É uma figura imponente, postura rija, membros musculosos como o de um fisiculturista e o caminhar ereto como se fosse uma estátua de marfim que acabara de ganhar movimento. O sorriso vem fácil, um contraste do que se espera de um homem que pratica exercícios e treinos para lutas. Marcos Moreno, o "Bollacha? (sim, com dois "L?s), é uma das figuras mais carismáticas no mundo das lutas do Brasil.
 
No ano de 2007, fez sua primeira ? e única ?  luta de MMA. Era apontado como um futuro Mark Kerr tropical. Proficiente no wrestling ? escola pouco difundida no Brasil ? e faixa-preta de jiu-jítsu enfrentou na sua estreia Cassiano "Tytschyo? de Freitas, oriundo do muay thai. Acabou finalizado por uma chave-de-braço no segundo assalto. O rival havia batido antes o japonês Makoto Endo, então seu colega na equipe Lótus de São Paulo.
 
Quando questionado o que lhe faltou para vencer o embate é direto: "vergonha na cara, muita gente me pergunta isso, mas eu era inexperiente demais. Estava acostumado a lutar greco (romana) e jiu-jítsu e sabia dosar meu estresse e ansiedade para essas modalidades, mas nada me preparou para entrar no MMA. Aquilo é como pular de paraquedas e nada te prepara para aquilo. O Show e todo contexto influenciam demais?.
 
Na concentração para a luta saiu com um amigo e foi a um bar relaxar. Antes do confronto comeu até feijoada passando pela mesa de frutas com 6 bananas e quase uma melancia inteira. Tinha uma fome enorme, pois perderá quase 12 kgs para bater o peso.
 
No primeiro round se impôs diante de Tytschyo e parecia que levaria a vitória. Mesmo estreando, quando subiu ao ringue ao som de DMX a plateia gritava seu apelido: "Bollacha, Bollacha, Bollacha!?. Foi na caminhada que sentiu o peso de um duelo de MMA e no segundo assalto o que sentiu foi a aceleração de seus batimentos cardíacos. A tontura tomou sua cabeça e o oponente o braço.
 
Ambos foram para o vestiário. No ringue parecem colossos imbatíveis, mas passada a cortina saem os personagens e sobram os atores, os seres humanos. Ambos sentiam não só as pancadas, mas o estresse do combate e também o cansaço de todo treinamento e do trabalho para lutar na categoria definida.
 
"Me lembro que no vestiário fiquei quase 40 minutos deitado e achando que ia morrer, até meu bom amigo Fábio "Negão? (Nascimento) me levar pro chuveiro e falar para botar a janta pra fora. Cara! Saiu um caminhão de dentro de mim. Nunca vou me esquecer de uma celebre frase que o Fabio me disse: ?você veio lutar um vale-tudo, comeu até torresmo e ainda queria ganhar???. Bollacha ri ao lembrar daquele momento e completa "mas valeu a experiência?.
 
A vivência com lutas se deu muitos anos antes do ground?n?pound ou das batidas de DMX. Aos 6 anos a mãe o colocou no caratê, era hiperativo, mas não se adaptou. "Não gostava muito desse lance de bate-e-sai, kata...? ficou até os 10 anos no estilo shotokan, mas o menino de classe média alta ia apenas para "cumprir tabela?.
 
Construindo um império com dois "L?s
 
Aos 14 resolveu construir um império, este domínio era seu corpo. "Queria ser o cara mais forte do mundo?, ele é admirador de nomes como Franco Columbo, Serge Nubret, Lou Ferrigno e Arnold Schwarzenegger.
 
A dieta era composta por 30 claras de ovo por dia, cruas, e 1,5 kg de peito de frango. "Eu cheirava a pena de galinha? (risos). Na balança bateu 145 kg e teve 62cm de braço fora de temporada. Recorda que pelo porte chamava atenção até dos cães da rua.
 
"Mas passei mal, fui parar no hospital de tanto anabolizante que eu tomava para manter este patamar de monstruosidade?, relata com sinceridade. No meio esportivo muitos atletas usam substâncias para melhorar o rendimento, afinal exames antidoping são caros, entretanto poucos destes esportistas assumem a ingestão destas substâncias. A história não sai de sua boca como uma lição de moral daqueles programas televisivos nas tardes de domingo com música de arrependimento ou os policialescos com um locutor narrando uma história de terror. Ela vem de Bollacha com a naturalidade, portanto mais sincera. Até ri quando lembra que fazia "robozinhos? com as caixas vazias das "bombas? e da gaveta que mantinha um "arsenal atômico?. Deixou este estilo de vida em respeito aos país, ficou menor, mas não um "frango?, nunca mais foi menos do que um peso-pesado.
 
O sensei Gilberto "Giba? Cardoso o notou e chamou-lhe para sua equipe de jiu-jítsu, pensava em projetá-lo na categoria pesadíssimo. "Era isso ou bodybuilding e eu não gostava do fato de usar sunga cavada e já estava cheio de comer frango e ovo?, apesar da declaração humorada, é este esporte que o acompanha até hoje e lhe abriu portas inclusive para ter sua própria renda, poucos jovens da classe média alta paulistana têm independência financeira dos pais antes dos 30 e Marcos é um deles.
 

Nesses tempos de 20 e poucos anos conheceu Fábio Negão, seu irmão de lutas até hoje, que o conduziu ao wrestling e lhe disse "aqui você pode fazer força a vontade?. No Centro Olímpico encontrou o técnico Edson Kudo que também o encorajou. O treino era puxado em técnicas e preparo físico, participava das duas modalidades: greco-romana e estilo livre.
 
Viajou com o Kudo Team pelo Brasil se apresentando em praias, grandes ginásios e shopping centers. O sonho era disputar uma edição dos Jogos Olímpicos, mas o Brasil é carente de investimentos privados e públicos nesta modalidade. Hoje Bollacha se sente triste ao saber que a mesma pode deixar o palco principal.
 
Posteriormente passou a treinar também muay thai visando o MMA. "Minha paixão sempre foi o jiu-jítsu?. Os colegas partiam para o novo esporte e alguns até fora do país estavam. O amigo Renato Branco lhe convidou para treinar com o sensei Barbosa.
 
"Fui meio descrente, mas quando falei a primeira vez com o ?Barba? percebi que aquele cabeçudo era um ser humano fantástico e lembrou muito meu pai e vi que sua equipe vivia o jiu-jítsu?. Já era faixa preta há três anos e tinha orgulho de nunca ter sido finalizado de quimono desde então, mas no primeiro "rola? na nova casa Murilo Santana pegou seus dois braços. "Me senti um faixa branca?. O espaço tinha seus colegas de campeonatos de jiu-jítsu e wrestling. Adotou e foi adotado e em seis meses entrou no ritmo do novo clã.
 
O jogo de Bollacha era aproveitar de seu porte e fazer força, diferente do que pregava Hélio Gracie. No tatame novo escutava muito "Bollacha, para de fazer força?, até que o mestre chegou e lhe disse "quem tem motor tem que acelerar, faça força na hora certa?. Seu jogo mudou e hoje é "mais eficiente?.
 
Antes desta disciplina pode ser dito que não era santo. Nos anos 1990 até início de 2000, o ambiente do jiu-jítsu brasileiro lembrava o agreste nordestino do coronelismo com seus jagunços. O apetite do grappler não era só por carne branca, mas também adrenalina e até mesmo violência. Não agredia pessoas mais fracas, mas entrava em brigas para defender amigos.
 
Formado pela USP (Universidade de São Paulo), a melhor da América Latina, em Educação Física conseguiu "escapar? do desejo do pai que fosse para Engenharia ou Medicina em busca de dinheiro. Mas nesta fase da vida, as baladas parecem gritar o nome de cada um.
 
Virava noite e vencia torneios ou até mesmo de ressaca e isto lhe dava confiança. "Andava com os caras certos para fazer coisas erradas?. Certa noite brigou em uma badalada casa noturna da capital.  Recorda de ter apanhado de muitos seguranças, segundo seu relato "uns 30?, para defender um amigo que mexeu com a mulher de um deles. Lembra até de terem atirado em sua direção três vezes. Seu rosto ficou deformado. Outra briga foi numa micareta e a confusão foi capa de jornal. Hoje até ri com estes relatos, mas os dias de selvageria ficaram para trás. Hoje exige que seus alunos sejam "exemplos de conduta? até por ter visto onde as brigas podem levar.
 
Hoje mantém a equipe Bollacha Grapplers na qual ensina jiu-jítsu mesclado com movimentos de wrestling. Ficou um tempo fora por lesões e voltou a ministrar aulas há um ano. Seu espaço possui um quadro de professores.
 
Vê o MMA atual como maior profissionalismo e defende que está virando esporte nacional. "Nossa seleção do UFC nos dá mais orgulho que os canelas secas do futebol?. A modalidade passa no horário nobre da TV Globo e gerou ídolos para o país que antes os via como selvagens.
 
Entre tombos e tiros manteve seu sorriso, mas a morte de um amigo e aluno junto com uma lesão no ombro o afastaram do quimono e tatame. Perguntado se acredita em um retorno ao MMA mesmo aos 34 anos alega que se voltar ao ritmo pode ir para um segundo combate, então dá um ligeiro sorriso e revela "eu luto pensando que tenho 18?.
 
 
He is an imponent figure, straight stance, muscular members like a bodybuilder and the erect walk as if he was a marble statue that just got alive. His smile comes easily ? a contrast of what is expected by a man who practices fighting exercises. Marcos Moreno a.k.a "Bollacha? (Portuguese for biscuit ? the original form has only one "L?) is one of the most charismatic characters in the Brazilian fighting world.
 
In the year of 2007 he made his first ? and only ? MMA bout. He was pointed forehand as a future tropical Mark Kerr. Proficient in wrestling ? a style which is not popular in Brazil ? and a black belt in Brazilian Jiu-Jítsu he faced in his debut Cassiano "Tystchyo? de Freitas who hails from muay thai. He ended submitting to an arm-lock in the second round. The rival had beaten before the Japanese Makoto Endo who at the time was his teammate at Lotus Team from São Paulo.
 
When asked what was the factor that didn?t got him the win he goes to the point: "I?m ashamed of that. Many folks ask me this. I was too much inexperienced. I was used to compete on Greco (Roman) and jiu-jítsu and knew how to dose the stress and anxiety for those sports but nothing got me ready to enter in MMA. That is like jumping with parachutes and nothing prepares you for that. The show and the whole context play a lot of influence in that?.
 
During the concentration camp hours before the match he went out with a friend to relax in a pub. Right before the confront he ate feijoada ? a heavy Brazilian meal made of black beans and pieces of pig ? and got through the table of fruits with six bananas and almost a whole watermelon. He was really hungry because he had to lose 12 kg to be in the weight division.
 
In the first round he imposed himself on Tytschyo and it seemed he would get the big "W?. Even it was his debut attendance shouted his nickname "Bollacha, Bollacha, Bollacha!? while he came with DMX was pumping in his entrance. It was walking down the aisle that he knew the pressure of a MMA duel and in the second round he felt the speeding of his heartbeat. The dizziness took over his head and the opponent his arm.
 
Both went to the locker room. In the ring they looked like unbeatable colossus but after the curtain call the characters leave and the actors are left ? the human beings ?. Both felt not only the strikes but the stress of the combat and also the fatigue of the whole training and the work to be at the right weight.
 
"I remember that in the locker room I stayed almost 40 minutes laid and thinking I was going to die then my good friend Fábio "Negão? (Big Black Man) Nascimento took me to the shower and told me to get the diner outside me. Man! It was like a truck getting out of me. I?ll never forget the memorable quote Fabio told me: ?you came to a vale-tudo fight, ate pig meat and even after that you wanted to win???. Bollacha laughs when reminding this and finishes "but the experience was worthy?.
 
Life in fighting game came much before the ground´n´pound or the beats of DMX. When he was 6 years old his mom took him to karate classes. He had hyperactivity diagnosed but he didn?t adapt to the style. "I didn?t like much this hit´n´run thing, kata?? he stayed in the shotokan style until he was 10 years old. The upper medium class boy went there just because of obligation.
 
Building an Empire with two "L?s
 
When 14 years old he decided to build an empire and this domain was his body. "I wanted to be the strongest guy in the world?. He is an admirer of names like Franco Columbo, Serge Nubret, Lou Ferrigno and Arnold Schwarzenegger.
 
The diet was composed of 30 raw  egg whites for day and 1,5 kg of chicken chest. "I smelled chicken feather? (laughs). In the scale he hit 145 kg and had 62cm of arm during off-season. He recounts that because of his size even dogs stared at him in the streets.
 
"But I got ill and ended in the hospital because I abused steroids to keep this level of monstrosity?, tells with sincerity in the eyes. In the sports environment many athletes make use of substances to enhance performance as anti-doping exams are expansive however few of those sportsmen assume that they take such substances. The story doesn?t come out from his mouth as a moral lesson like one of those popular TV shows during Sunday afternoons with soundtrack of redemption or the cop shows with the announcer narrating it with a voice of terror. It comes from Bollacha in a nature manner therefore more truthful. He even laughs when reminds the "little robots? he made of the empty boxes of the "juices? and the drawer where he left the "atomic arsenal?. He left this lifestyle behind in respect of his parents. Got smaller too but never became a "chicken? (Brazilian slang for thin man). He never became less than a heavyweight.
 
Sensei Gilberto "Giba? Cardoso noticed his potential and called him for his jiu-jítsu classes. He was thinking of making him a superheavyweight. "It was this or bodybuilding. I didn?t like those mini speedos and was also tired of eating egg and chicken?, beside the humorous declaration this is the sport that embraced him and opened doors including to have his own income. Few youngsters in São Paulo?s medium class are independent from their parents before hitting 30?s and Marcos is one of those.
 
During his early 20?s time he met Fábio Negão, who still his brother-in-arms, and took him to wrestling training and told to him "here you can put your strength at your will?. In the Olympic Center of Training in São Paulo he met the coach Edson Kudo who also encouraged him. The training sessions were hard in techniques and physical preparation. He was there for both disciplines: Greco-Roman and Freestyle.
 
He travelled with Kudo Team through Brazil presenting wrestling at beaches, big gymnasiums and malls. His dream was to compete at the Olympic Games but Brazil is poor of private and public investments in this sport. Today Bollacha feels sadness because wrestling may leave the main event of sports.
 
Later he started to train also muay thai envisioning MMA but he "always loved jiu-jitsu?. The colleagues went to the new sport and some even got out of the country. His friend Renato Branco invited him to train under sensei Barbosa.
 
"I went there unbelieving but when I spoke for the first time to ?Barba? (short for Barbosa) I noticed that bighead was a fantastic human being and reminded me of my dad and then I saw that his squad breathed jiu-jitsu?. He was already a black belt for three years and was proud of never submitting using gi since then but in his first day in the new house Murilo Santana took both of his arms. "I felt like I was a white belt?. The area had his peers from jiu-jitsu and wrestling tournaments. He adopted and was also picked by them and after six months he got in the shape of his new clan.
 
Bollacha?s game was based on his size and strength different of what preached Hélio Gracie. In the new mat he heard a tons of time "Bollacha, stop putting strength? until his master got to him and told "who has a motor has to speed but put strength in the right time?. His game changed and today is "more efficient?.
 
Before developing discipline it can be said that he wasn?t a saint. In the 1990?s and early 2000?s the environment of BJJ was like the far-west with landowners and cowboys. The grappler?s appetite was not only for white meat but also for adrenaline and even violence. He didn?t beat the weak but engaged in brawling to defend his cohorts.
 
Graduated in USP (University of São Paulo) ? the best in South-America ? in Physical Education course he could "escape? the wish of his father to go to Engineer or Medicine in search of money. In this stage of life the nightclubs seems to scream the name of each young player.
 
He didn?t sleep at night and was winning tournaments even with hangovers and this gave him confidence. "I hanged with the right guys for getting into wrong things?. One night he got into a fight in a famous club in the city of São Paulo. He recalls getting a beating by security staff and based on his accounts it was "about 30 guys?. He was defending his friend who was flirting with the girl of one of them. He reminds that there were three gun shots at his direction. After the beating his face got deformed. Another brawl that he was in was at a micareta ? a sort of carnival party ? and the mess went to the newspaper covers. Today he laughs of those stories but the days of wilderness are behind. Today he expects that his students to be "example of behavior? as he saw where brawling can take a man.
 
Today he has the Bollacha Grapplers team where he teaches jiu-jítsu assembled with some wrestling moves. He was out of the board sometime because of injuries and got back at teaching a year ago. His space also counts with another coaches.
 
He sees the MMA of today more professional and defends that it is becoming a national sports. "Our national squad at UFC gives us more proud than those thin legs of soccer?. The sport is showed at prime time in Globo TV ? the biggest in Brazil ? and created idols for the country which saw them before as caveman.
 
Between the falls and shots he kept his smile but after the death of a friend and student and an injury in the shoulder he got a time from the gi and the mat. Asked if he believes in a return to MMA even at 34 years old he says that if he gets the rhythm for a second match he can make comeback and then he gives a flashy smile and tells "I fight thinking I?m 18 years old?.
Crédito das fotos: Marcos "Bollacha" Moreno
Imagem: @CowboySL