Com ideias modernos para suas épocas, húngaros e holandeses formaram conceitos que até hoje são considerados modernos

Com ideias modernos para suas épocas, húngaros e holandeses formaram conceitos que até hoje são considerados modernos

O que faz um time ficar marcado na história do esporte? Títulos? Resultados? Grandes jogos? O que pode ser mais marcante do que influenciar equipes quase meio séculos depois de sua época? Conceitos de jogos como pressão, linhas altas, trocas de passes, triangulações, mudança de posições podem ser absolutamente comuns nos dias atuais em boa parte dos times de futebol no mundo todo. Mas para que tantos clubes apliquem essas ideias, alguém precisou introduzi-las no esporte.

Para os mais jovens, os conceitos mais aplicados no futebol hoje surgiram a partir do Barcelona de Pep Guardiola que ganhou absolutamente tudo entre 2008 e 2012.O que muitas vezes deixamos passar é que o time de Guardiola é filho e neto de duas equipes que talvez sejam as mais influentes da história do esporte bretão: a Holanda de 1974 e a Hungria de 1954.

A maior geração da história da Holanda, curiosamente, não conquistou nenhum título, mas construiu uma história tão bonita e um futebol tão sólido que seus conceitos são incansavelmente aplicados nos dias atuais por qualquer equipe que se dedique a jogar um futebol mais propositivo. Formada a partir do Ajax, clube que encantou o mundo no final dos anos 60 e início dos anos 70, quando conquistou três títulos europeus, a Holanda que foi ao Mundial de 74 surpreendeu o mundo ao praticar um futebol diferente de todos.

Com um jogo baseado em trocas de passes, pressão para recuperar a bola, linhas altas de marcação, jogadores trocando de posições e controle dos espaços no campo (“ampliando” o campo quando se tem a bola e o “encurtando” no momento de defender), o time comandando por Rinus Michels fez história mesmo perdendo aquela Copa numa final de altíssimo nível contra a Alemanha. Os holandeses acreditavam que através de um plano tático de excelência seriam capazes de superar adversários superiores tecnicamente. Não por acaso, naquele mesmo mundial, bateram Uruguai, Argentina e Brasil. Com o esquema 4-3-3 que se transformaria em 3-4-3 em determinados momentos de jogo, a Laranja Mecânica chocou o planeta com movimentações fluidas de seus atletas que pareciam estar sempre em maior número que seus rivais; acreditavam que a melhor forma de superar defesas superpopulosas era com ataques superpopulosos, consolidando assim um conceito tão comentado hoje: atacar em bloco. E apesar de contar com um super craque em seu elenco, Johan Cruyff, a Holanda de 74 entendia que as individualidades funcionariam melhor dentro de um sistema coletivo.

Seria esse time, então, o mais influente da história já que 45 anos depois suas ideias continuam totalmente atuais? Talvez. A grande questão é que 20 anos antes da Laranja Mecânica a Hungria também chocou o mundo com conceitos bastante semelhantes – tornando-se inclusive uma das principais influências de Rinus Michels.

Campeões Olímpicos em 1952, os húngaros surpreenderam o planeta mesmo quando venceram a Inglaterra em Wembley, em 1953, por 6 a 3, jogo histórico que marca a primeira derrota britânica no lendário estádio em Londres. O placar foi surpreendente para quem não acompanhava o time húngaro, mas a forma como a equipe comandada por Gustav Sebs bateu a Inglaterra tornou o triunfo ainda maior. O show em Wembley escancarou ao planeta bola um novo jeito de jogar futebol para a época.

O estilo húngaro era baseado na troca de passes, movimentação com muita velocidade, troca de posições e muitas infiltrações. Atuando no sistema 4-2-4 – no momento em que a tática mais aplicada ainda era o W.M – o time de Sebs utilizava, por exemplo, um centroavante que atuava praticamente como meia-armador, Hidegkuti, que gerou uma imensa confusão na cabeça dos ingleses que viam o camisa 9 no meio campo, abrindo espaços para jogadores que vinham de trás e ocupavam a região mais próxima do gol.

Curiosamente o grande time húngaro, com o incrível Puskas – que naquele time de ocupação de espaços atuava em todos os lugares do campo –, assim como a Holanda de Cruyff, também não ficou marcada na história pelo título. A exemplo da Laranja, os húngaros também chegaram até a final de uma Copa do mundo, em 1954, e saíram derrotados também pela Alemanha.

Desse modo, a Holanda de 74 é filha da Hungria de 54, assim como o Barcelona do Guardiola é neto da Hungria, é o que destaca o comentarista da rádio Bandeirantes Claudio Zaidan.. “Da mesma forma que o Ajax e a seleção holandesa tiveram a influência da Hungria, portanto do Honved (clube húngaro), acho que tem muito a ver com o fato de ter a televisão. O mundo viu a Holanda de 74 e algumas pessoas viram a Hungria de 54”, lembra Zaidan.

Confira a entrevista de Zaidan ao canal Dois Mil e 2

“Talvez a influencia (de Holanda e Hungria no futebol atual) seja a mesma”, afirma Zaidan destacando que a presença das transmissões ao vivo na década de 70 certamente serviu para disseminar o estilo holandês até os dias atuais.

“Tudo que a gente vê hoje, de certa forma, bebe nessa fonte da Holanda. Só faço questão de ressaltar que a Holanda também bebeu em outras fontes”, completa Zaidan que lembra que o Brasil de 1970 também influenciou a Laranja Mecânica que encantou o mundo quatro anos depois do tricampeonato verde e amarelo – mas isso é tema para outro texto, talvez.

Independente de qual das duas equipes tenham sido mais influentes na história do esporte, Hungria e Holanda consolidaram ideias, conceitos, esquemas táticos que ultrapassam décadas e mostram que o futebol não vive só de títulos.

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