Foto: Ivan Storti/Santos FC

Foto: Ivan Storti/Santos FC

Não sou ombusman (nos jornais, a pessoa encarregada de criticar, ou elogiar, o trabalho dos jornalistas). Nem pretendo ser, embora alguns coleguinhas já tenham dito por aí que eu faço este papel.

Por isso, por causa do rótulo, relutei em escrever o que penso do tratamento jornalístico que a impresa esportiva, não só de São Paulo, mas do Brasil, dá ao Santos.

É pífio.

Como as emissoras de televisão, de rádio, sites e jornais, hoje, infelizmente, quase extintos, vivem de audiência, o espaço reservado ao Peixe é quase nada.

O argumento, com o qual evidentemente não concordo, é que “o Santos não dá audiência”.

E como audiência é sinônimo de faturamento para as empresas de comunicação, as informações e opiniões sobre o Santos sempre vão para o fim da fila. Já repararam que o noticiário a respeito do Santos sempre entra no final das programas esportivos? É assim que é.

O Santos, na mídia esportiva, vive de migalhas, de sobras.

Dito isso, vamos ao ponto.

Acabei de ouvir – não vou revelar o nome do colega que falou -, que o Santos joga um futebol à moda antiga.

Ressalto que ele não disse isto em tom de deboche, nem de crítica.

Segundo ele, era “até um elogio”.

Os espaços abertos nos programas esportivos para destacar o feito do Santos, classificado para disputar a final da Copa Libertadores da América, dia 30, contra o Palmeiras, são usados para elogiar o Cuca.

Falar que o Cuca fez milagres no Santos virou um cansativo mantra na imprensa esportiva.

Cuca, é evidente, e dizer o contrário seria uma insanidade, tem papel relevante nesta caminhada do Santos rumo à final da competição sul americana.

Assumiu o comando em meio a um caos político e financeiro do clube.

Aparou arestas, fez as vezes de bombeiro, uniu o elenco, deu confiança aos jovens e aos experientes do grupo de jogadores.

Embora às vezes reclame, pedindo reforços – não se esqueçam de que tentou contratar o volante Elias, que acaba de ser dispensado pelo Bahia -, soube entender o momento complicado do clube.

E aqui é bom lembrar que quando foi contratado por José Carlos Peres, presidente afastado por um processo de impeachment, Cuca estava fora do mercado. Não era alvo de nenhum clube para retornar ao trabalho.

Teve o mérito de montar no primeiro cavalo que surgiu à sua frente.

No caminho, o Santos de Cuca foi eliminado da Copa do Brasil pelo Ceará.

E faz uma campanha apenas regular no Campeonato Brasileiro.

Seu objetivo, ele mesmo confessa, era chegar à final da Copa Libertadores da América.

Para isto, além da boa gestão de elenco já ressaltada, é sensato lembrar que contou com jogadores dispostos a passar por cima das dificuldades.

Aos que insistem em apenas enxergar no Cuca as virtudes de um “milagreiro” e um gestor de elenco de admirável, digo para que observem a maneira como o Santos joga.

O futebol do Santos não é à moda antiga.

O Santos mostrou nos dois jogos contra o Grêmio e Boca Juniors, que tem um esquema tático condizente com o que o futebol de hoje exige.

Este time do Santos marca forte - onde está a bola e um jogador adversário, estão dois ou três jogadores do Santos -, tem jogadas em velocidade pelos lados e, o mais importante, não é vulnerável no esquema defensivo.

E neste aspecto, o trabalho de Cuca goleia Jorge Sampaoli, tão elogiado por ter levado o time santista ao vice-campeonato brasileiro do ano passado.

Quando Sampaoli era o treinador santista, era comum ouvir na mídia que ele “fazia milagres, com o elenco fraco que tem às mãos”.

O elenco do Santos não era fraco em 2020. Em 2021, depois de perder, Gustavo Henrique, Jorge, Everson, Victor Ferraz e Eduardo Sasha, se fortaleceu, graças à efetivação de jovens promessas, como Kaio Jorge e Sandry, para ficar em dois exemplos.

E este é mais um ponto positivo no trabalho do Cuca.

Cuca não é só um “herói”, por ter passado por cima de tantos problemas e levado o time à final da liberta.

O Santos não pratica o “Cucabol”, jogo de bolas alçadas sobre a área adversária, conforme cravou em sua coluna um colega. Enxergar jogo de bolas alçadas no esquema do Cuca é, no mínimo, uma maneira caolha de analisar futebol.

O Santos de Cuca é tão inovador e moderno quanto o foram o Flamengo de Jorge Jesus e o próprio Santos, de Jorge Sampaoli.

A vantagem sobre JJ é enorme, pois Cuca não tem as estrelas que foram colocadas à disposição do técnico português.

E é imensa em relação a Jorge Sampaoli, que fez do Santos uma equipe vulnerável em muitas ocasiões, como nas goleadas que sofreu para o Palmeiras, Ituano e Botafogo de Ribeirão Preto.

Cuca é muito mais do que um milagreiro.

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