Fábio Piperno (twitter @piperno)
A despedida de Guadalajara foi um adeus emotivo. A cidade mais brasileira fora do Brasil estava para sempre na rica história da seleção. A escala na capital seria rápida e, muito provavelmente, seria eternizada com a definitiva conquista da cobiçada Jules Rimet.
No primeiro treino na Cidade do México, a comissão técnica poupou Gérson. Nas conversas com os jogadores, o dublê de preparador físico e espião Carlos Alberto Parreira forneceu várias informações sobre as observações que fez da Azzurra. Alertou, sobretudo, que a seleção deveria ter atenção redobrada com os chutes de fora da área de Riva, Boninsegna e Domenghini, todos titulares indiscutíveis de Zio Uccio. Por sinal, o primeiro foi pivô de um sórdido boato que provocou fúria entre os italianos. Notícias que começaram a circular pela capital mexicana indicavam que Riva teria sido apanhado em um exame antidoping. Mentira pura, a fake news se rviu apenas para esquentar os bastidores em véspera de final de titãs. O craque estaria em campo na final, certeza que faltava a Rivera, um dos grandes heróis da épica semifinal contra a Alemanha.
No Brasil de time definido e conhecido, a única dúvida era de natureza metereológica. Na véspera, um temporal caiu sobre a capital mexicana e havia ameaça de mais chuva para o momento do jogo. Caso a previsão se confirmasse, Félix usaria luvas na decisão. Não foi preciso que São Pedro colaborasse. Durante a peleja, nenhuma gota foi despejada do céu, mas de forma sensata o goleiro brasileiro acabou utilizando o acessório. Para a ocasião de gala, Brito decidiu mudar o visual e tirou a barba. E no Rio de Janeiro, com as vendas de jornais batendo recordes por conta do sucesso da cobertura da Copa, vários anunciantes utilizavam o mundial como mote para as mais variadas campanhas. O metr&oc irc; do Rio de Janeiro chegou a publicar um anúncio com o título “O Buraco que faltava”, em que convidava a população para prestigiar o lançamento das obras para a primeira linha a ser construída na cidade.
Na chegada ao gramado, o Brasil alinhava o mesmo time titular que havia atuado na estreia e na semifinal. A grande decisão seria apenas o terceiro e último jogo de um time que se tornaria referência histórica. Já a oponente Itália iniciaria novamente com Sandro Mazzola como titular e Gianni Rivera no banco. A Azzurra de Valcareggi era praticamente um combinado Inter-Cagliari, naquele momento os melhores times italianos. Defendiam a esquadra de Milão Burgnich, Facchetti, Bertini, Mazzola e Boninsegna. Eram jogadores do clube da Sardenha, campeão da temporada 1969-70, Albertosi, Cera, Domenghini e Riva. Eles teriam a companhia de Comunardo Niccolai se o vigoroso zagueiro do Cagliari não tivesse se contundido aos 37 minutos da p artida d e estreia, quando foi substituído por Rosato, jogador do Milan. Por sinal, aquela alteração forçada foi a única mudança que o conservador Valcareggi fez no time que iniciava as partidas durante todo o mundial. Completava a formação titular o meio-campista da Fiorentina De Sisti.
Na véspera, Parreira exibiu para os jogadores os slides da semifinal vencida pela Itália. Ele chamou a atenção para a marcação individual da Azzurra e observou que Facchetti tentaria acompanhar Jairzinho para onde o Furacão fosse. Arguto, Zagalo preparou a cilada, que o mundo aplaudiu no quarto gol.
Eram 41 minutos do segundo tempo. O Brasil vencia por 3x1 quando Clodoaldo recebeu passe na intermediária brasileira. Dono de irreverente talento, saiu driblando adversários com a trivialidade de quem torna simples o improvável. Após se livrar de quatro italianos, entregou a bola a Rivellino. Na lateral esquerda, o Canhão da Copa lançou para Jairzinho. Ao se deslocar para a esquerda, o Furacão atraiu a marcação de Facchetti. Com isso, o corredor pela direita ficou livre. Como, aliás, Zagalo havia indicado ao botafoguense. Jairzinho enxergou Pelé centralizado na frente da pequena área e este serviu com a simplicidade dos gênios a um avassalador Carlos Alberto Torres, que avançara no espa&cced il;o vaz io liberado pelo Furacão artilheiro. O disparo foi fulminante e preciso. Insopitável, a bola venceu Albertosi. Em 21 segundos, o mundo assistiu a um espetáculo de técnica, tática e virtuosismo como raramente se viu no futebol. O gol da jogada perfeita!
No dia seguinte, a delegação campeã retornou ao Brasil em um voo da Varig. A empresa aérea obviamente investiu na divulgação da tabelinha com a seleção tricampeã do mundo. Em anúncio publicado nos principais jornais, a companhia destacava que “No voo da vitória, o V da VARIG. Levamos ao México a seleção brasileira e, com maior orgulho, estamos trazendo ao Brasil os tricampeões do mundo”. Título que, aliás, era também a forra do comandante Hugo Pinto, o piloto que havia conduzido a seleção à Inglaterra quatro anos antes!
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