O brilhante das narrações faz aniversário nesta quarta-feira. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

O brilhante das narrações faz aniversário nesta quarta-feira. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Osmar Santos está completando 72 anos nesta quarta-feira (28).

Algumas narrações esportivas beiram a perfeição. Eu nunca ouvi nenhuma mais precisa que a de Osmar Santos para o gol de Basílio em 1977, quando o Corinthians encerrou o martírio de 23 anos sem títulos.

O lance do gol foi rápido. Virou até um belo documentário, chamado "23 anos em 7 segundos". É o tempo total, desde que Zé Maria levanta a bola para a área da Ponte Preta até o chute seco de Basílio para o fundo do gol. Para o fundo do coração apertado dos corintianos. Sete segundos que duraram uma eternidade para aqueles que torciam para que a bola entrasse.

Osmar Santos narrou cada toque, a trave maldita, o zagueiro que evitou o gol e finalmente Basílio. Não poderia ter sido mais preciso. Cirurgicamente preciso.

A mesma precisão que o neurocirurgião teve ao operar o cérebro de Osmar, devolvendo-lhe a vida após o gravíssimo acidente automobilístico.

Infelizmente Osmar não voltou a narrar. Mas sobreviveu, deu e continua dando um exemplo de vida a todos nós. Seu vocabulário ficou restrito, os movimentos comprometidos. Por força das limitações, tornou-se canhoto e começou a pintar lindos quadros. Coloridos e vibrantes, como deve ser a vida.

Em 1984, Osmar esteve à frente dos comícios gigantescos pelas eleições  diretas, na campanha das "Diretas Já", quando felizmente a nefasta ditadura militar já caía de podre.

Eu, estudante pré-vestibular, estive presente à passeata que se iniciou na praça da Sé e culminou no Vale do Anhangabaú. Mais de um milhão de pessoas.

Osmar Santos, Sócrates, Lula, Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Adilson Monteiro Alves e Fafá de Belém, entre outros. Cantamos o hino com a esperança de que a emenda Dante de Oliveira fosse aprovada pelo Congresso. Sócrates, que jogava com tornozeleiras amarelas, a cor que simbolizava a campanha das diretas, disse que se a emenda passasse não sairia do Brasil. A emenda não passou, e o maior jogador que eu vi jogar com a camisa do Corinthians foi para a Fiorentina.

Se não fosse o terrível acidente, Osmar poderia ter narrando o penta, os gols de Ronaldo, as defesas de Marcos, o centésimo gol de Rogério Ceni e os dribles de Neymar. Também, possivelmente perplexo, os sete gols alemães contra o Brasil na Copa de 2014...

Tudo bem Osmar, ficamos com o gostinho daquilo que você poderia fazer a mais. Mas você já fez muito. Muito mesmo. E no seu aniversário, nós torcedores é que ganhamos o presente maior. O presente por ter lhe ouvido.

Cada torcedor que ouviu suas narrações tem na memória uma lembrança de gol, um grito de "é campeão!".

Sua voz continua embalando os sonhos de todos nós. O amor que você nutre hoje pela pintura parece tão verdadeiro quanto aquele que nutriu pelas cabines de rádio.

É a forma mais bela que você encontrou para se comunicar com o mundo.

O amor que devemos ter pelo que fazemos - e com o qual sonhamos -, tem de ser assim mesmo, Osmar: colorido, uma verdadeira aquarela!

Clique aqui e veja Osmar Santos na seção "Que Fim Levou?"

Últimas do seu time