Num mundo em que o futebol promete unir o que a política separa, a FIFA estreia seu troféu pela paz — e pelo prestígio

Num mundo em que o futebol promete unir o que a política separa, a FIFA estreia seu troféu pela paz — e pelo prestígio

Últimas datas FIFA do ano, seleções fazendo o máximo para achar um lugarzinho na maior Copa do Mundo da história, e ares de reta final do trabalho de 4 anos.

E são as notícias fora do campo que às vezes correm mais rápido do que a bola.

Segurança, vistos, disputas de agenda, politicagem, prêmios, dinheiro, custos, direitos de transmissão....tudo é notícia nesse Mundial que assusta de tão complexo e gigante. 80% dos jogos nos EUA, e o restinho fica para o Canadá e o México.
É nesse ambiente que, assim...numa terça feira qualquer....surge um tal de "FIFA Peace Prize": um prêmio que nasce assim, do nada, com um objetivo : a promessa de "celebrar quem usa o futebol para aproximar pessoas e pacificar fronteiras", como diz o comunicado oficial.

Então prepare seu coração: por que lá no dia 5 de dezembro de 2025, no Kennedy Center, em Washington, será a entrega do desconhecido, inesperado e estranho Prêmio Para a Paz no Futebol.

E olhem só: bem no mesmo palco do sorteio que definirá os grupos do Mundial 2026!

Mas a data não foi escolhida por acaso.

É o dia em que o planeta estará olhando para o futebol. E é também o dia em que política e esporte dividirão a mesma cena, lá nos EUA.

A FIFA tenta explicar: diz que o objetivo é reconhecer ações de paz feitas com a bola como ferramenta.

A ideia,nada surpreendente levando em conta os últimos acontecimentos, teria ganhado corpo nas reuniões dos últimos meses, amadurecida junto com os trabalhos em torno do sorteio, que definirá o calendário da Copa.

O anúncio oficial foi dado. OK.

Sabe-se que será no mesmo palco do sorteio da Copa. Conhece-se o local e conhecemos onde será a cerimônia de entrega do tal prêmio.

O que falta é o "miolo", o recheio...o que dá credibilidade.

Não está claro onde está o regulamento publicado do prêmio.

Quem escolhe. Como escolhe.

Quais nomes estão na mesa.

E se existe valor financeiro, além do troféu em si, a ser dado ao vencedor.

Esse silêncio sobre estes detalhes, ainda pesa.

Um troféu que fala de paz precisa ser claro nos critérios. Precisa contar por que um "projeto" ou uma pessoa vence e o outro não.

Mas há um contexto nesta história inesperada e estranha na criação tão urgente,...tão "agora", desse tal troféu da Paz.

O prêmio chega ao conhecimento mundial somente poucas semanas após a entrega do Nobel da Paz.

A coincidência de datas chama muito a atenção. É inevitável.

De um lado, um prêmio sério, digno de uma tradição que vive de regras antigas conhecidas e respeitadas mundo afora.

Do outro, uma novidade: que estreia no centro de um evento de futebol, para que seleções saibam quando e onde vão jogar e possam dar início aos processos complicadíssimos de logística. E no dia em que milhões de torcedores e jornalistas começarão a desenhar seus planos complicados planos de viagem.

O prêmio aparecerá nesta festa toda chamada sorteio da Copa.

Na verdade, nada impede que essa novidade não seja séria, sólida e até útil.

Mas, para isso, precisaria trazer mais detalhes sobre o processo. Ter critérios e o comitê que serão usados, que sejam conhecidos...vistos. Que haja uma justificativa compreensível e visível para a escolha.

Alem, claro, de um compromisso simples: explicar, na segunda edição do prêmio...se e quando ela existir( pois isso tambem ainda não se sabe), o que o vencedor fez com o dinheiro e a honra conquistados com a entrega do troféu.

Na falta de maiores explicações só resta ao leitor interpretar: entender o entorno do evento.

O palco da entrega será Washington, capital dos EUA.

O Mundial de 2026 terá a maior parte, quase 80% dos jogos, em território americano.

A relação entre a FIFA e o poder em Washington cresceu de forma visível.

Mais de 5 visitas do Presidente da FIFA à Casa Branca em menos de um ano. Foi convidado de de honra na posse de Trump. E viajou ao Oriente Medio junto ao Presidente dos EUA.

E na sala do Presidente Donald Trump há uma réplica da taça da Copa do Mundo. Ivanka Trump, a filha do presidente participou no palco do sorteio do Mundial de Clubes em Dezembro passado, junto ao seu filho Theodore.

O Mundial de Clubes sendo chamado de "evento teste", mas realizado exclusivamente nos EUA.

E até a filha do atual presidente dos Estados Unidos, Ivanka Trump foi recentemente nomeada para o conselho consultivo do Fundo de Educação para Cidadãos Globais da FIFA, um projeto de caridade parcialmente financiado com US$ 1 de cada ingresso vendido para a Copa do Mundo de 2026 nos EUA, Canadá e México.

Nessa função, ela fornece "orientação estratégica" ao fundo (trata-se de um cargo consultivo não remunerado). O ex- meio campo da seleção, Kaká está tambem nesse conselho consultivo.

Quando há momentos de estresse entre os EUA e a FIFA, tudo é controlado com muita calma.

Por exemplo, quando há algumas semanas, o presidente americano declarou que, "em caso de falhas de segurança, transferiria partidas de cidades-sede já estabelecidas, para outra "mais seguras"...não houve grandes crises.

Em outros países, somente o pensamento de uma possível mudança de sedes a menos de um ano da competição, seria nada menos que um escândalo.

A FIFA, de seu lado, agora, respondeu com a linha oficial.

"Quem decide sedes é a entidade máxima do futebol", disse a FIFA.

Mas o tema não saiu da pauta. Ao contrário. Ele segue aberto principalmente no que dz razão às cidades de Seattle, San Francisco e Boston, sedes oficiais da Copa, mas que foram colocadas em dúvida pela presidência americana para a COpa do ano que vem.

E estes temas tão sérios e delicados, respingam no anúncio do novo prêmio que a FIFA acaba de criar.

O anuncio do novo preêmio para a Paz da FIFA foi anunciado não em sua sede, na Suiça.

Ao invés disso, o palco escolhido foi Miami.

Em um fórum de negócios, de assuntos econômicos gerais não ligados a futebol, o presidente da FIFA falou pela primeira vez sobre o prêmio.
No mesmo evento estava também, entre os palestrantes convidados, o Presidente Donald Trump.

Quando perguntado em palco sobre o prêmio e sobre se um possível primeiro ganhador seria o presidente dos EUA, Infantino não hesitou.
A resposta foi curta: "no dia 5 de dezembro vocês vão ter a resposta".

Dia 5 de Dezembro: dia do sorteio em Washington, dos grupos da Copa do Mundo.

Claramente, desta vez, seja pelo fato de estarmos diante do maior Mundial da história, seja pela relação amistosa e produtiva entre os dois presidentes em questão, há fina e tênue linha entre a agenda política e a agenda esportiva.

E no meio de tudo isso, assim, de repente, numa terça feira qualquer, de repente estamos falando em um novo e importante prêmio criado pela FIFA.

Enquanto milhões de torcedores se desesperam para conseguir caríssimos entradas para os jogos sem sequer saber quem serão as seleções que estarão em campo nas partidas que eventualmente conseguirão comprar ingressos....há ainda a questão dos vistos de entrada para os EUA.

Novamente um problema completamente político que ainda não encontra respostas por parte da organização.

O Departamento de Estado dos EUA tem uma só recomendação é iniciar o processo com antecedência.
Quem precisa de entrevista de visto, deve se organizar já.

Há quem diga que paz não se premia. Se constrói.

Mas o futebol é um idioma que atravessa muros e fronteiras.

Se um troféu ilumina quem usa esse idioma para trazer a paz, vale a tentativa.

O prêmio não pode ser só algo que serve para a imagem.

Não pode ser incoerente com o que se propões.

Não pode entrar em campo para equilibrar um jogo político.

Se o prêmio virar adereço, o público percebe.

Se virar uma ponte para a paz, uma motivação para novas ações de paz, o público aplaudirá a FIFA. E muito!

O cenário esportivo ajuda a explicar o tamanho da cobrança. A FIFA já entrega prêmios que o torcedor conhece de cor. Jogador e jogadora do ano. Técnicos. Goleiros. Gol mais bonito. Seleções ideais. Torcedor do ano. Há janelas de votação. Há pesos definidos para capitães, técnicos, imprensa e público.

Há regulamentos públicos que foram sendo ajustados com o tempo.

O novo Prêmio da paz da FIFA entra em outra esfera.

Menos bola, mais gente. Menos tática, mais política.

Por isso a exigência de transparência sobe um degrau a mais que outros prêmios concedidos pela entidade máxima do futebol.

O mundo do futebol está a meses do maior torneio da história. A operação cresce. O dinheiro circula. As cidades-sede correm para estarem prontas.

Washington será então a vitrine.

Do sorteio da Copa do Mundo e da entrega do primeiro Prêmio da Paz da FIFA.

No mesmo palco, o troféu inédito vai ser o ponto alto de um dia que o futebol global vai observar com atenção.

Pois agora, semanas depois da entrega do prêmio Nobel da Paz, que desde 1901 celebra a paz de verdade, a Fifa anuncia que vai também premiar a Paz…

Talvez um dia, em breve, veremos a Fundação Nobel Premiar alguma coisa de futebol!

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