É preciso mudar nossa visão sobre o esporte, com a coragem de quem abdica de si para fazer sorrir

É preciso mudar nossa visão sobre o esporte, com a coragem de quem abdica de si para fazer sorrir

Sorrir é um ato de coragem. Em muitos momentos, colocar os dentes à mostra é desafiar o sistema, como beber chocolate quente e morder uma bala de anis assim, em seguida. No futebol não é diferente. Engana-se quem acha que o objetivo do jogo é vencer, levar três pontos. A meta, ao fim de 90 minutos é arrancar mais exclamações alegres dos próprios torcedores.

Não há gol no mundo que se encerre sem um alargar de bocas, de Belarus ao Jardim Comercial, do Camp Nou ao campo do Maracá. Alguém vai sorrir, outros nem tanto. É por isso que tenho dito que nos acostumamos ao pouco aqui no Brasil. Não vemos o jogo de bola com o olhar de quem busca o sorriso. Buscamos o semblante fechado, o ranger dos dentes escondidos em lábios delgados retraídos pela raiva. Ver uma partida assim é apequenar-se no medo.

Fernando Diniz pediu coragem à beira do campo no último domingo, no Morumbi. Altivez aos seus zagueiros para que eles tivessem a petulância de dar um passe mais difícil, sabendo que o erro está envolvido no mesmo pacote do acerto. Pediu bravura a Brenner para “decidir a p... do jogo”. Encorajou seus 10 jovens, formados pelas categorias de base do São Paulo, a buscar o sorriso. E conseguiram no último lance do jogo. Léo deu um passe de Dercy Gonçalvez, Toró fez um cruzamento de Leila Diniz, Brenner deslocou Cássio com a confiança de Lenice Chame Magnoni Neves.

Vi Lenice uma única vez, na formatura de seu filho Fábio Lucas, pela FIAM, em 2001. Ele era um dos jovens vestidos de beca, lá na ponta esquerda do palco. Seu pai, Milton Neves, era o paraninfo da turma. Do outro lado da arquibancada dos formandos, estava eu. Lembro do sorriso orgulhoso da mãe, semelhante ao da minha, Judite, que via também a tudo com ares de vitória. Não a conheci, sequer falei com ela naquele dia. A distância entre a família “do Ó” e a “Neves” naquele dia, 19 anos atrás, era a do Capão Redondo a Muzambinho.

Nesta semana, ela foi ter com o Plano Maior, da Espiritualidade que renasce e jamais interrompe o curso lindo da vida. Separou-se do seu querido esposo e de seus três filhos, deixou choroso o companheiro que deu o sangue e vida para construir uma família próspera e dar à sua “Turquinha” o conforto merecido por sua coragem. Lenice foi valente, não se inclinou ao desvio da vaidade e da fama que o rádio e a TV oferecem. Firme em seu propósito, viveu como alicerce dos Neves tendo o profundo destemor de guardar seu sorriso apenas aos que a amam de verdade.

Fica aqui minha homenagem e meu abraço ao dono desse espaço tão especial e a seus filhos.

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