Nos primórdios do esporte, o “cinco” era o meio-campo defensivo que jogava pela direita - coisa de inglês, claro. Foto: Divulgação

Nos primórdios do esporte, o “cinco” era o meio-campo defensivo que jogava pela direita - coisa de inglês, claro. Foto: Divulgação

Nos 50 anos do gol de Clodoaldo contra o Uruguai, aqui faço minha homenagem aos mais sapientes e corajosos do futebol: os volantes.

Hoje (17) faz 50 anos. Em uma jogada típica de atacante, Clodoaldo se mete entre os zagueiros uruguaios e estica a perna direita para empatar um jogo duríssimo ao final do primeiro tempo. “Não haverá Maracanazzo”, gritou Joseval Peixoto no rádio direto do estádio Jalisco, na bela Guadalajara (MEX). O tento abriu caminho para a virada por 3 a 1 no jogo mais importante daquela Copa do “Tri”. Talvez tenha sido o primeiro momento de brilho global da camisa mais injustiçada do futebol: a cinco.

“O princípio de tudo é o número”, afirmou Pitágoras no século IV antes de Cristo. No futebol, os algarismos falam do jogo o tempo todo. Senão, vejamos, o goleiro é “um” porque o jogo começa e termina no gol. Já o nove é o homem-gol, só olhar a grafia (9), evidente, um jogador ou jogadora cabeceando a redonda pra rede. O 10 é o craque, dono do time, que cria as jogadas mágicas, ganha manchetes, fotos e entrevistas. Mas poucos olham para o cinco, símbolo cabalístico da harmonia, que era usado como amuleto por gregos e romanos para proteger dos maus espíritos.

Nos primórdios do esporte, o “cinco” era o meio-campo defensivo que jogava pela direita - coisa de inglês, claro. Aliás, foram eles que ao criar o “moderno”4-4-2, o empurraram para a defesa. Coube ao Brasil fazer justiça e colocá-lo como o “médio-volante”, o que direciona a equipe. O fato é: a vaidade pode levar à escolha da 10, o masoquismo à um, a virilidade à 3 ou 4, a fome de gols à 9, a festa ao 11 ou à 7, de Garrincha. Mas para escolher a “bruta” lá do meio, é preciso ser perspicaz, líder e sábio, ver o que poucos enxergam.

Aqui então trago alguns exemplos de jogadores geniais que, ocupando o centro do campo não eram o foco das atenções. Os donos da camisa cinco.

Zito: o líder – Eterno capitão do Santos de Pelé, dono de uma marcação limpa e condução invejável, o que o tornou conselheiro do Rei, honra inigualável. Foram 726 jogos e 57 gols com o manto alvinegro.

Júnior: o estrategista – Leovegildo “Rubro-Negro” Lins da Gama Júnior era volante na base do Flamengo. Cláudio Coutinho o tornou lateral-esquerdo. No Torino (ITA), a idade e o talento o fizeram pedir a cinco, vestida com talento e visão de jogo impressionantes. Com 38 anos, liderou o seu Mengão ao título brasileiro, em 1992.

Cesar Sampaio: o craque discreto – poucos foram tão importantes e, ao mesmo tempo, tão discretos para uma equipe. A visão coletiva e a classe para roubar e desarmar foram marcas de um volante que sabia iniciar jogadas e fazer grandes gols, como contra o São Paulo, em 1993.

Dunga: o forte – de símbolo de uma geração derrotada em 1990 para capitão do Tetra, o gaúcho era a encarnação da raça, determinação e liderança em campo. Fez uma Copa perfeita nos EUA, com passes de longa distância decisivos e desarmes precisos. Para os críticos, lembre-se: o pênalti do Tetra foi conferido por ele.
Toninho Cerezo: o criativo – começou com a camisa cinco no Atlético-MG, aliou inteligência e leitura de jogo impressionantes, foi importante peça na fantástica geração de Palhinha e Reinaldo. Trocou de número vezes depois na Sampdória (ITA), na Seleção de 82 e no São Paulo campeão da Libertadores e Mundial.

Há muitos outros que merecem citação, mas uma lista completa não caberia nesta coluna. Fica aqui a homenagem a uma função que já foi tida como menos nobre, relegada aos que jogavam menos e batiam mais. Foram craques como esses nossos e outros estrangeiros, como Zidane – que vestiu a cinco nos galácticos do Real Madrid, que hoje o volante é o primeiro armador de um bom time de futebol. Jogadores que revolucionaram uma função e merecem nossos aplausos.

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