Marcel Rizzo
Do UOL, em São Paulo
Para Kylian Mbappé, é um exagero compará-lo a Pelé. Isso já ocorreu após a partida das oitavas de final da Copa da Rússia, quando fez dois gols nos 4 a 3 contra a Argentina, e pode se repetir domingo. Se o francês marcar contra a Croácia, em Moscou, será o mais jovem a fazer um gol em final de Copa do Mundo desde que Pelé anotou duas vezes nos 5 a 2 sobre a Suécia, aos 17 anos e oito meses.
Mbappé entrará no gramado do Luzhniki para a final do Mundial da Rússia com 19 anos e seis meses. Será o terceiro sub-20 a jogar uma final de Mundial, mais velho que, claro, Pelé e que o italiano Giuseppe Bergomi, que em 1982 foi campeão contra a Alemanha aos 18 anos e seis meses.
Lateral, Bergomi não fez gol em Madri naquela noite, portanto depois de Pelé, o mais jovem a anotar um gol em final de Copa do Mundo foi o alemão Wolfgang Weber, autor de um dos gols de seu time na derrota de 4 a 2 para a Inglaterra, em Wembley, na final de 1966.
Aos 22 anos e pouco mais de um mês, Weber, um lateral esquerdo pouco técnico e que passou toda a carreira, 15 anos, no Colônia, fez ali um de seus dois gols com a camisa da Alemanha. Poderia ter colocado seu nome na história, já que empatou um jogo que parecia perdido aos 44 minutos do segundo tempo, mas a derrota na prorrogação diminuiu o seu feito.
Em 2014, o alemão Mario Gotze marcou, na prorrogação, o gol do título de seu país sobre a Argentina. Por causa de seis dias, não foi o mais jovem a anotar em final de Copa desde Pelé: Gotze tinha 22 anos, um mês e dez dias, enquanto Weber, em 66, 22 anos, um mês e quatro dias.
"Parabéns, Kylian [Mbappé]. Marcar 2 gols em uma partida da Copa te coloca em boa companhia! Boa sorte no resto da competição. Exceto contra o Brasil", escreveu Pelé no Twitter após os dois gols de Mbappé contra a Argentina - ainda havia a chance de Brasil e França se cruzarem nas semifinais. Neste jogo ele foi o primeiro adolescente a marcar duas vezes em Copa desde Pelé, justamente na final de 1958.
A precocidade com que alcança números nessa Copa, e claro as boas atuações, fizeram com que as comparações com Pelé começassem. Mais pelas marcas do que pelo estilo do jogo, ou pela possibilidade de um dia se tornar o melhor do mundo ou da história, algo impossível de se prever agora.
Mas a revista "France Football", umas das mais respeitadas mundo afora, não se fez de rogada e colocou na semana passada uma foto de Mbappé e uma antiga de Pelé, de 1958, em gestos parecidos, uma em cima da outra (o francês, claro, em cima).
Na manchete escreveu "o Herdeiro", e depois detalhou que Mbappé pode atingir números que só um jovem Pelé conseguiu. Não crava que ele pode ser o sucessor do brasileiro um dia, mas diz que em 18 meses o atacante passou de reserva do Monaco a titular incontestável da seleção francesa, cotado até para concorrer fortemente à Bola de Ouro se fizer uma final mágica, como Pelé em 58.
"É uma honra ser o segundo jogador depois de Pelé [mais jovem com dois gols em jogo de Copa], mas vamos colocar em contexto: Pelé é de outra categoria. Mas é bom entrar nesta esfera de jogadores que marcam em jogos de mata-mata", disse Mbappé.
Com três gols na Copa, junto com seu parceiro de ataque Griezmann, Mbappé pode chegar a outro feito (e Griezmann também): ser o primeiro francês a ultrapassar três gols num mesmo Mundial desde 1958, quando Just Fontaine anotou incríveis 13 para ser o artilheiro (marca nunca superada, por sinal).
Thierry Henry, a quem inclusive Mbappé é comparado pelo estilo de jogo e por ter começado no Monaco (o que ele não gosta), fez três gols em 1998 e outros três em 2006, mesmo número de Zidane na Copa da Alemanha. Outro a parar na barreira dos três gols foi Kopa, em 1958.
(Foto: Xinhua/Li Ga - retirada do UOL)