Declaração polêmica de Jorge Jesus fala sobre a capacidade que até as grandes marcas tem de arranhar o próprio valor

Declaração polêmica de Jorge Jesus fala sobre a capacidade que até as grandes marcas tem de arranhar o próprio valor

Certos jogadores, técnicos e times ficam marcados na história pela excelência e beleza. Extrapolam as fronteiras do campo de futebol e viram referência para a vida. “Parece o Zico batendo falta”. “Aquela turma junta parece a Máquina Tricolor, dos anos 1980”. Na última década, o Barcelona tem sido o “time da vez”. Verdadeiro sinônimo de vitória e supremacia. Porém, essa marca anda arranhada. Jorge Jesus, ex-Flamengo, ao ver seu time comparado ao clube espanhol, disparou: “Não quero que seja parecido com o de agora”. Frase forte.

Até poucas temporadas, o time do Messi parecia funcionar como um relógio. Base forte, estruturada, que subia minicraques ao time principal e rapidamente eles uniam-se à engrenagem de Xavi, Iniesta etc. Guardiola foi o ponto alto de um planejamento do clube na construção de uma marca de beleza, vanguarda e – claro – títulos. De Johan Cruijff a Rijkaard, Ronaldo a Ronaldinho Gaúcho, havia um propósito muito claro do clube reproduzido no campo por atletas imersos em uma mesa filosofia. Deu certo.

Mas, desde 2014, a gestão de Josep Maria Bartomeu como principal gestor do clube tem afastado o clube de seu maior patrimômio: sua cultura. Qual grande jogador vindo de La Masia, a academia de formação do Barça, assumiu a camisa culé nos últimos tempos? Era uma marca do clube. E os técnicos? Luis Enrique, Ernesto Valverde e Quique Sétien, cada um com uma proposta de futebol diferente, que requer tempo e adaptação. Os resultados passaram a vir à frente do pensamento de futebol do Barcelona e tudo culminou com o 8 a 1 contra o Bayern de Munique, na Liga dos Campeões.

A mesma gestão gastou um dinheiro imenso em jogadores que não deram certo no clube. Dembelé, Philippe Coutinho, Artur, Griezmann são alguns exemplos de atletas que não “viraram” na Catalunha e custaram mais de 400 milhões de reais no total. Como se comprássemos a mobília de uma sala sem medir suas dimensões, gastando dinheiro em móveis que não cabem na nossa casa. Um elenco de idade elevada, sem ideia clara de jogo, foi sendo batido cada vez mais facilmente, uma temporada após a outra. Enfraquecendo a aura vencedora de uma das maiores camisas do mundo.

Assim, o ontem “Mais que um Clube”, poderoso e invejado, dá lugar ao de agora, sinônimo de desordem, bagunça, fraqueza e derrota. Valores distantes da marca construída a partir dos anos 2000 e que se perdeu em meio aos erros humanos da soberba e falta de cuidado. Tamanho o impacto desses movimentos, que o treinador do Benfica, dono de suas maiores glórias nos anos 1960, se dá ao luxo de rotular como “Barcelona de agora” como um exemplo a não ser seguido. Sinais do tempo.

Uma verdadeira lição que o futebol oferece de graça a todos nós. Não importa o que foi conquistado no passado. É preciso olhar sempre a frente e antecipar, com planejamento e propósito, os próximos passos. A vida não tolera bagunça e decisões distorcidas, por mais vitorioso que a gente seja. Nossas conquistas são pontos de referência dos valores que nos levaram a ela. O preço da paralisia é derreter aquilo que nos torna referência e nos empurra ao progresso... até para o Barcelona.

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