O mais popular movimento cultural do Brasil, lançado pela geração de Roberto Carlos no limiar da década de 1960, no rastro do sucesso mundial dos Beatles, não foi feito apenas de cantores e músicos. A Jovem Guarda foi um guarda-chuva para tudo.

O mais popular movimento cultural do Brasil, lançado pela geração de Roberto Carlos no limiar da década de 1960, no rastro do sucesso mundial dos Beatles, não foi feito apenas de cantores e músicos. A Jovem Guarda foi um guarda-chuva para tudo.

O mais popular movimento cultural do Brasil, lançado pela geração de Roberto Carlos no limiar da década de 1960, no rastro do sucesso mundial dos Beatles, não foi feito apenas de cantores e músicos. A Jovem Guarda foi um guarda-chuva para tudo.

Além de artistas como Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Eduardo Araújo, Renato e Seus Blue Caps, entre tantos, havia também os heróis esportivos do povo brasileiro: Pelé, Eder Jofre e um garoto de cabelos lisos e louros.

A então jovem TV nacional tinha como um dos programas campeões de audiência as lutas de "telecatch?, que superavam facilmente qualquer transmissão de futebol, ainda não inserido no hábito dos telespectadores. E o rei da luta livre era Ted Boy Marino.

O galego boa pinta, nascido na Itália e criado na Argentina, conseguiu levar para os ringues não apenas seu talento na técnica do "wrestling?, mas também incorporou os arquétipos de uma moda que se espalhava pelo planeta como rastilho de pólvora.

Ted Boy, com seu nome de radialista de rock ?n? roll, era um legítimo representante da cultura do Iê, Iê, Iê massificada na mídia e no mercado pelo jovem rei Roberto Carlos e seus muitos súditos. A estampa do lutador seguia o modelo dos garotos de Liverpool.

O cabelo em corte franjinha e alourado era um misto de Beatles e The Monkees, a banda americana que copiou a inglesa e fazia sucesso na TV com um seriado do tipo sitcom. A foto na capa da revista O Cruzeiro (maio/1967) comprova o enunciado.

O jovem Mário Marino (seu nome de batismo) atraía as garotas aos ringues com o mesmo toque de sex appeal dos ídolos musicais daqueles anos. Seus combates contra grandes lutadores, como Rino e Fantomas, paravam o país na tela da TV Excelsior.

E se os maiores ícones da juventude tinham direito a programas de auditórios, como Roberto, Erasmo, Simonal, Ronnie Von, Jair Rodrigues e Elis Regina, também Ted Boy ganhou o seu. Ao lado da loura Célia Biar, apresentou "Oh, que Delícia de Show?.

Frequentava constantemente as principais revistas do Brasil como uma celebridade inconteste. Na Revista do Esporte, a mais importante do futebol brasileiro até 1969, somente ele, Éder Jofre e Carlson Gracie apareciam entre as páginas de jogadores.

A popularidade o levou para perto da dupla Renato Aragão e Dedé Santana, compondo o primeiro time do que viria a ser Os Trapalhões. O filme "Dois na Lona?, de 1968, provocou filas dois anos depois na calçada do Cine São José, no bairro das Quintas.

Ted Boy Marino foi um dos grandes heróis da minha geração; décadas antes do termo "crossover? aparecer nos quadrinhos, eu o misturava nas fantasias com meus heróis das revistas, como se ele habitasse o mesmo universo de Tarzan, Superman e Batman.

Eu costumava adaptar os bonecos do Forte Apache como sendo minhas personagens favoritas de HQ, usando retalhos de tecidos que pegava nas gavetas da máquina de costura da minha mãe. As brincadeiras eram um arremedo de teatro de bonecos.

Uma vez improvisei uma aventura em que Tarzan contou com a parceria do astro do telecatch para resgatar na misteriosa cidade de Pal-U-Don a bacia de Pilatos que dava poderes para acabar o mundo. Até hoje não sei por que a tal bacia surgiu no contexto.

Nos álbuns de figurinhas da Jovem Guarda, que guardo com zelo no meu acervo, estão lá as estampas de Ted Boy Marino dividindo o glamour dos anos dourados com Wanderley Cardoso, Vanusa, Ronald Golias, Agnaldo Rayol, Deno e Dino, Ed Wilson.

Sua morte, ontem, repete o ritual triste do apagar de um tempo romântico do país e ingênuo na TV, mas que foi fundamental para a construção daquilo de bom que a cultura nacional ainda tem. O faz de conta da luta livre tinha a arte que o UFC não tem.

Figuras como Ted Boy representavam o encontro do teatro, do circo com o esporte, por mais que na época enfrentassem a crítica feroz do mestre do jiu-jitsu, Hélio Gracie, que acusava o telecatch de ser uma farsa que prejudicava a atividade esportiva e marcial.

Mas na fantasia dos seus golpes de araque, nas voadoras no pescoço dos parceiros, ele incutia no imaginário nacional o prazer de um entretenimento saudável. Há muito que o povo brasileiro necessita encontrar no esporte e nas artes um pouco de riso e idolatria.

Quem viveu ou percebeu a época da Jovem Guarda entende o vazio que deixa um ídolo daqueles anos. E se há um menino feliz no homem que sou hoje, devo às experiências míticas da infância e aos caras como Ted Boy Marino, um herói lúdico do meu tempo.

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Imagem: @CowboySL

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