De Nagoya, Japão
@fabiolucasneves
Sempre ouvi dos jornalistas mais antigos que, no passado, a cobertura do futebol tinha mais graça.
Segundo relatos de mestres como Michel Laurence, meu chefe na TV Record há alguns anos, havia uma relação de cumplicidade entre o repórter e o jogador.
O advento da assessoria de imprensa e a tal profissionalização do mundo da bola "mataram" a informalidade dos bate-papos à beira do campo, antes e depois de treinos e jogos.
Alguns atletas adoram essa espécie de "distância regulamentar", como o meia Douglas, do Corinthians.
Pode ser apenas uma impressão, mas imagino que o catarinense, se pudesse, nunca mais daria uma entrevista na vida.
O oposto atende pelo nome de Emerson.
Bem resolvido apesar do passado problemático, gente boa e carismático, o herói do tÃtulo da Libertadores desfila jogo de cintura e malandragem.
Uma combinação que o faz tirar de letra qualquer situação, digamos, espinhosa.
Na entrevista coletiva concedida aqui no Japão, a resposta destemperada no Twitter ao lateral Léo, do Santos, que ironizou a Fiel, foi minimizada.
"Passou longe (a provocação)", afirmou, com uma naturalidade impressionante para quem havia acabado de contradizer o óbvio. Afinal, ele se irritou com a cutucada do rival e até o xingou na rede social.
O bom-mocismo rende personagens bem menos ricos do que Emerson.
Criado em uma favela carioca e transformado em Sheik graças ao talento com a bola nos pés, o atleta não faz questão de bancar o anjinho.
Muito pelo contrário.
É do tipo de sujeito que arrebenta em um jogo decisivo mas, em uma partida irrelevante, faz questão de mostrar indolência.
Ele até assume torcida por arquirrivais do Alvinegro, como para o São Paulo na decisão da Sul-Americana contra o Tigre, da Argentina.
Ou provoca os fãs do Boca Juniors em plena véspera da decisão da Libertadores, ao desdenhar da pressão feita em La Bombonera.
Nada recomendável nesses tempos do politicamente correto e das respostas ensaiadas, convenhamos. Mas autêntico.
Desde o retorno ao Brasil, o camisa 11 do Timão coleciona polêmicas na mesma proporção que celebra tÃtulos.
Os "pepinos" extra-campo e a lÃngua afiada não lhe tiram o prazer de jogar bola e fazer história.
Saiu brigado do Fluminense "acusado" de ser flamenguista, foi condenado por falsificação de documentos e processado por importação ilegal de carros, deixou Tite com os cabelos ainda mais brancos por causa de uma certa falta de compromisso em alguns momentos...
Mas, com uma auto-confiança inabalável, Sheik, colecionador de taças, imbróglios e zeros na conta bancária, carrega nos ombros a responsabilidade de ser a principal esperança do Corinthians no Japão.
Assim como resolveu a vida financeira da famÃlia, esse sujeito que adoramos criticar surge como o "cara" para decidir o tÃtulo mundial para a equipe paulista.
Eu o imagino, segundos antes da entrada em campo para a hipotética decisão contra o Chelsea, batendo no peito, com o nariz em pé, e dizendo: "Joguem a bola para mim. Eu resolvo".
Boleiro das antigas, Sheik é um personagem de ouro e a principal atração alvinegra do outro lado do mundo.
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