Será a apoteose, a consagração definitiva de uma já consagrada dinastia, independente de quem vença

Será a apoteose, a consagração definitiva de uma já consagrada dinastia, independente de quem vença

Será a apoteose, a consagração definitiva de uma já consagrada dinastia, independente de quem vença. Um horizonte orgástico para quem assiste um jogo com a alma épica para muito além da mera militância. Os amantes do basquetebol estão revivendo os tempos de finais que tornam-se clássicos, repetidas por pelo menos dois anos. Como rememorou o competente Giancarlo Gianpietro em seu blog “Vinte um”, Spurs e Heat entram no seletíssimo Hall de Chicago Bulls x Utah Jazz mas temporadas 97/98; 1988 e 89, com Detroit Pistons x Los Angeles Lakers; 1984 e 85, com Boston Celtics e Lakers; 1982 e 83, com Lakers e Philadelphia 76ers; 1978 e 79, com Seattle SuperSonics x Washington Bullets; 1972 e 73, com Lakers x New York Knicks. Mas esse final entra no panteão da mitologia esportiva não somente pela repetição, o que indubitavelmente gera rivalidade e boas histórias, seria limitada essa conclusão estritamente numérica ou duelista (como um bom faroeste). Estamos falando de duas camisas que, ao seus modos nada similares, estão sempre se colocando entre os maiorais da Liga nesse século.

Os Spurs são, ouso dizer não haver quem discorde, a franquia mais regular e vencedora da NBA na era pós- Jordan. Sob a maestria de Popovich e Duncan, os texanos desenvolveram uma capacidade monstruosa de se reinventarem. O casamento intelectual entre Popovich e o executivo R.C. Buford (Há 17 anos o duo constrói uma equipe que sempre chega aos playoffs, feito para lá de respeitável na sempre forte conferência do Oeste) fez dos Spurs uma escola de basquete, um modelo na arte de jogar um basquete coletivo, draftar e pinçar jogadores do mundo todo, que não necessariamente darão resultados em suas temporadas de Rookie. O time alterna temporadas de um basquete pesado, “europeizado” como na temporada passada e em outras – quem não se lembra da lentidão de Fabrício Oberto, Mohammed ou Bruce Bowen com seus cotovelos nervosos - , para um jogo fluente e leve como atualmente, sempre atacando o aro, seja com as infiltrações de Leonard (único capaz de amenizar os estragos que certamente LB James causará) ou Parker, seja com a troca de passes e a artilharia pesada do perímetro: Diaw, Manu, Green, Bonner, Mills, Belinelli e também Leonard e Parker. O “big three” são os pilares de um reino severo, se as estrelas são discretas como Duncan (o maior Ala pivô da história), quanto mais os coadjuvantes, não há espaço para Jenning´s ou J.R Smith`s.

O Miami tem como mentor uma das figuras mais respeitadas na história da NBA, Pat Riley (campeão como jogador – apesar dos números modestos -, como treinador - particularmente está entre os três com ideias de basquete que mais me agradam, foi eleito três vezes o melhor treinador da temporada regular -, e como dirigente – um cara que agregou só um tal de Ray Allen à turma, já vitoriosa, de Lebron). De 2005 para cá, os Heats venceram 5 vezes a Conferência leste, vencendo três vezes a finalíssima da Liga, com a possibilidade de vencer a quarta nessa temporada. Mas é inegável que apesar de Wade e Riley, o grande salto da franquia ocorreu em 2010, quando o garoto de Akron decidiu levar seu talento à South Beach. Frase, à época, encarado por muitos como a mais pura arrogância, hoje vista como pura constatação de um gênio seguro do impacto que estava prestes a realizar na Flórida. Lebron fez o que seu talento o destinara a fazer, por trás da ignorância agressiva dos gritos indecorosos de “amarelão, jamais será clutch shooter”, todos com entendimento sobre o jogo e ostentando o mínimo de sensatez, enxergavam no rei James um jogador único, poucas vezes visto no Esporte, uma mistura explosiva de muito talento, altíssimo Q.I para o jogo e uma compleição física que beira a aberração. James dominou a liga, está em sua quarta finalíssima consecutiva, repetindo o feito de Magic Johnson e seu “patrão” Riley, pelos Lakers nos anos 80. Uma lenda, um mito no seu auge. Uma menção, ainda muito pouco feita, cada dia se faz mais necessária, essa menção tem o nome de Erik Spoelstra. O americano/filipino era, por birra e teimosia dos dinossauros do basquete, visto como um compêndio humano de estatísticas e números, mas que pouco sabia sobre a essência do jogo. Ledo engano, Spoel é um líder discreto, educado, sabe lidar como poucos com um elenco celebrado e com figuras problemáticas, como Chris Andersen e Beasley (mesmo com seu inegável talento, não conseguiu se firmar na rotação de Spoel). O rato de planilha Excel, Erik Spoelstra, com sua paciência com jogadores que persistem na má fase, como Rashard Lewis e Haslem, conseguiu ganhar a confiança do elenco e ressuscitar a confiança nesses jogadores combalidos. O Lewis dos últimos dois jogos da série contra os Pacers, foi uma aparição tática (quem melhor marcou West na ausência dos protetores do garrafão, o moribundo Oden e de birdman) e técnica (revivendo suas, quase mortas, bombas de 3 pontos) que o filipino tirou da cartola. Enfim, mais um mérito na conta de Riley, que apostou no jovem desconhecido do grande público quando a pressão era gigantesca pela sua cabeça. Sem grandes firulas verbais, o fato é que Spoelstra já figura entre os principais treinadores da atual NBA, e pela pouca idade, inteligência e humildade que o caracteriza, pode muito bem subir de patamar nesse crivo histórico dos Head Coaches.

O confronto tem tudo para ser equilibrado, vença quem vencer será justíssimo, está final consagra o melhor de dois mundos: o jogo insinuante, improvisado, atlético, corrido e intuitivo dos Heats, contra uma máquina de jogar basquete, programada nos mínimos detalhes. Duas franquias, dois modos de encarar e sobressair-se no jogo, torça de acordo com seus padrões de beleza, só não tente desmerecer o adversário, seja quem for, ele não merece. Os Spurs já venceram a primeira batalha. Meu palpite? 4 a 2 para os velhinhos do Álamo.

Foto: UOL

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