Arrependido, desempregado e sonhador. Aos 31 anos, Alex Silva demonstra que esqueceu os problemas com noitadas e bebidas do passado, e vislumbra um retorno ao São Paulo, clube que o revelou. Depois de defender grandes equipes, o zagueiro fala com naturalidade sobre os excessos e encontrou na religião o que faltava em sua vida: a paz.
O defensor, com passagens também por Flamengo, Cruzeiro e futebol alemão, relembra dos erros que cometeu. “Fiz o que muito atleta já fez e que muitos atletas fazem. Eu gostava de ir para o samba, pagode, e de tomar a minha cerveja. Me arrependo de não ter lidado com a hora certa de fazer as coisas. Talvez por causa da idade, por ser jovem, eu queria abraçar o mundo", disse ao Portal da Band.
Depois do Flamengo, passou por Boa Esporte-MG, São Bernardo, Brasiliense e Rio Claro, seu último clube. Antes de acertar com o clube do interior, o zagueiro procurou o São Paulo, mas encontrou as portas do Tricolor fechadas. “Tentei uma conversa. Tentei propor algo que fosse bom para os dois lados, mas o Ataíde não quis nem ouvir. Fico chateado, por tudo aquilo que eu representei, e de repente recebi uma resposta que não estava esperando. Eu esperava pelo menos um respeito pela minha pessoa”, lamentou.
Hoje, Alex Silva está sem clube e treina em Amparo, sua cidade natal, onde aguarda um novo contato. No entanto, não tem dúvidas: se fosse procurado pela equipe do Morumbi, não pensaria duas vezes. “Se o São Paulo quiser conversar, estarei à disposição. Ou para jogar ou para participar de algum evento. Espero que o Leco também queira”, afirmou.
Confira a entrevista completa:
Portal da Band: Por que não deu certo no Flamengo e no Cruzeiro?
Alex Silva: No Flamengo, as coisas deram certo, porque quando eu fui contratado, em 2011, pelo Vanderlei Luxemburgo, o objetivo era a classificação à Libertadores, e isso foi alcançado. O que foi passado para mim, eu acabei cumprindo. Mas salários atrasados fizeram com que eu fosse para o Cruzeiro, onde tive a infelicidade de romper os ligamentos do joelho. Depois retornei ao Flamengo e já não era bem vindo pela torcida, e o Jorginho afastou eu e o Ibson, e acabei saindo do clube. Quando as coisas não vão bem, precisa encontrar um culpado. E por eu ter reclamado de salários atrasados, a torcida achou que o problema do Flamengo era eu e acabei sendo bode expiatório. Mesmo assim, sou grato ao clube que me abriu as portas.
Portal da Band: Por que você teve essa caída na carreira?
Alex Silva: O que me prejudicou foram as quatro contusões graves que tive no joelho. Isso acabou atrapalhando. As três primeiras foram no auge. A primeira no São Paulo, a segunda no Hamburgo e a terceira no Cruzeiro e a quarta foi no Boa Esporte. Eu fazia uma excelente Série B, tinha até especulação do futebol chinês. Muito se fala sobre caída na carreira, mas eu não concordo com esse termo. Se parar para pensar, durante oito anos eu me mantive nos clubes top do Brasil. A carreira de um jogador a gente sabe que não dura muito. Além disso, tive as chances na seleção brasileira. É injusto falar que caiu na carreira. Você não pode comparar o Alex Silva com o Lugano, Miranda ou André Dias. O Alex Silva teve quatro lesões. Fico chateado com isso. Se eu não tivesse tido contusões, eu estaria num clube melhor. São coisas que acontece. Se eu errei na carreira, outros jogadores erraram e tiveram problemas piores. Se hoje eu jogo em um clube de menor expressão, é porque Deus quis isso para, quem sabe, eu ajudar os mais jovens.
Portal da Band: Você se perdeu na bebida? Arrepende-se disso?
Alex Silva: Eu fiz o que muito atleta já fez e que muitos atletas fazem. Eu gostava de ir para o samba, pagode, e de tomar a minha cerveja. Nada além disso. A única coisa que me arrependo é de não ter lidado com a hora certa de fazer as coisas. Talvez por causa da idade, por ser jovem, eu queria abraçar o mundo. E não tive o discernimento de saber a hora de fazer cada coisa. Me arrependo. Mas quero deixar claro que todo jogador da idade que eu tinha fez as mesmas coisas, porque é complicado um atleta de 22 anos de idade, servindo a Seleção, num grande clube como o São Paulo, morando em uma cidade que oferece muita coisa e ganhando um excelente salário. Muitos vislumbram e sonham muito, deixando a carreira em segundo plano. Uma escolha errada gera consequência ruim.
Portal da Band: Quando decidiu mudar?
Alex Silva: Foi em outubro de 2014, quando fui parado numa blitz. Ali, quando eu me encontrava na delegacia para pagar a fiança, passou um filme na minha cabeça do que eu vinha fazendo com a minha carreira, sobre os meus filhos, familiares. E foi quando eu decidi a frequentar cultos, fui ouvindo a palavra de Deus, e fui entendendo que o único caminho para a libertação é o caminho de Cristo, onde as palavras falavam claramente o meu coração. E eu decidi aceitar Jesus e renunciar tudo aquilo que não me fazia bem.
Portal da Band: Você tentou voltar para o São Paulo em 2015, mas o Ataíde não quis...
Alex Silva: Tentei uma conversa com o São Paulo, tentei propor algo que fosse bom para os dois lados, mas o Ataíde não quis nem ouvir. Fico chateado, por tudo aquilo que eu representei, e de repente recebi uma resposta que não estava esperando. Eu esperava pelo menos um respeito pela minha pessoa, pois sempre respeitei a camisa do São Paulo e joguei com muito amor. Mas eu sei como ele é, e respeito. Fiquei tranquilo quanto a isso.
Portal da Band: Você pensa em pedir novamente para retornar?
Alex Silva: Agora entrou o Leco, que era um cara da minha época. O admiro e respeito, porque ganhamos títulos pelo São Paulo, mas não sei como ele pensa, se é igual aquela época sobre o meu respeito, e se tem acompanhado a minha mudança. E se o clube precisa de um zagueiro. Não envolve a diretoria, mas a comissão técnica, jogadores... Desejo sorte ao Leco e que o São Paulo volte a ser o mesmo clube vitorioso do passado. Se o clube me procurar para conversar, estarei à disposição. Ou para jogar ou para participar de algum evento. Espero que o Leco também queira.
Portal da Band: O que você pensa sobre o Luiz Cunha, diretor de futebol? E sobre o Pintado, auxiliar-técnico?
Alex Silva: O Luiz Cunha é um cara sensacional. Quando cheguei do Vitória, fui disputar a Copa São Paulo pelo São Paulo e ele me recebeu muito bem. Me ajudou muito no clube. Eu realmente considero. Minha história no São Paulo começou com ele e com o Vizolli (ex-técnico da base). Fiquei feliz de ele ter assumido. Não tinha mais oportunidade, mas se tivesse, daria um abraço e agradeceria a ele. O Pintado também é um cara sensacional. Sempre quando tive a oportunidade de encontra-lo, me tratou super bem. Nos encontramos esse ano no hotel em Rio Claro. Batemos um papo. É uma pessoa gente boa e é merecedor de estar no clube. E por ser uma pessoa que entende de futebol que o clube precisa.
Portal da Band: Conversa bastante com o Luizão?
Alex Silva: A gente fala pouco sobre futebol. Conversamos mais sobre os nossos assuntos particulares. A gente fica longe muito tempo, e se nos encontramos para falar de futebol fica complicado.
Portal da Band: O rebaixamento do Rio Claro no Paulistão pode te atrapalhar para acertar com algum clube?
Alex Silva: O desempenho foi igual dos outros clubes que caíram, é que, infelizmente, caíram seis times. Temos que entender que o Paulistão é o mais difícil e competitivo que existe. Enfrentamos grandes equipes. Oscilamos na competição e acabamos sendo rebaixados. Fico triste pela campanha, mas para mim foi bom, porque muitos críticos queriam ver o Alex Silva jogar.
Portal da Band: Onde você vai jogar no segundo semestre?
Alex Silva: Existem especulações, mas nada de concreto. Mas estou tranquilo quanto a isso, porque sei que na hora certa Deus vai abrir uma porta e vou jogar novamente em alto nível.
Foto: reprodução
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