Com orçamento modesto, gestão eficiente e futebol organizado, time interiorano mostra que é possível desafiar gigantes

Com orçamento modesto, gestão eficiente e futebol organizado, time interiorano mostra que é possível desafiar gigantes

O time entrou no Campeonato Brasileiro preocupado em não voltar para a Série B, mas após 20 rodadas é o sexto colocado, está na faixa dos que se classificam para a Copa Libertadores e vem de um estrondoso 5 a 1 sobre o Bahia, que estava invicto havia nove jogos. Afinal, quais as lições que este atrevido Mirassol dá ao futebol brasileiro?

Acostumados a relacionar a grandeza dos clubes com o tamanho de suas torcidas, ficamos perplexos ao ver a equipe de uma cidade com apenas 63 mil habitantes estrear na Série A com vitórias e mesmo goleadas contra algumas das agremiações mais tradicionais do País.

Em sua última façanha, o Leão, como sua torcida o trata, goleou o Bahia, o quarto colocado do Brasileiro, jogando com Walter, Lucas Ramon, João Victor, Jemmes e Reinaldo; Neto Moura, José Aldo (Matheus Bianqui), Danielzinho (Chico Kim); Edson Carioca (Alesson), Chico da Costa (Cristian) e Negueba (Carlos Eduardo). Trata-se de uma mescla de jogadores bons e baratos garimpados no mercado e de jovens relevados no próprio clube.

Com uma folha salarial de R$ 3 milhões, que representa 10% da folha do milionário Flamengo, o clube teve de ser cirúrgico em suas contratações, mas acabou montando um time eficiente, ofensivo, bem treinado e organizado pelo técnico paulistano Rafael Guanaes, de 45 anos, ex-Tombense.

O segredo do sucesso, porém, não está só no campo. O Mirassol aproveitou muito bem os 20% dos direitos que recebeu pela venda do passe de Luiz Araújo do São Paulo para o Lille, em 2017, e investiu em infraestrutura e tecnologia de ponta para cuidar de seus jogadores (são utilizados até banhos de sais para recuperar horas de sono e uma esteira que diminui o peso corporal e reduz o impacto na corrida).

Desde então, em ascensão contínua, o time foi campeão das Séries D, C e segundo colocado da B em 2024, o que lhe deu direito a jogar a Série A. Durante todo esse tempo o clube foi presidido por Edson Antonio Ermenegildo, que também é prefeito de Mirassol. Situada a 452 quilômetros, ou cerca de seis horas de automóvel da Capital Paulista, a cidade fica na próspera e calorenta região de São José do Rio Preto, no Norte do Estado.

Seus jogos ocorrem no reformado estádio José Maria de Campos Maia, com capacidade anunciada para 15 mil espectadores. Mas a média de público em casa do Mirassol está próxima de cinco mil pessoas, a menor entre os 20 participantes do Campeonato. E aí certamente está o grande entrave para o crescimento do clube.

Sem estádios lotados e grandes arrecadações, os patrocínios também se tornam mais escassos e fica impossível manter equipes competitivas por muito tempo. Ao menos foi isso que ocorreu com os times emergentes do Brasil até agora. Quem sabe, porém, o ousado Leão Capirira não tem mais uma carta na manga.



Odir Cunha - Escritor com mais de 30 livros publicados. Jornalista profissional desde fevereiro de 1977

 

 

 

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