O ápice do Nacional na "era Escobar" foi o título da Libertadores de 89

O ápice do Nacional na "era Escobar" foi o título da Libertadores de 89

Daniel Lisboa e Vanderlei Lima

Colaboração para o UOL e do UOL em São Paulo

A repercussão da série "Narcos" (transmitida pelo Netflix) colocou em evidência novamente a vida do narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Na atração (dirigida por José Padilha), ele é vivido por Wagner Moura. Muito já foi dito e noticiado sobre o criminoso (morto em 1993), como seu histórico de subornos para alavancar o crime. Apaixonado por futebol, o antigo milionário era "patrão" do Nacional de Medellin. E, entre os rumores não comprovados de aliciamento para que seu clube de coração fosse campeão, está uma que envolve um suposto jogo armado em que o Vasco foi prejudicado. A partida teve que ser jogada de novo após o árbitro admitir que foi pressionado.

Veja histórias do futebol ligadas a Pablo Escobar na Colômbia

Goleada salva árbitro

O ápice do Nacional na "era Escobar" foi o título da Libertadores de 89. Na campanha daquele ano, o time venceu o Danubio, do Uruguai, por 6 a 0 nas semifinais. Alguns anos depois, o assistente argentino Juan Bava revelou à imprensa que capangas armados foram até o hotel onde estava o trio de arbitragem e oferecido dinheiro. Bava diz que não aceitou e que a goleada imposta pelo Nacional salvou sua vida por méritos do time colombiano. Mas revelou também que ele disse ao árbitro da partida, Carlos Esposito, que faria ele mesmo um gol caso a partida estivesse terminando sem o clube colombiano à frente no placar.

Vasco na mira de Escobar?

Na Libertadores do ano seguinte, foi a vez de um clube brasileiro sofrer as consequências de jogar na Colômbia naqueles tempos. O Vasco enfrentou o Nacional pelas quartas de final da competição e, depois de empatar no Rio por 0 a 0, perdeu por 2 a 0 em Medellín. Só que o árbitro da partida, o uruguaio Daniel Cordelino, disse à Conmebol que sofreu ameaças antes da partida. Eurico Miranda, já dirigente do Vasco na época, pressionou a entidade e um novo jogo foi marcado para Santiago, no Chile. O time carioca foi derrotado novamente, agora por 1 a 0, mas alguns jogadores lembram bem do clima pouco amistoso da partida na Colômbia.

"Já no aquecimento em campo deu para sentir a pressão, com policiais com cachorros ao nosso lado", disse o ex-lateral Luiz Carlos Winck, que jogou naquela noite. "Não houve um lance capital com influência dele, mas ele estava alterado, vinha para cima da gente sempre. Dava para perceber a pressão pelo resultado favorável ao Nacional", lembra.

O jogo foi remarcado por pressão de Eurico Miranda, hoje presidente do clube e que na época também era dirigente. "Vieram me denunciar que o arbitro tinha sofrido um sequestro-relâmpago e teriam dito pra ele: Vê lá o que vai acontecer. Diante daquele quadro todo, tinha cartel de Medellín no meio, eu tive coragem de denunciar, o árbitro confirmou e foi anulada a partida", contou Eurico, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.

"Depois do jogo, eu não via a hora de ir embora de Medelín. Já havíamos ouvido algo sobre tentarem comprar o árbitro e isso só deixou o clima pior", afirma o ex-jogador. "Aí, graças ao Eurico, conseguimos uma nova partida. Mas, mesmo em campo neutro, existia um certo temor", lembrou Winck. Para ele, no entanto, o resultado da terceira partida foi "honesto".

Já o meia William não esquece o aparato de segurança montado para o Vasco em Medellín. "Era uma coisa muito fora do normal, com soldados armados no hotel. O clima era muito tenso", recorda William, que, no entanto, não recorda se o árbitro teve um comportamento anormal. "Mas, com a tal história do suborno, e a possibilidade de jogar uma nova partida, a chama de tentar a classificação reacendeu", diz o ex-jogador.

Assassinato a árbitro

Assassinato e mala com 150 mil dólares Em seu depoimento à Conmebol, Cordelino disse que lhe fizeram, por telefone, uma oferta de 20 mil dólares para beneficiar o Nacional. E, se restam dúvidas sobre a seriedade das ameaças de Pablo Escobar, basta ver o que aconteceu com o assistente Álvaro Ortega, em 1989. Ele anulou um gol do Nacional em jogo contra um time que tinha apoio de um cartel rival, o América de Cáli. A decisão custou uma derrota de 2 a 1 para o Nacional. Ortega ousou viajar para Medellín para a partida de volta e acabou assassinado a tiros após a partida (que acabou 0 a 0) quando se dirigia a um restaurante.

Wright lembra histórias

O ex-árbitro brasileiro José Roberto Wright conta que não chegou a ser intimidado nas vezes em que apitou na Colômbia. Mas ele tem histórias sobre essa época. "Em um campeonato sul-americano feito na Colômbia, em Pereira, um dos organizadores, que era uma pessoa ligada ao Pablo Escobar, disse que ele tinha muita vontade de me conhecer porque gostava de futebol", revela Wiright, que, no entanto, afirma ter declinado do convite. "Eu na casa do cara, dono do tráfico, o que eu vou fazer? Mas não conversei com ele não."

Wright conta também uma história envolvendo o árbitro argentino Juan Carlos Loustau. "Logo após um jogo do Nacional de Medellín, ele saiu para o aeroporto e, no trajeto, o carro dele foi fechado na estrada. Colocaram uma mala com 150 mil dólares dentro do carro, e o indivíduo que colocou disse que já havia um acordo e, mesmo com o Nacional perdendo o jogo, eles (o trio de arbitragem) não tiveram nada com o resultado".

Imagem: reprodução

Últimas do seu time