Dos 20 clubes, Criciúma, Bahia, Figueirense, Coritiba, Internacional, Grêmio e Atlético-PR também mostraram-se terrenos delicados nas gestões atuais

Dos 20 clubes, Criciúma, Bahia, Figueirense, Coritiba, Internacional, Grêmio e Atlético-PR também mostraram-se terrenos delicados nas gestões atuais

A gestão Eduardo Bandeira de Mello assumiu o comando do Flamengo há 17 meses. A promessa era reconstruir o clube. Aos poucos, as dívidas foram reduzidas e novos patrocinadores anunciados. Entretanto, os dirigentes ainda derrapam na condução do futebol.

A prova é a alta rotatividade em um cargo chave no clube: o técnico. Com a demissão de Jayme de Almeida e a contratação de Ney Franco, o Fla chegou ao seu quinto treinador no período. A média de permanência de cada profissional é de 100 dias na Gávea. É o exemplo mais bem acabado da alta rotatividade do cargo no futebol brasileiro. Em média, clubes seguram seus treinadores por apenas seis meses na função.

O UOL Esporte levantou dados das atuais gestões dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. Foram consideradas trocas além da média de seis meses e dez dias de permanência e também foi elaborado um ranking com os times com menor prazo de validade para seus comandantes. O Flamengo, que fala em gestão profissional e reconstrução do clube, é o líder, com técnicos durando, em média, 100 dias. A ponta é dividida com o Sport.

No clube pernambucano, Luciano Bivar assumiu a direção em 2013 e se licenciou no início deste ano, quando João Humberto Martorelli herdou o cargo. No período, os técnicos Sérgio Guedes, Marcelo Martelotte, Neco, Geninho e Eduardo Baptista passaram pela Ilha do Retiro.

No Flamengo, mesmo antes da confusão envolvendo Jayme e Ney Franco, três treinadores já haviam passado pela administração Bandeira de Mello. Dorival Júnior, Jorginho e Mano Menezes tiveram períodos curtos de trabalho. Do quarteto anterior ao mineiro Ney, apenas o atual comandante do Corinthians pediu demissão.

"[Essa troca de treinadores] É comum no futebol brasileiro. Futebol é feito de acordo com resultados. Nossa intenção nunca foi essa (rotatividade alta)'', afirmou o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. "O Dorival Jr não era nosso (técnico) e tinha o salário alto. O Jorginho não teve resultado. O Mano Menezes não foi a nossa vontade. E o Jayme não estava performando.''

Ele não vê contradição no discurso de uma administração mais planejada com as constantes trocas. "O que fazemos de diferente (em relação a outras gestões do Flamengo) é manter os salários em dia, pagar nossos impostos. Ter responsabilidade fiscal.''

Os cinco técnicos em 17 meses por pouco não igualam a criticada condução da ex-mandatária Patricia Amorim. Entre 2010 e 2012, a dirigente teve no comando Andrade, Rogério Lourenço, Silas, Vanderlei Luxemburgo, Joel Santana e o próprio Dorival Júnior.

Dos 20 clubes, Criciúma, Bahia, Figueirense, Coritiba, Internacional, Grêmio e Atlético-PR também mostraram-se terrenos delicados nas gestões atuais. Por lá, trabalhos de treinadores duram menos de seis meses.

Já Botafogo (9 meses), Cruzeiro (9 meses e meio), Atlético-MG (10 meses), Santos (10 meses e meio), Corinthians (13 meses) e Palmeiras (17 meses) apareceram como as instituições nas quais os profissionais têm conquistado maior tempo para desenvolver os projetos. Vitória, Goiás e São Paulo, com gestões de seis meses e meio, entraram na tabela abaixo apenas como referência, sem que o tempo de permanência fosse considerado para o ranking.

PRAZO DOS TÉCNICOS DA SÉRIE A NAS GESTÕES ATUAIS

Sport: 3 meses e meio
O clube teve 5 técnicos nos últimos 17 meses

Flamengo: 3 meses e meio
O clube teve 5 técnicos nos últimos 17 meses

Criciúma: 4 meses
O clube teve 12 treinadores em 40 meses

Bahia: 4 meses
O clube teve 2 técnicos nos últimos 8 meses

Figueirense: 4 meses e meio
O clube teve 4 técnicos nos últimos 18 meses

Coritiba: 4 meses e meio
O clube teve 6 treinadores em 29 meses

Internacional: 5 meses
O clube teve 8 técnicos em 40 meses

Grêmio: 5 meses e meio
O clube teve 3 técnicos nos últimos 17 meses

Atlético-PR: 5 meses e meio
O clube teve 5 técnicos nos últimos 29 meses

Fluminense: 6 meses e meio
O clube teve 6 técnicos nos últimos 40 meses

Botafogo: 9 meses
O clube teve 7 comandantes em 64 meses

Cruzeiro: 9 meses e meio
O clube teve 3 técnicos nos últimos 29 meses

Atlético-MG: 10 meses
O clube teve 7 comandantes nos últimos 72 meses

Santos: 10 meses e meio
O clube teve 5 técnicos nos últimos 52 meses

Corinthians: 13 meses
O clube teve 2 técnicos nos últimos 26 meses

Palmeiras: 17 meses
Kleina estava desde o início da gestão Paulo Nobre

Chapecoense: 17 meses
Apenas um técnico no atual comando da agremiação

Vitória: 6 meses
Busca um novo técnico sob o comando de Carlos Falcão

Goiás: 2 meses e meio
Mandato curto de apenas cinco meses, mas com dois técnicos

São Paulo: 1 mês
O clube trocou o presidente e segue com Muricy Ramalho

34 técnicos em um ano

O Blog do Rodrigo Mattos também fez um levantamento que mostra a fragilidade do cargo. Nos últimos 12 meses, os 12 maiores clubes brasileiros tiveram até agora 34 técnicos, uma média de quase três por time. Apenas o Cruzeiro manteve o seu treinador, Marcelo Oliveira.

Os números começam em junho de 2013 e vão até maio de 2014, considerando as quatro grandes equipes de São Paulo (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos), os quatro do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco) e as duplas de Minas Gerais (Atlético-MG e Cruzeiro) e Rio Grande do Sul (Grêmio e Internacional).

Neste período, quem mais mudou de técnico foi o Fluminense. Foram cinco comandantes para o time tricolor carioca em um ano. O Brasileiro-2013 foi iniciado com Abel Braga, substituído por Vanderlei Luxemburgo e derrubado para a ascensão de Dorival Jr. Não deu certo e o time foi rebaixado em campo, se salvando no tapetão. Veio Renato Gaúcho, seguido do atual Cristovão Borges. Todos os quatro antecessores foram demitidos. O Flamengo, líder da Série A em trocas nas gestões atuais, vem logo atrás, com quatro técnicos em um ano.

Presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil ajdou a aumentar a conta. Após contar com Cuca por um período longo, trocou recentemente Paulo Autuori por Levir Culpi. "Atribuo a uma cobrança exacerbada de todos no futebol. Já falei na época, eu me senti um medíocre quando troquei o técnico. Dói mais em mim do que nele'', analisou.

Clube que está em meio a uma troca de técnico, o Palmeiras é um exemplo do estresse da substituição na cara do executivo José Carlos Brunoro. Ele se retirou correndo de um seminário sobre negócios no futebol para não responder a repórteres sobre quem comandará o time no lugar do demitido Gilson Kleina, que, por sinal, era o mais longevo dos treinadores até então. Será o 35º treinador de um dos grandes em um ano.

Único a manter seu treinador no último ano, o diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos, admitiu que só conseguiu o feito por conta dos resultados que ajudaram – o time foi campeão brasileiro. "O Cuca, se não tivesse saído, teria ficado no Atlético-MG também. Mas atribuo essas trocas a uma cultura de resultados dos dirigentes, entre os quais eu me incluo".

Um dado que chama atenção, também, é que, na verdade, não são 34 treinadores diferentes que se movimentaram pelo futebol nacional no período. Vários dos nomes se repetem na lista. Eram demitidos de um time e acabavam em outro que tinha se livrado do profissional anterior, em um círculo vicioso. São os casos de Abel Braga (2), Vanderlei Luxemburgo (2), Oswaldo de Oliveira (2), Muricy Ramalho (2), Mano Menezes (2), Ney Franco (2), Renato Gaúcho (2), Paulo Autuori (2) e Dorival Jr (2).

No total, foram 19 demissões. Quatro treinadores pediram para sair de seus times. Restaram 11 no atual comando das equipes, e um cargo vago, no Palmeiras.

FOTO: UOL

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