O que fizeram com Sidão mostra o quão doente está a nossa sociedade. Foto: Chris O'Meara/AP/via UOL

O que fizeram com Sidão mostra o quão doente está a nossa sociedade. Foto: Chris O'Meara/AP/via UOL

Sidney Aparecido Ramos da Silva, 36 anos, brasileiro da cidade de São Paulo, homem e trabalhador, como tantos outros deste país. Começou sua carreira como futebolista nas categorias de base do Sport Club Corinthians Paulista e ao longo de sua vida no futebol defendeu Juventus-SP, Taboão da Serra-SP, Sampaio Corrêa-MA, União Mogi-SP, Rio Claro-SP, Luverdense-MT, Grêmio Prudente-SP, Icasa-CE, Audax-SP, Guaratinguetá-SP, Audax Rio-RJ, Botafogo-RJ, São Paulo, Goiás e atualmente veste as cores do Club de Regatas Vasco da Gama.

Sidão, como é conhecido no mundo da bola, se destacou no Grêmio Osasco Audax de Fernando Diniz e acabou sendo contratado pelo primeiro grande clube em sua carreira após o início na base corintiana. A ida ao Botafogo elevou a carreira do goleiro e despertou o interesse de um dos gigantes do futebol nacional, o São Paulo Futebol Clube.

Foi no Tricolor Paulista que o calvário de Sidão começou. As más atuações com a camisa tricolor fizeram com que uma enchente de críticas caísse em cima da cabeça do arqueiro, que aos poucos viu sua confiança ser minada até o ponto de não haver mais condições para que ele seguisse no Time do Morumbi.

O goleiro paulistano foi para o Goiás no início do presente ano e após alguns meses defendendo as cores esmeraldinas, desembarcou na Baía de Guanabara para vestir a camisa do Vasco. Ontem (12/05), Sidão teve uma das piores atuações de sua carreira na derrota do Cruz-Maltino para o Santos pelo placar de 3 a 0. O que o goleiro não esperava era humilhação pela qual teria que passar, promovida pela insensatez da Rede Globo e pela covardia de algumas pessoas que se escondem atrás das telas de seus computadores e celulares e acham que dali podem realizar qualquer tipo de absurdo, protegidas pelo anonimato.

Eu, particularmente, nunca achei que Sidão fosse um grande goleiro. Pelo contrário. Acredito que em diversos pontos fundamentais para um bom guarda-redes, o atual dono da posição no Vasco da Gama deixa a desejar. Mas, desta vez, não estou aqui para julgar o trabalho do atleta dentro das quatro linhas. Estou aqui para falar do aspecto humano que envolve toda e qualquer profissão.

Quem nunca teve um dia ruim no trabalho? Quem nunca acordou com o pé esquerdo e desejou passar o dia todo na cama, sem botar a cara para fora? Quem nunca se equivocou no ambiente profissional? Alguém nunca? Se há alguma pessoa que jamais passou por isso, peço desculpas e cito Fernando Pessoa: “Arre, estou farto de semideuses!/Onde é que há gente no mundo?”

O que fizeram ontem com Sidão, que perdeu sua mãe ainda muito jovem, que teve problemas com bebidas alcoólicas e com drogas, que entrou em depressão e chegou a cogitar o suicídio, foi uma das coisas mais desumanas, covardes e cruéis que tive o desprazer de presenciar no ambiente do futebol.

Em pleno dia das mães, Sidão carregava em sua camisa o nome de sua falecida progenitora e, infelizmente, as coisas não se saíram bem para ele na partida contra o Santos. O goleiro saiu jogando mal e acabou entregando o primeiro gol para o Alvinegro Praiano, o que o deixou desconfiante e o fez se equivocar em alguns outros lances da partida.

Ocasião perfeita para a sociedade brasileira mostrar seu lado mais perverso. Durante a votação do “craque do jogo”, promovida pela Globo, 90% dos internautas (covardes idiotas que vivem presos à mentalidade da 5ª série) votaram e elegeram Sidão como o craque da partida, numa demonstração clara de ironia e sarcasmo.

Pior que a covardia desses internautas que metem o pau em tudo e em todos protegidos pelo anonimato, foi a falta de bom senso da Rede Globo, que fez com que a repórter de campo entregasse o prêmio de “craque do jogo” para o goleiro, deixando a profissional da comunicação e o futebolista claramente constrangidos. A tristeza e a decepção estampadas na cara de Sidão foram claras, bem como o constrangimento da repórter. O goleiro, vale destacar, ainda teve a hombridade de receber o prêmio e responder a repórter educadamente, provando que é muito maior que os idiotas que o fizeram passar por isso.

Tratam-se de dois seres humanos. Dois profissionais que estavam ali exercendo suas respectivas profissões para levarem o pão de cada dia à mesa, assim como milhões e milhões de brasileiros também o fazem. Foi triste. Foi covarde. Foi desumano. Foi cruel. A Rede Globo, após a repercussão negativa do caso, mudou as regras de votação do tal “craque do jogo” e emitiu nota se desculpando pelo ocorrido. Casagrande, comentarista da emissora, também pediu desculpas em suas redes sociais. Demais times também se solidarizaram com Sidão.

Espero, com toda a sinceridade, que casos como este jamais voltem a ocorrer. O mundo está cruel demais. Não precisamos colaborar com isso! Que sejamos mais humanos e mais compreensíveis coma dor alheia. Só assim poderemos tentar reverter este triste quadro no qual se encontra a sociedade brasileira. Toda a minha solidariedade para com o atleta Sidão, que, assim como eu, assim como você, é um ser humano, um profissional, e não mereceu passar pela humilhação que passou. Para os haters covardes da internet, meu total desprezo! Vocês são dignos de nojo!

* Renan Riggo é jornalista esportivo (A Folha Esportiva) e assessor de imprensa da PPress Marketing e Comunicação

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