Um se chama Musashi Suzuki, nome japonês, mas tem pele e ginga boleira dos negros da América Latina. Outro tem nome mais estranho ainda, Souleymane Coulibaly, tem o faro de gol dos artilheiros históricos. Um tem 17, o outro 16 anos.

De origem jamaicana, filho de mãe nipônica, o garoto Musashi vem se revelando o craque da seleção do Japão na Copa do Mundo sub-17, jogada no México. Na sexta-feira, 24 de junho, foi o destaque nos 3 x 1 sobre os meninos da Argentina.

Já considerado um forte candidato à sucessão de Didier Drogba, Coulibaly destroçou a defesa do Brasil, no domingo, fazendo três gols e assumindo isoladamente a artilharia da copinha, tendo agora oito tentos, todos os marcados pela Costa do Marfim.

Nascido na Jamaica, terra do seu pai, em 1994, Suzuki começou a brincar com bola na localidade de Montego Bay, em Saint James, na bela ilha de Bob Marley. O coração do garoto se divide entre as duas pátrias, mas a mãe garante que pende mais para o Japão.

O menino marfinense tem arranques dignos dos áureos tempos de Ronaldo Nazário ou Batistuta, um senso de oportunismo de jogadores experientes, como no segundo gol diante da seleção brasileira, quando enfiou-se na zaga e tirou o goleiro num toque.

O jamaicano-japonês tinha quatro anos na Copa de 1998 quando as seleções das suas duas pátrias se enfrentaram em campos franceses. Ainda falava o dialeto "patois?, presente em boa parte do Caribe, mas agora é fluente em "nihongo?, o idioma do Japão.

Os gols de Drogba na Europa encantaram a infância de Coulibaly, que se espelhou no maior ídolo do seu país para enveredar pelos campos do futebol. Nem era ainda juvenil e foi levado pelo Siena, da Itália, que tem agora os direitos do seu passe.

Musashi sentiu uma emoção diferente no México quando as seleções japonesa e jamaicana se enfrentaram na primeira fase do Mundial sub-17. Por prurido psicológico, o técnico dos "samurais azuis? só colocou o rapaz em campo no segundo tempo.

Segundo o diário esportivo As, da Espanha, os olheiros do Real Madrid estavam no estádio mexicano quando o jovem marfinense marcou quatro gols na Dinamarca, levando sua seleção a uma extraordinária vitória após começar perdendo.

O negro do Japão começou a chamar a atenção da mídia, não só pela cor da pele no meio de amarelos, quando enfrentou a França, considerada uma das favoritas a levar o título. Musashi foi um dos melhores em campo e ajudou seu time no empate de 1 x 1.

"Não sei o que me reserva o futuro. Agora só penso em dar o meu melhor neste Mundial e ajudar a Costa do Marfim?, diz o garoto artilheiro, definitivamente já na alça de mira de grandes clubes como o Real Madrid, que também olha Suzuki.

Com 1,84 metro, Musashi Suzuki demonstra habilidade de brasileiros e argentinos e tem um chute com a potência de volantes europeus. A grande partida contra a Argentina atraiu fãs nas cidades japonesas e provocou manchetes efusivas na Europa.

Os olheiros do técnico José Mourinho haviam dito que o desempenho de Coulibaly diante do Brasil seria determinante para definir o interesse merengue. Sairam do estádio maravilhados com a postura do garoto e, principalmente, com os três gols.

Na Espanha, um jornal estampou a foto de Musashi sobre uma chamada em letras garrafais com um batismo que promete pegar, "O Samurai Negro?. No México, a torcida deu a Coulibaly tratamento de toureiro afro, gritando olé contra o Brasil.

Dois meninos negros, que experimentam no talento dos seus pés a perspectiva de uma odisséia ludopédica que já consagrou o brasileiro Pelé, o moçambicano Eusébio, o equatoriano Spencer, o camaronês Eto?o e o marfinense Drogba, entre tantos.

Que os deuses do futebol, por vezes mais magnânimos e compadecidos do que os deuses das religiões, protejam a carreira de Mushasi Suzuki e Souleymane Coulibaly. Que eles encontrem logo o caminho da glória que já se abriu para um outro menino chamado Neymar.

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