O 11 de setembro de 2001 caiu numa terça-feira.
Passava poucos das nove horas da manhã quando eu cheguei à TV Bandeirantes.
Fui direto à sala de maquiagem, onde já estava o Mauro Beting.
Sentei-me na cadeira ao seu lado e começamos um papo enquanto as maquiadoras faziam seu trabalho.
Estávamos nos preparando para a gravação do programa Esporte Total Debate, um programa diário que era apresentado pelo Milton Neves.
Todos os dias, de segunda à sexta, Milton Neves recebia convidados. Eu e o Mauro, pelo que me lembro, participávamos duas ou três vezes por semana.
Outros participantes que também se revezavam: Roberto Benevides, Cacá Rosset, Rubens Minelli, Luiz Carlos Ramos e mais ilustres figuras do mundo esportivo.
À nossa frente naquela sala de maquiagem, um imenso espelho e, acima, dois monitores de televisão, sem som.
De repente, o Mauro se espantou.
– O que é isso? O que está acontecendo?
Olho para o monitor e vejo fumaça negra saindo do topo do prédio. Espanto e arrisco:
– É um incêndio.
De repente, repete-se a imagem e aí podemos ver o avião se chocando contra o prédio.
– É o World Trade Center! Exclama Mauro Betting demonstrando incredulidade.
– As Torres Gêmeas?, pergunto.
– Será terrorismo?! Grita Mauro, quase se levantando da cadeira, e sendo contido pela maquiadora que queria apenas acabar seu trabalho.
Não há som nos monitores e nós ficamos sem saber o que estava acontecendo.
Mal terminou a maquiagem e saímos os dois em disparada carreira, rumo à redação. Lá, em torno de cada televisor, formava-se uma pequena multidão que se chocava com a visão das imagens.
Nosso programa Esporte Total Debate era gravado das 10 às 11 e ia ao ar das 12 às 13 horas.
Aos poucos as informações foram chegando: era um ataque terrorista.
Recebemos a ordem do diretor do programa, Hélio Siegmann.
– Todos ao estúdio para gravação.
Enquanto cada um ocupava seu lugar e eram feitos os preparativos para começas a gravação, os monitores do estúdio exibiam imagens impressionantes dos Estados Unidos.
Depois, veio a ordem forte do Hélio Siegmann.
– Atenção, 10 segundos para começar.
Deixamos de lado o mundo do terrorismo e entramos no faz de conta do futebol. Gravamos como se nada estivessem acontecendo.
Em um pequeno intervalo da gravação para ajuste técnicos, tivemos imagens e rápidas informações sobre a loucura que grassava no País do Tio Sam.
Rapidamente retomamos a gravação, assumindo nossa face de Alice no País das Maravilhas.
Parecia que o fim do programa não chegava, mas chegou.
Saí em nova carreira rumo à redação.
Ao passar em frente à lanchonete, vi uma televisão ligada e a pequena multidão ao seu redor.
Parei instantaneamente.
Foi o tempo exato de ver a segunda torre desabar.
Ficamos, todos, estáticos e perplexos. Olhávamos uns para os outros com a mesma pergunta silenciosa: “O que está acontecendo?”
Passou-se ainda algum tempo antes que aquela pequena multidão se dispersasse.
Fui para o meu carro.
E o programa aquela terça-feira não foi ao ar.
(Apenas memórias de um atribulado e histórico 11 de setembro que faz hoje aniversário de 19 anos).
Mário Marinho. É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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