Napoleão de Almeida
Colaboração para o UOL, em São Paulo
A vitória da Ponte Preta sobre o São Bento em Sorocaba, com gol aos 40 minutos do segundo tempo, quase acabou em agressão contra o narrador Carlos Batista, da Rádio Bandeirantes de Campinas. Batista teve de se agachar e se esconder na cabine para narrar o gol da vitória da Macaca, que deixou o São Bento próximo do rebaixamento, tamanha a fúria dos torcedores da equipe de Sorocaba.
"Não fosse os seguranças da Ponte ali, não sei não", contou Batista. "Eu narrei o gol da Ponte, eles ficaram bravos, mas passou. Aí no intervalo veio um torcedor lá e disse "se você não narrar o gol do São Bento igual, você vai ver", disse o narrador, que estava em uma das cabines de imprensa no Estádio Walter Ribeiro. Pela disposição do estádio, as cabines ficam muito próximas das cadeiras onde estavam os torcedores do São Bento.
Quando o time da casa empatou, Batista se viu em apuros. "Só vi um braço esticar na cabine, tentou pegar meu celular, tinha uns 20 caras lá urrando, querendo me pegar. Aí a direção da Ponte estava por ali e como só tinha eu de Campinas, a direção mandou os seguranças lá. Tinha pouco policiamento, tinha um cara lá da FPF que deu uma força, mas a cabine é muito exposta. Tem um vidro, só que a gente não consegue trabalhar com ele fechado por que nós trabalhamos com um microfone sem fio, e se ficar fechado o sinal não passa", contou.
A situação piorou aos 40 minutos. Yuri fez o gol da vitória da Ponte e deixou o São Bento ameaçado de queda, precisando agora de uma vitória sobre o Mirassol na última rodada, além de torcer por derrotas de pelo menos um dos seguintes times: São Bernardo, Santo André, Ferroviária, Red Bull ou Ituano. "Narrei agachado o gol da Ponte, eu sabia que ia dar problema. Tive que me abaixar. Aí soltei o grito de gol", conta Batista. O gol classificou a Ponte para as quartas de final. "Eu falo para Campinas, né? Não narrei igual o da Ponte. Mas, também não desvalorizei", argumenta.
Batista decidiu não tomar nenhuma atitude contra o clube mandante da partida, após sair ileso. "O policiamento chegou depois, o tenente chegou a falar pra fazer o boletim de ocorrência. Eu agradeci, mas decidi não fazer. O São Bento não pode ser penalizado. Não é a torcida do São Bento, é um grupo, um bando de imbecis. Eu estava ali fazendo o meu trabalho. Estava ali credenciado, no meu local de trabalho. Eles não poderiam entrar da maneira que queriam ali. Mas não é a torcida do São Bento. Eles estão brigando contra o rebaixamento e podiam ser penalizados. Eu não vou tomar nenhuma providência."
Procurado, o São Bento se manifestou através da assessoria de imprensa, dizendo repudiar a atitude que "não representa a torcida do São Bento, composta de gente pacífica e muitas famílias". O clube ainda tentava um contato com o narrador para oficialmente se desculpar e emitir uma nota sobre o incidente.
A Federação Paulista de Futebol informou que questionará o São Bento sobre a denúncia e condenou a atitude dos torcedores. "A Federação Paulista de Futebol repudia veementemente as ameaças relatadas pelo radialista Carlos Batista, da rádio Bandeirantes de Campinas, na partida entre São Bento e Ponte Preta, na cidade de Sorocaba. Todo profissional de imprensa tem o direito de atuar livremente dentro de seu espaço dedicado, esteja ele dentro ou fora do seu município de origem. A FPF vai dialogar com a diretoria do São Bento a respeito do caso para que esse tipo de prática não se repita", comunicou a entidade.
Foto: arquivo pessoal