O Atlético-GO foi o primeiro clube brasileiro a receber as vacinas da Conmebol. Foto: Twitter/Reprodução

O Atlético-GO foi o primeiro clube brasileiro a receber as vacinas da Conmebol. Foto: Twitter/Reprodução

Ao longo dos últimos dezesseis meses, o noticiário esportivo se fundiu com a avalanche de informações na área da saúde. Não diferente de todos os outros setores da sociedade, o esporte também foi brutalmente atingido pela pandemia do novo coronavírus.

Nesse momento, enquanto o mundo tenta acelerar a vacinação da população e países como o Brasil vê faltar doses dos imunizantes graças à ação (ou falta dela) do Governo Federal, um movimento divide opiniões de diversos setores: a vacinação de atletas.

Recentemente a Conmebol anunciou que recebeu 50 mil doses da vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, para vacinar equipes que disputam suas competições. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro aceitou doação de doses vindas do Comitê Olímpico Internacional para imunizar os atletas brasileiros que disputarão as Olimpíadas de Tóquio.

Quando o mundo embarcou nessa louca viagem provocada pelo coronavírus, lá no início de 2020, uma das frases mais ditas foi: “Vamos sair pessoas melhores dessa pandemia”. Era a oportunidade de refletir, desacelerar, rever conceitos, pensar no coletivo, tornar o mundo um lugar melhor e mais solidário. Erramos. Não sairemos melhores. E o esporte é a prova disso.

Quando entidades esportivas se movimentam para vacinar atletas, sem prestar nenhum auxílio aos governos para que os imunizantes cheguem até a maior parte da população, fica claro que o espirito de coletividade não ganhou força. Pelo contrário.

A pandemia potencializou e evidenciou o nosso egoísmo e o que acontece no esporte nada mais é do que um reflexo do que somos enquanto sociedade.

Foram muitos os momentos em que o esporte mostrou pensar apenas em si mesmo. Mas o caso da vacinação de atletas termina de escancarar um comportamento reprovável de clubes e entidades. Antes disso, porém, podemos lembrar do Flamengo forçando a barra para que o Campeonato Carioca fosse retomado em 2020, chegando ao ponto de jogar no Maracanã ao mesmo tempo em que o pessoas lutavam por suas vidas no hospital de campanha que funcionava ao lado do estádio Mário Filho.

Como se esquecer de inúmeros atores envolvido nas competições que argumentavam que o futebol incentivava as pessoas a ficar em suas casas, evitando aglomerações nas ruas? Nenhum argumento foi tão hipócrita quanto esse.

Vimos até mesmo treinador argumentando que o futebol era o ambiente mais seguro nesse momento, uma vez que atletas, dirigentes e comissões técnicas eram testadas duas vezes por semana – coincidentemente, o time desse mesmo treinador viveu um surto de Covid-19, com ele mesmo contraindo a doença.

Tudo, absolutamente tudo para que o esporte não fosse paralisado. Como se o futebol (ou outras modalidades) estivessem numa realidade paralela.

Na última sexta-feira (7), o Atlético-GO recebeu a vacina da Conmebol em Assunção, no Paraguai. Foi o primeiro clube brasileiro imunizado pela entidade sul-americana.

No mesmo dia em que os atletas do Dragão recebiam as doses no Paraguai, a cidade de Goiânia ultrapassava a marca de 151.964 casos de Covid-19, e 4.569 mortes causadas pela doença. Na mesma data, pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás informou que o número de óbitos por coronavírus no estado pode ser cerca de 30% maior do que o informado.

A prioridade, de clubes e entidades, porém, foi olhar para si próprio. Deram de ombros para a população. Ignoraram (e ainda ignoram) o sofrimento de quem vive o drama diário causado pela doença. Tudo por que o esporte não pode parar. Falhamos!

A vacinação de atletas é a prova de que o esporte não aprendeu nada com a pandemia.

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