Sensação de reverter uma desvantagem é das coisas mais deliciosas do futebol. Foto: Marcelo do Ó

Sensação de reverter uma desvantagem é das coisas mais deliciosas do futebol. Foto: Marcelo do Ó

Escrevo esta coluna da cabine da rádios CBN e Globo na Vila Belmiro. Acabo de narrar Santos 2 x 1 Ceará, pela 26a. rodada do Campeonato Brasileiro. O time de Jorge Sampaoli perdia o jogo por um a zero e arrancou os três pontos no segundo tempo. Cerca de sete mil santistas estiveram por aqui para assistir ao jogo num calor de 25 graus na Baixada Santista, temperatura que subiu ainda mais com a energia que o jogo gerou na etapa final. O futebol é como cachaça, muitas vezes, quanto mais amarga, mais gostosa.

Assim foi a virada santista. Quando o Peixe ofereceu as primeiras doses do jogo ao Vazão, parecia que a noite seria leve aqui na Vila. Até que, num erro de Diego PItuca no meio-campo, Felipe Silva (o “Baixola”) deu um belo passe ao também pequeno Lima. Num balançar de cintura, o atacante tirou Lucas Veríssimo da jogada e bateu colocado, de pé direito, no canto alto de Everson abrindo a lata do mandante por aqui. A dose ficou amarga e o torcedor que chegou atrasado ao estádio Urbano Caldeira ficou apenas com o fundo do copo vazio. O Ceará tomou a primeira dose.

A partir daí os alvinegros da baixada pediram dose extra cowboy (sem gelo) para elevar a temperatura do jogo. Pará entrou no segundo tempo, Jorge em seguida; alterações para jogar o Santos mais à frente. Sampaoli percebeu o time tonto em campo, nervoso como um bonequeiro de primeira viagem, cambaleando perto da área e trôpego nos chutes a gol. Coube ao uruguaio Carlos Sanchez botar ordem nas coisas no terreiro santista. Entre os gigantes, o batalhador Eduardo Sasha pede uma bolinha mais alta na área. O cruzamento vem e, enquanto os zagueiros pousavam, ele subiu e testou no canto esquerdo de Diogo Silva. Desceu bonita a dose do empate e o torcedor cresceu. 

Aqui faço uma pausa. Vencer uma partida de futebol é sempre muito bom, evidente. Golear traz regozijo, alegria incontida e euforia. Bater o adversário por um placar mínimo traz alívio, no entanto, melhor que perder pontos, ainda mais em casa. Sofrer um gol no final com dois a zero a seu favor assusta, mas traz uma adrenalina delirante para o jogo. Mas não há nada como virar um duelo difícil em casa. Sou capaz de afirmar que não há caldeirão de emoções tão temperado do que esse. Foi o que aconteceu aqui. 

Com cinco atacantes, o Peixe não encontrava um caminho para finalizar. Soteldo, Jean Mota, Sasha, Carlos Sanches e Taílson à frente era sinal de delírio de Sampaoli por aqui. Torcida sentiu o momento e começou a cantar. Medo, ansiedade, raiva, irritação, expectativa, paixão, todos os elementos misturados enquanto os caras corriam freneticamente pelo gramado. Veio um zagueiro, de 1,96m, chamado a fazer um “bico” de centroavante por aqui. Outro cruzamento de Sanchez na cabeça de Gustavo Henrique, que nem sabe se ficará aqui em 2020. Foi ele que, abaixando-se, mandou a bola para o gol. Contradições da bola.

A dose desceu quente, o gol foi mais comprido, mais forte e vibrante, misturado ao grito do torcedor aqui na Vila. Do caldo saiu a alegria de uma vitória fundamental para tentar se manter entre os três melhores do campeonato. Difícil descrever a imensidão dos sentidos vividos aqui. No entanto, se fosse presidente da Fifa, decretaria sem pestanejar: gol de virada vale dois em qualquer placar no futebol. Concorda?

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