O diálogo entre um corintiano e um são-paulino, salvo raras exceções, normalmente acontece assim: quantos títulos da Libertadores você já comemorou, questiona o tricolor? E quantos Mundiais?
Ao que o corintiano imediatamente responde: de que adianta ter três se nós somos maiores, aparecemos mais na mídia, temos muito mais torcedores e somos mais apaixonados.
A discussão levanta paixão. E é absolutamente saudável.
Não fosse assim, estádios não encheriam, cotas de direitos de TV valeriam pouco, e os profissionais de marketing iriam procurar outros produtos para introduzir seus conceitos que não o futebol.
No entanto, nos últimos anos, esta rivalidade paulistana iniciada em 1936 com vitória corintiana no Parque São Jorge ganhou contornos bélicos, a ponto de preocupar autoridades (o clássico é apontado como o mais violento do Estado pela polícia) e armar espíritos até então pacíficos.
Discussões que deveriam começar e terminar amistosamente na mesa de um bar, insuflam cartolas de ambos os lados.
De adversários, os dois gigantes tornaram-se inimigos. Com prejuízos para ambos os lados.
A situação chegou a um nível insustentável. Que provocou, inclusive, a adoção de medidas extremas e inexplicáveis dentro de um processo cada vez mais profissional.
A questão da não utilização do estádio do Morumbi pelo Corinthians é emblemática, e pode ser avaliada como o estopim da discórdia.
Começou quando o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, anunciou antes de um clássico contra o Timão em 2009 que cederia ao rival apenas 10% dos ingressos, quebrando acordo de cavalheiros de divisão do estádio meio a meio que durava décadas.
Por mais que Juvenal reforce a idéia de que o Morumbi é viável sem a necessidade de alugá-lo para jogos do rival, e por mais que o presidente corintiano Andrés Sanchez ressalte que o Pacaembu seja suficiente para as partidas do clube, a intransigência já fez com que as duas partes deixassem de faturar muitos milhões de reais.
A partir daí, provocações aumentaram as chamas, alimentadas com picuinhas de caráter duvidoso.
Hoje, os dois clubes disputam uma competição paralela entre si, que não se limita aos gramados, como deveria ser.
A ponto de discussões como qual clube recebe mais dinheiro da TV, qual ganha mais pelo patrocínio da camisa, qual tem a marca mais valiosa e qual leva mais gente a festas populares e apresentações de atletas serem tão valorizadas quanto a conquista de um título.
Até hoje não inventaram nenhum aparelho capaz de medir a grandeza de um clube.
Para muitos, o número e a importância dos títulos conquistados serve como parâmetro. Para outros tantos, este conceito pode ser medido em número de torcedores e na paixão que demonstram.
E ainda existem alguns, como os que por exemplo amam o Ipatinga, cidade de onde escrevo neste momento, que afirmam que a conquista do campeonato Mineiro em 2005 é um feito comparável a maior glória que qualquer clube do planeta poderia alcançar.
Mas, para corintianos e são-paulinos que não querem encerrar a discussão (saudável, neste caso) sobre grandeza, proponho alguns dados para alimentá-la:
- O São Paulo conquistou três Libertadores e três mundiais, enquanto o Corinthians levantou o Mundial da Fifa do ano 2000 (os rivais contestam o título, alegando que o time do Parque São Jorge não venceu a Libertadores)
- O São Paulo tem seis títulos brasileiros, o Corinthians tem quatro
- O Corinthians levantou três Copas do Brasil, o São Paulo jamais alcançou este troféu
- O Corinthians conquistou em cinco ocasiões o torneio Rio-São Paulo, contra uma do São Paulo
- O Corinthians conquistou o Campeonato Paulista 26 vezes, contra 21 do São Paulo
- O São Paulo tem seu estádio no Morumbi, com capacidade para 60 mil pessoas, enquanto o Corinthians tem como casa o Parque São Jorge, com seus pouco menos de 15 mil lugares. No entanto, o recorde de público do palco tricolor pertence ao Corinthians (146.082 torcedores na segunda partida decisiva do Campeonato Paulista de 1977 contra a Ponte Preta)
- Pesquisas apontam que o Corinthians tem cerca de 26 milhões de torcedores no Brasil, contra 16 milhões de são-paulinos.
QUEM É O VERDADEIRO FREGUÊS?
Este é um tema recente que vem sendo abordado nos gritos de guerra de corintianos e são-paulinos.
Nada melhor do que irmos ao números do clássico para que cada um tire a sua conclusão sobre quem é freguês de quem.
DADOS DO CLÁSSICO ENTRE SÃO PAULO E CORINTHIANS
- Os dois rivais realizaram até hoje 292 clássicos.
- O Corinthians venceu 111
- O empate aconteceu em 92 jogos
- O São Paulo venceu 89 duelos
Quando foram protagonistas de decisões em mata-mata, a estatística é a seguinte:
9 vitórias do Corinthians
- Final do Paulistão de 1982, final do Paulistão de 1983, final do Brasileiro de 1990, semifinal do Paulista de 1999, semifinal do Brasileiro de 1999, final do Rio-São Paulo de 2002, semifinal da Copa do Brasil de 2002, final do Campeonato Paulista de 2003 e semifinal do Paulistão de 2009.
5 vitórias do São Paulo
- Final do Paulistão de 1987, final do Paulistão de 1991, semifinal da Copa Conmebol de 1994, final do Paulistão de 1998 e semifinal do Paulistão do ano 2000
Sei que números são frágeis diante da paixão do torcedor. Por isso, que cada um continue cantando o que quiser.
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