, cada segundo de passagem (adiantado ou atrasado) vale 10 pontos de punição. Portanto, precisão é tudo.
O PRIMEIRO RALI DA VIDA...
Desde 2009, quando comecei meu trabalho como editor de automobilismo no Portal Terceiro Tempo, participei de vários eventos da Mitsubishi, porém, todos no asfalto, e até indo de carona em uma volta rápida absolutamente inesquecível ao lado de Ingo Hoffmann com um Mitsubishi Lancer Evo no Velo Città, em Mogi Guaçu.
Faltava algo no off-road. O amigo Thiago Padovanni, assessor de imprensa da Mitsubishi sempre sinalizava, me convidando para guiar em um rali de regularidade, mas nunca consegui fazer minha agenda "bater" para estas provas, até que apareceu este, do último sábado (10), o Mitsubishi Motorsports na etapa de Penha, em Santa Catarina.
RUMO A NAVEGANTES
Embarquei na sexta-feira (9) em Congonhas, rumo a Navegantes, no mesmo voo que o amigo Fernando Solano, também jornalista, que trabalha na Mitsubishi. Descemos do Airbus A319 da LATAM um tanto quanto atordoados, graças a uma turbulência daquelas com direito a ouvir uma passageira à frente rezando. O próprio Solano me confessou ter feito alguns pedidos à turma que estava perto da gente nas alturas...
Em solo firme, achei que por mais esburacado, lamacento ou sinuoso que fosse o trajeto, não seria mais tenso do que aquilo que vivi em pelo menos dez intermináveis minutos na aeronave...
CONHECENDO MEU NAVEGADOR
Do aeroporto ao hotel, um trajeto vencido em 20 minutos pela orla de Navegantes. Orla pitoresca, por sinal, que me fez lembrar os tempos em que lecionei geografia. Um longo trecho defronte ao mar, de restinga, é preservado, para impedir o avanço das águas. Chovia de leve no percurso, mas a previsão era de um sábado ensolarado, o que foi confirmado.
Depois de um banho e descanso no hotel, algo em torno de duas horas, atualizei a home de automobilismo do site, com as notícias dos treinos da Stock em Cascavel e da Fórmula 1 no Canadá. Depois, havia o compromisso de ir ao Beto Carrero World, ponto de partida do rali, onde estava toda a infra-estrutura montada e onde se realizaria o briefing comandado pelo experiente Lourival Roldan, navegador de longa data, que neste ano conquistou um feito inédito para o Brasil, ao vencer o Rali Dakar pela primeira vez, ao lado do piloto Leandro Torres.
Como o Padovanni e o Solano já estavam por lá, foi justamente o meu navegador que veio me buscar, o jornalista Alexandre Koda, criador do ótimo fugindodarotina.com.br, que recomendo muito.
E ele já estava a bordo da nave que eu guiaria no dia seguinte: a belíssima L200 Triton Sport, que só lembrou meu valente Renault Logan pela cor, vinho...
Chegamos na área do kartódromo do Beto Carrero World e fomos acompanhar o briefing do Lourival Roldan. O Koda é um desses jovens mega antenados em tecnologia, como o meu filho Lucas. Já havia baixado o aplicativo da prova em seu celular e acompanhou as dicas do Roldan ao meu lado, fazendo anotações em uma caderneta.
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Depois das ótimas dicas do Roldan, o Alexandre Koda sugeriu que eu fosse guiar a L200 para me familiarizar com os comandos. É um bruta montes por fora mas extremamente aconchegante por dentro, confortável e dócil. O câmbio automático, a tração 4 x 4, o motor a diesel que evoca robustez e os pneus lameiros que passam uma enorme confiança.
Saí do estacionamento, dei um giro pela avenida lateral ao Beto Carrero World e voltei sentindo muita confiança no equipamento que iria conduzir a partir das 9h30 do sábado, horário marcado para nossa largada, da rampa.
A fome já estava batendo, claro, e fomos jantar com o Padovanni e os demais jornalistas convidados. Ótimas pizzas e ótimas risadas.
Uma boa noite de descanso, café da manhã, e precisamente às 8h20 saímos do hotel rumo ao Beto Carrero World, para a área do estacionamento, nosso ponto de largada. E já fomos na composição da prova, eu ao volante e o Koda navegando, aliás o que foi necessário, pois eu não conhecia o caminho.
Em dez minutos estávamos lá, e o Koda usou o tempo para instalar a GoPro, equipamento que filmou todas as quatro horas de prova e para conversar com o Padovanni, para pegar umas dicas.
UM QUARTETO!
E não fomos somente eu e o navegador.
O Padovanni acertou em cheio ao convidar dois ótimos "Zequinhas", para irem no banco de trás, ambos do Beto Carrero World: a gaúcha Carolina Schuch e o catarinense Felipe Ramos. Ela, assessora de comunicação do Parque; ele da área de eventos.
Esclarecendo: "Zequinhas" é alusão ao famoso Zequinha, macaquinho amigo do Gorducho (irmão caçula do Speed Racer), que sempre se escondia no porta-malas do Mach 5, um carona habitual.
O DESLOCAMENTO E O COMEÇO DA PROVA
Largamos precisamente às 9h30. Cronômetro e hodômetro zerados. O deslocamento até ingressarmos no primeiro trecho de terra, e aí a prova começou pra valer.
Nossos "Zequinhas" conheciam bem a região, mas ainda assim era imprescindível começar a me sintonizar com meu navegador, o que foi melhorando quilômetro a quilômetro.
Todos nós "marinheiros de primeira viagem", e isso foi legal, pois aprendemos juntos a bordo do carro #111.
UMA PERDIDINHA...
Demos uma errada em um trecho, avistamos uma área asfaltada à frente que não estava na planilha e nos atrasamos, o que nos custou importantes pontos perdidos, mas nada que tenha tirado nosso humor.
ENTRANDO NOS TRILHOS...
Retomamos nosso rumo para não mais nos perder. O dia estava lindo, frio à beça, mas lindo.
A paisagem campestre, passando pelas estradinhas vicinais de Balneário Piçarras, São João do Itaperiú e Araquari. Nunca havia visto tantas plantações de bananas em minha vida. Diversos cachos envoltos em sacos plásticos azuis, impossível não vê-los apesar da necessidade de estar atento à velocidade (que variava de acordo com a planilha), e ao hodômetro, para que meu navegador pudesse me alertar para as situações futuras.
ALGUÉM VIU UMA BERGAMOTA...
E no meio daquele mar de bananeiras, eis que a gremista Carol dispara em bom e delicioso gauchês para o Felipe, ao seu lado:
"Bah, tu viu aquela bergamota enorme no pé?".
Na hora não pude comentar, afinal estava concentrado nos instrumentos, mas achei interessante a bela gaúcha ter conseguido avistar uma bergamota perdida no meio de todas aquelas bananeiras, afinal a vida é mesmo feita de detalhes, que passam despercebidos para a maioria das pessoas. Ah, e para quem não sabe, bergamota é a mexerica dos paulistas e a tangerina dos cariocas... Somos um grande país mesmo. Uma mesma fruta, deliciosa e suculenta, que atende por três nomes!
Encarreguei o Felipe e a Carol para que fizessem algumas fotos com a minha câmera. E os registros foram ótimos, como vocês poderão conferir mais abaixo.
O catarinense Felipe, torcedor do Joinville, acompanha o trabalho do meu chefe Milton Neves e conhece todos os bordões dele, o que proporcionou ótimos momentos. Em alguns, de espera para relargada, fizemos boas brincadeiras imitando aquele vozeirão de Muzambinho, falando até dos patrocínios da Rafarillo e Bioleve, entre outros...
UMA PARADA, ALÍVIO
Depois de duas horas sacolejando e vivendo alguns momentos de tensão, por conta de trechos muito estreitos com erosões e lama, fizemos uma parada em um posto de combustíveis em São João do Itaperiú, programada pela organização. O pit-stop básico no banheiro e hora certa para voltar para as duas horas finais.
Porém, enquanto estávamos na nossa pausa, a jornalista Nicole Azevedo, do carro #112, nos interpelou para falar do tempo. Em sua avaliação, um atraso dos grandes, já deveríamos ter saído. Alarme falso, pois ela havia visto o tempo de partida ao invés de chegada ao posto de serviços. Tudo esclarecido, rimos bastante e nossas contas estavam em ordem para seguirmos em frente.
CONFIRMANDO A ROBUSTEZ DO CARRO
Como já disse antes, a L200 Triton Sport é um carro muito confiável. Mas um determinado momento me deu a total certeza, quando precisei parar em um trecho de aclive e ela tracionou de uma forma irrepreensível, como se os pneus estivessem em trilhos.
Não é "merchan", algo que meu chefe "detesta", mas eu recomendo de olhos fechados esse carro para quem queira utilizá-lo para estes fins, não apenas em uma competição, mas também para enfrentar a rudeza de nossas vias, incluindo as (mal) asfaltadas...
DUAS HORAS FINAIS DE PROGRESSOS E A CHEGADA
Minha sintonia com meu navegador Alexandre Koda melhorou demais nas duas horas finais da prova, após a parada. Isso ficou visível em nossa tabela de classificação, quando fomos bem menos penalizados nos PCs (postos de controle).
Não foi o suficiente para subirmos ao pódio, mas deixou clarou que se disputássemos uma prova similar no dia seguinte certamente seríamos candidatos a isso. Valeu cada minuto e, de fato o mais importante, uma responsabilidade enorme que eu tinha, em trazer todos de volta, sãos e salvos.
Só por isso, fomos vitoriosos!
A TURMA DO #111
Pedi que o Koda, a Carol e o Felipe escrevessem algo sobre a prova, e reproduzo abaixo seus relatos, deliciosos, por sinal
ALEXANDRE KODA - JORNALISTA DO SITE FUGINDO DA ROTINA.COM.BR
"Navegar pela primeira vez em um Rally foi uma ótima maneira de treinar concentração e disciplina, valores que usamos no dia a dia. Por conta da inexperiência cometemos algumas falhas que nos levaram ao último lugar da categoria, mas certamente ficou a vontade de nos aprimorarmos para correr novamente em busca de uma melhor colocação."
CAROLINA SCHUCH - ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO DO BETO CARRERO WORLD
"Participar da Mitsubishi Motorsports foi uma experiência incrível. São 4h de muita emoção, concentração e interação entre os componentes da equipe, pois um depende do outro para que o resultado seja positivo. O melhor foi que ninguém da equipe havia participado dessa prova, então a descoberta mútua tornou tudo ainda mais divertido. Mas eu ainda prefiro sacudir em uma montanha russa do que dentro de um carro, e tenho certeza que todos os competidores adoraram seguir o dia de aventura no Parque depois, e continuar com momentos de adrenalina também fora dos carros."
FELIPE RAMOS - EVENTOS DO BETO CARRERO WORLD
"Eu como um apaixonado por automobilismo, achei incrível a experiência de poder participar de um evento tão grandioso como este; E o fato de correr junto com uma equipe que também estava tendo essa experiência pela primeira vez, deixou a prova ainda mais emocionante.
E o que não posso deixar de registrar é o fato do evento ter ocorrido no Beto Carrero, lugar onde eu trabalho e tenho muito orgulho de falar isso.
Apesar de eu ter crescido na região, fiquei muito surpreso com o trajeto da prova, pois não conhecia os lugares por onde passamos, que por sinal conta com uma linda paisagem.
Enfim, foi tudo muito emocionante e perfeito, parabéns para os organizadores do evento e principalmente, parabéns para a nossa equipe que se divertiu e aproveitou cada instante.
Abraço, Marcos, e até a próxima, aí com o pódio hahahha."
INTEGRAÇÃO
Uma competição como o Rali de Regularidade da Mitsubishi Motorsports é um evento familiar e beneficente. Gente que se reúne para um dia de aventura e diversão, como o casal Nicole Azevedo e Diogo de Oliveira, ambos jornalistas, da Record e R7, respectivamente, que também participaram da prova a convite da Mitsubishi, com a pequena Ana Clara de Azevedo, são-paulina fanática.
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