A escola do futebol brasileiro sempre pregou o individualismo ao invés do coletivo

A escola do futebol brasileiro sempre pregou o individualismo ao invés do coletivo

Seu time tem mais posse de bola do que o adversário. Troca mais de sessenta passes na partida. Chuta mais de quinze vezes ao gol. Tem como centro de gravidade do jogo o campo de defesa do oponente - ou seja a bola fica mais tempo perto do gol do adversário do que do seu próprio gol. Porém o resultado positivo não vem. Seja um empate ou até mesmo uma derrota, porque mesmo com esse "domínio" do jogo é possível, por exemplo, tomar um gol de contra-ataque.

A situação descrita acima cai perfeitamente para um time do futebol brasileiro. E hoje se enquadra, também, na seleção do técnico Tite. O que vimos no confronto contra a Venezuela pela Copa América foi um retrato fiel do que acontece nos gramados pelo Brasil: uma ausência gigante de conteúdos ofensivos.

Preciso contextualizar que a cultura, a escola do futebol brasileiro sempre pregou o individualismo ao invés do coletivo. O nosso próprio futebol de rua, com a sua peculiar pedagogia, sempre foi pautado pelos confrontos individuais. E por muitos anos isso fez com que tivéssemos o melhor futebol do mundo. Nossos craques resolviam. O treinador deveria minimamente armar a defesa. E deixar o talento decidir lá na frente.

Não sei se alguém ainda não percebeu, mas o mundo mudou. E o futebol também. Nossa pedagogia da rua encolheu. Nossa metodologia de treinamento e conceitos táticos não evoluíram, assim sendo foram superados. Hoje não cabe mais deixar o craque resolver com a bola nos pés. É preciso conceito, ideia, princípios e sub-princípios para atacar. São conceitos coletivos que fazem com o que o jogador de qualidade apareça individualmente. Coisas que são intuitivas, mas que também podem ser treinadas e condicionadas, como ultrapassagens, mobilidade, apoios, terceiro homem, viajar junto para gerar desmarque, enfim, ideias coletivas que fazem com que uma equipe ataque com qualidade.

Criou-se uma falsa ideia de que para jogar bem é preciso ter posse de bola. Discordo. A posse é um meio. E não um fim nela mesmo. E a análise de qualquer estatística deve ser encarada qualitativamente. Quais finalizações foram realmente limpas e com perigo real ao adversário? As trocas de passes foram predominantemente para frente ou só para o lado e para trás? A circulação de bola foi realmente efetiva ou quem mais participou foram os zagueiros com passes distantes do gol adversário? Cumprir a lógica do jogo e realizar as ações necessárias para a vitória com o menor gasto possível de energia é o essencial. Independentemente da porcentagem da posse de bola.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

SOBRE O COLUNISTA

Marcel Capretz é radialista e jornalista formado pela Universidade Mackenzie e pós-graduado pela Fundação Cásper Líbero. Fluente em inglês e espanhol, atualmente estuda francês. Aos 18 anos, já trabalhava na Rádio Difusora de Jundiaí. Aos 20, já tinha um programa na TV Japi de Jundiaí. Na sequência, passou por Folha de São Paulo Online, Lance!, TV Band de Campinas... Saiba Mais

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