Profissional colocou diversas sugestões em seu livro "Dribla Brasil". Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal Terceiro Tempo

Profissional colocou diversas sugestões em seu livro "Dribla Brasil". Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal Terceiro Tempo

Em recente visita à redação do Portal Terceiro Tempo, o Professor Paulo Strecht, com vasta experiência no futebol, incluindo seu trabalho no Centro Olímpico, há mais de 30 anos defende mudanças na modalidade, e uma delas é a cobrança dos laterais.

Em sua opinião, não há sentido um esporte que é jogado com os pés, a exceção dos goleiros, e ainda assim eles só utilizam as mãos na sua grande área, que os laterais sejam cobrados com as mãos.

O profissional vai mais longe, e sugere outras alterações, a exemplo do que fizeram diversas modalidades, como o futsal e o basquete, entre outros.

PORTAL TERCEIRO TEMPO: O Sr. defende a ideia de que os laterais sejam cobrados com os pés. Quais os benefícios de uma mudança como esta para o futebol?

PAULO STRECHT: Futebol, em sua tradução, já diz que é pé na bola. Então é um esporte praticado somente com os pés, a não ser o goleiro, e isso dentro da grande área, pois fora dela é falta. Então o lateral com os pés nada mais é que o escanteio, é uma ação ofensiva. O futebol requer gols, e os laterais seriam mais uma proposta para poder dar dinâmica do objetivo que é fazer gols. As dimensões em relação às distâncias seriam as mesmas as do escanteio, nove metros e quinze centímetros. Eu estudo isso há mais de 30 anos. E, como chefe do Centro Olímpico, todos os atletas passaram por esse tipo de ação. Houve uma evolução na função ofensiva, na qual o lateral possibilita mais uma jogada, e pode haver jogadas ensaiadas, como no escanteio, é a mesma coisa. Você tem a possibilidade de colocar a bola em qualquer parte, enquanto com as mãos é muito setorial. através de um passe, um lançamento, você consegue os objetivos, e fazer com que o futebol seja mais dinâmico, com o objetivo de fazer gols, diferente hoje, que é o de não tomar gols. O que vem comprometendo o futebol, nas escolinhas é a ocupação de espaços e a questão técnica ficou deixada de lado, sem trabalhar em campo reduzido, e isso vem comprometendo o nosso futebol, e hoje não somos mais os melhores, pois o pessoal de fora desenvolveram a parte técnico e com uma disciplina tática, que os treinadores estrangeiros que estão aqui fazem isso. 

PORTAL TERCEIRO TEMPO: Em sua opinião, por qual motivo a Fifa ainda não promoveu esta mudança, algo que já foi feito no futsal?

PAULO STRECHT: A gente vê que lá é um grupo de 40 funcionários, todos eles muito bem preparados, de catedráticos, que falam três idiomas, mas que não tem a questão técnica do futebol, o desenvolvimento, alguém que possa ver a evolução, com a melhora da bola, das chuteiras, dos gramados, então os jogadores do passado tinham muito mais habilidade do que o preparo físico que se tem hoje. Hoje o deslocamento é de 10, 12 quilômetros por jogador. Antes, qualquer pedaço de terreno era um campo de futebol. O futsal mudou, passou do lateral das mãos para os pés, depois houve a opçõa de escolher e hoje se cobra o lateral com o pé. No basquete, em seus primórdios, a bola parava na cesta, ela era fechada e uma pessoa a retirava por baixo, com um bambu. Até que alguém teve a ideia de abrir a rede e tornar o jogo mais dinâmico.

PORTAL TERCEIRO TEMPO: Podemos deduzir que os laterais cobrados com os pés possibilitariam mais chances de gol. Acha que os sistemas defensivos precisariam de uma adaptação muito grande?

PAULO STRECHT: Na marcação, quando se sofre um lateral, é claro que todos tem que ficar atentos, assim como no escanteio, do goleiro posicionar seus zagueiros, tanto na marcação quanto na sobra e também nas jogadas ensaiadas que o escanteio proporciona. Então, no lateral, não muda nada, será mais uma possibilidade de ação de ataque, e valoriza o jogador que tem mais técnica, ação, explosão, e com o objetivo voltado ao espetáculo, que é fazer gols.

PORTAL TERCEIRO TEMPO: Além dos laterais cobrados com os pés, o Sr. teria mais alguma sugestão de mudança para as regras existentes no futebol?

PAULO STRECHT: Na época em que trabalhei no Centro Olímpico e elaborei minha tese, que se transformou no livro "Dribla Brasil", que eram técnicas diferenciadas, meu objetivo foi de que o futebol fosse mais ofensivo e menos na força. Eu sugeri faltas individuais e coletivos. Eu fiz várias preliminares na Copa do Brasil, no Pacaembu, então o objetivo era o jogador não usar da premissa da falta, mas de desarmar lealmente o adversário, então o futebol ficaria menos violento. No basquetee, com aqueles atletas de mais de dois metros e altura, em um espaço pequeno, você vê que são homens fortes, e se fizerem as faltas, tem a individual e a coletiva, e ele sabe que vai trazer problema na coletividade. Se não houvesse essa regra, com aqueles homens fortes, o basquete se transformaria em um rugby, por exemplo. 

PORTAL TERCEIRO TEMPO: Algumas modalidades, como basquete e vôlei, entre outras, poderiam servir de exemplo para o futebol?

PAULO STRECHT: Eu até entendo que os "dinossauros" querem que o futebol seja um esporte "raiz", mas hoje nós temos o VAR, que eu sou a favor, mas seu mau uso é um problema. Os aparelhos que o Brasil comprou são de segunda categoria. Porém, um exemplo fácil, quando você tem um celular comum e um top de linha você verá diferenças marcantes em uma foto, por exemplo. E com o VAR, a ação é muito rápida, e nesse tipo de computador, na hora em que estão traçando as linhas é diferente da televisão, e aí joga-se o problema para a arbitragem e o próprio VAR. Nós não fazemos congresso técnico para desenvolver o quanto é importante todos conhecerem o VAR e uniformizar as ações. Hoje temos as TVs e rádios com um árbitro comentando, e a imagem que a TV mostra é como se você estivesse observando de cima para baixo, com a visão total, e no campo o árbitro e os auxiliares não conseguem ter esta visão. É muito fácil observar o futebol de cima, da altura do campo é muito diferente. A CBF tem muito dinheiro. Você vê outros esportes, como futebol americano, rugby, tênis, e qual o objetivo do recurso eletrônico, é ser mais próximo da realidade. E tem que ter uma linha de conduta, em que um árbitro dá lei da vantagem e outro não dá, e isso se estabelece em congressos, em que é preciso haver um alinhamento, o que é estabelecido em congresso para que eles tenham a conduta técnica dentro de campo. 

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