O UOL Esporte teve acesso à escritura que comprova que José Edgard Galvão, conselheiro fiscal do São Paulo e advogado de José Carlos Peres, presidente do Santos, no processo de impeachment, é dono de uma sala onde está instalada a Hi Talent. A agência de jogadores, que já teve como sócio Ricardo Mauro Crivelli, o Lica, ex-coordenador da base santista e ex-sócio de Peres em outra firma do tipo, teria sido favorecido pela gestão do cartola na Vila Belmiro.
A Hi Talent, que trabalha com jogadores dos quatro grandes clubes do Estado, entre eles Militão, recentemente vendido pelo São Paulo, apareceu nos noticiários na negociação do Santos pelo jovem equatoriano Jackson Porozo, de 17 anos, que foi apresentado por Peres ao Conselho Gestor como "novo Mina". Embora tenha acordado pagar 350 mil euros por 100% dos direitos do jogador, o Santos cedeu 30% de uma futura venda à empresa Hi Talent, sem maiores justificativas, o que foi questionado pela comissão fiscal do clube. A ligação antiga com Lica, comprovada em documentos, aumentou a suspeita (veja aqui)
Peres hoje enfrenta um processo de impeachment no Santos e um dos motivos é justamente sua sociedade com o mesmo Lica na Saga Talent, o que descumpriria o Código de Ética do clube. No caso da Hi Talent, a situação ficou ainda pior na semana passada, quando a Folha de S. Paulo publicou que José Edgard Galvão, advogado de Peres, assinava procurações do mesmo endereço onde está registrada a Hi Talent. A reportagem teve acesso à mesma procuração (veja aqui)
Ao jornal, ele disse que a "coincidência de endereços" é "coisa de papel antigo", que não tem relação com o endereço em questão e que seu escritório fica na avenida Brigadeiro Faria Lima. A escritura obtida pelo UOL Esporte, no entanto, mostra que José Edgar Galvão comprou o imóvel, uma sala de 58 m² no Jardim Leonor, em São Paulo, em dezembro de 2017, por R$ 340 mil (veja aqui, aqui e aqui). O documento, então, reforça a ligação entre Lica, Galvão e Peres, já que o endereço é o mesmo no qual a Hi Talent está registrada (veja aqui)
O envolvimento de um membro de seu Conselho Fiscal fez o São Paulo despertar para o caso. Na última segunda, o Blog do Perrone revelou que um grupo de conselheiros se reuniu para discutir o assunto e checar se Edgar Galvão, que já gerenciou o departamento jurídico do São Paulo, cometeu ato que fere o estatuto.
A Hi Talent hoje é dirigida por Eduardo Brito de Melo e Ulisses Jorge, que em contato com o UOL Esporte não quis falar sobre o assunto. Em julho, a firma fechou a transferência do lateral direito Éder Militão, do Tricolor paulista para o Porto, de Portugal.
A diretoria do time do Morumbi tentou renovar o acordo com o ala diversas vezes, mas não teve êxito. Por isso, a revelação da ligação de Galvão, que é opositor ao presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, com a Hi Talent foi vista de maneira negativa entre os dirigentes. Segundo apurou a reportagem, o presidente do Conselho Fiscal são-paulino, Wanderson Martins Rocha, deve analisar o caso e entregar um dossiê para o Conselho Deliberativo, que tem o poder punitivo.
Consultado, Peres disse que a questão deve ser esclarecida pelo seu advogado. A reportagem tentou entrar em contato com José Edgar Galvão, mas o profissional não foi encontrado até o fechamento da reportagem.
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