por Marcos Júnior
Osmar Santos está completando 62 anos de idade.
Algumas narrações esportivas beiram a perfeição. Eu nunca ouvi nenhuma mais precisa que a de Osmar Santos para o gol de BasÃlio em 1977, quando o Corinthians encerrou o martÃrio de 23 anos sem tÃtulos.
O lance do gol foi rápido. Virou até um belo documentário, chamado "23 anos em 7 segundos". É o tempo total, desde que Zé Maria levanta a bola para a área da Ponte Preta até o chute seco de BasÃlio para o fundo do gol. Para o fundo do coração apertado dos corintianos. Sete segundos que duraram uma eternidade para aqueles que torciam para que a bola entrasse.
Osmar Santos narrou cada toque, a trave maldita, o zagueiro que evitou o gol e finalmente BasÃlio. Não poderia ter sido mais preciso. Cirurgicamente preciso.
A mesma precisão que o neurocirurgião teve ao operar o cérebro de Osmar, devolvendo-lhe a vida após o gravÃssimo acidente automobilÃstico.
Infelizmente Osmar não voltou a narrar. Mas sobreviveu, deu e continua dando um exemplo de vida a todos nós. Seu vocabulário ficou restrito, os movimentos comprometidos. Por força das limitações, tornou-se canhoto e começou a pintar lindos quadros. Coloridos e vibrantes, como deve ser a vida.
Em 1984, Osmar esteve à frente dos comÃcios gigantescos pelas eleições diretas. A campanha das "Diretas Já?.
Eu, estudante pré-vestibular, estive presente à passeata que se iniciou na praça da Sé e culminou no Vale do Anhangabaú. Mais de um milhão de pessoas.
Osmar Santos, Sócrates, Lula, Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e Fafá de Belém, entre outros. Cantamos o hino com a esperança de que a emenda Dante de Oliveira fosse aprovada pelo Congresso. Sócrates, que jogava com tornozeleiras amarelas, a cor que simbolizava a campanha das diretas, disse que se a emenda passasse não sairia do Brasil. A emenda não passou, e o maior jogador que eu vi jogar com a camisa do Corinthians foi para a Fiorentina.
Se não fosse o terrÃvel acidente, Osmar poderia ter narrando o penta, os gols de Ronaldo, as defesas de Marcos, o centésimo gol de Rogério Ceni e os dribles de Neymar. Criaria uma algunha para Paulo Henrique Ganso.
Tudo bem Osmar, ficamos com o gostinho daquilo que você poderia fazer a mais. Mas você já fez muito. Muito mesmo. E no seu aniversário, nós torcedores é que ganhamos o presente maior. O presente de ter lhe ouvido.
Cada torcedor que ouviu suas narrações tem na memória uma lembrança de gol, um grito de "é campeão!"
Sua voz continua embalando os sonhos de todos nós. O amor que você nutre hoje pela pintura parece tão verdadeiro quanto aquele que nutriu pelas cabines de rádio. É a forma mais bela que você encontrou para se comunicar com o mundo.
O amor que devemos ter pelo que fazemos - e com o qual sonhamos -, tem de ser assim, Osmar: colorido, uma verdadeira aquarela!
Clique aqui e veja Osmar Santos na seção "Que Fim Levou?"
Veja abaixo as narrações de Osmar Santos para o gol de BasÃlio em 1977 quando o Corinthians sagrou-se campeão paulista. Corinthians 1 x 0 Ponte Preta (13/10/1977) e para o gol de Raà na final do Mundial Interclubes em 1992.
São Paulo 2 x 1 Barcelona (13/12/1992)
E também o querido Osmar Santos no comÃcio das "Diretas Já", realizado em 1984, no Vale do Anhangabaú-SP
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