Havia apenas 12 anos, ou duas copas do mundo que a seleção brasileira de futebol não chegava ao título máximo. Para o país do futebol era muito. Depois do México, uma passagem sem brilho pela Alemanha, um time sem identidade, ainda que com algumas estrelas. Fomos campeões “morais” na Argentina, e nem é bom lembrar do goleiro peruano Quiroga e da proeza que teve ao levar tantos gols da Argentina.
Pois bem, Telê Santana chegou e montou um verdadeiro esquadrão, uma constelação que se preocupava em jogar um estilo de futebol poucas vezes visto até então. Há muito não discutia tanto o futebol no Brasil. Jô Soares pedia para Telê colocar “ponta”, Serginho não era uma unanimidade no ataque, se falava que queriam transformá-lo em um anjo. No gol, Valdir Perez era questionado, para muitos a vaga era de Leão. Já nas laterais não haviam dúvidas quanto a Júnior e Leandro. Na zaga, Oscar e Luizinho, perfeitos! Dali para frente, Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Eder, Paulo Isidoro ou Dirceuzinho. Que time era aquele!
Na Copa da Espanha eu tinha 13 anos, e a admiração pelo futebol aumentou graças à seleção de 1982. Os bolões que fazíamos no Colégio Nossa Senhora das Dores, na Casa Verde em São Paulo, eram muito mais para saber de quanto o Brasil golearia, já que a vitória era certa. Logo no primeiro jogo, Dasaev da URSS assustava pela sua categoria, mesmo assim vencemos de virada, com direito a dois golaços. Depois veio a Nova Zelândia e Escócia, que passeio, jamais esqueço do golaço de Zico. Chegamos à segunda fase, e logo de cara a Argentina de Diego Armando Maradona e de um monstro no gol, chamado Ubaldo Fillol. Passamos com uma facilidade incrível, a seleção canarinho encantava o mundo, dava espetáculos. O jogo seguinte seria contra a Itália de Dino Zoff e de um certo Paolo Rossi, que mal havia saído de um escândalo da loteria esportiva na Itália.
Nos reunimos na casa do Kico, ele tinha a melhor TV, grande, boa imagem, um cinema na época. O jogo mal começou e Cerezo falhou, Rossi fez, e Luciano do Valle narrou baixinho, sabíamos que em breve o show começaria, veio o empate, Sócrates, um gênio.
Mais uma falha incrível, e lá estava o tal de Paolo Rossi novamente. Nosso time não tinha saída de bola, Cerezo estava muito mal e o meio campo não marcava, a esquadra azurra nos encurralou. Mas o Rei de Roma, Falcão, empatou. Na comemoração parecia que as veias do seu pescoço saltariam, era emoção demais, o empate que o Brasil precisava havia sido conquistado. Mas não, o jogo ainda não tinha acabado e após aquele escanteio, a bola rebatida, gol da Itália. O Brasil deu mais algumas pontadas, Zoff salvou um gol do doutor em cima da linha, não dava mais, o juiz apitou o final de jogo. O Sarriá se calou, o Brasil emudeceu, o mundo se espantou. Me lembro de nós, moleques de 12,13 anos chorando compulsivamente, não acreditávamos naquilo, não era justo, mas o futebol é justo? Estávamos eliminados, o futebol-arte estava fora da Copa das Copas. Naquele dia o futebol chorou e os deuses do futebol nada puderam fazer.
Gustavo Alves dos Santos - nosesportes@gmail.com
No Twitter: @gustavofarmacia
Foto: BOL
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