Na coluna da semana passada, 18/11/13, escrevi que fazem 100 anos que o boxe chegou ao Brasil.
Nesta, quem foram os primeiros campeões brasileiros de boxe.
Esse conhecimento que compartilho com o leitor, chegou através do amigo, jornalista, escritor e acima de tudo, um amante da "nobre arte", Henrique Matteucci.
Ele escreveu os livros "O galo de ouro", "Beijei a lona", "Luzes do ringue" entre outros e tive a felicidade de conhece-lo, ser amigo, participarmos juntos de reuniões entre os amigos do boxe.
Na mesma época fizemos uma homenagem ao Waldemar Zumbano em que ele tomou o microfone da minha mão para falar do seu amigo e disse: graças ao Waldemar sou ateu e comunista............
Eu conheci o Matt em 1975, ano em que comecei a lutar boxe e em 1980 nos Jogos Olímpicos de Moscou encontrei ele na Vila Olímpica fazendo cobertura dos Jogos para um jornal de São Paulo. Como comunista não perdeu a oportunidade de conhecer a URSS na época da "Guerra Fria".
Realizamos homenagens merecidas à vários ex-boxeadores, técnicos de boxe e dirigentes, agora, escrevendo esta coluna vejo que faltou ao Matt (assim os amigos o chamavam).
Ele amava tanto o boxe que foi para uma academia de boxe treinar, fez sua inscrição no campeonato de iniciantes e depois de vencer em sua estreia, perdeu por nocaute no decorrer do torneio.
Resultado, escreveu o livro: "Eu beijei a lona".
Escrevi acima sobre o Henrique Matteucci para informar ao leitor que os primeiros campeões brasileiros de boxe estão no capítulo 2 do livro "Luzes do Ringue" escrito por ele da "Hemus editota limitada".
Vamos a história:As comissões de boxe organizadas em 1921 promoveram alguns campeonatos regionais e muitas reuniões de lutas ao ar livre. Mesmo assim o pugilismo foi crescendo, ganhando muitos praticantes e cada vez mais público, principalmente em São Paulo.
Mas quem eram os campeões?
Dois jornais da época: "A Paulicéia" e "São Paulo Esportiva" resolveram definir a questão.
Na impossibilidade de organizar e patrocinar um campeonato nacional, aqueles jornais decidiram promover uma eleição popular para a escolha dos oito primeiros campeões profissionais do boxe brasileiro (na época só havia essas oito categorias no boxe profissional, isso por volta de 1926).
A ideia entusiasmou o público, e os campeões, que deveriam sair dos ringues, saíram das urnas:
mosca - Kid Pratt (Armando Jofre, irmão do Aristides Jofre);
galo - Tupy Rosa;
pena - Harry Rosa;
leve - Ítalo Hugo Merigo;
meio-médio - Adriano Delaunay (italiano radicado em São Paulo, cujo verdadeiro nome era Adriano Malgarini);
médio - Tobia Biana;
meio-pesado - Peitão;
peso pesado - Benedito dos Santos (Ditão).
Além dos primeiros campeões brasileiros profissionais eleitos pelo povo, outros merecem destaque no início da história do boxe brasileiro: Laurindo Armando, peso pesado carioca, o primeiro adversário do Ditão em 1923.
Eugênio Grasso ("Cri-Cri"), Batista Bertagnolli, um paranaense que também aprendeu boxe na Europa. Ele radicou-se em São Paulo como promotor de lutas e organizou as primeiras reuniões no Clube Espéria, na Ponte Grande. Jorge Lima, o "Joreca", um atleta que fez história em duas modalidades: boxe e futebol, "Joreca" ganhou mais fama no futebol como técnico. O italiano Guido Aliberti, dos primeiros a montar academia de boxe em São Paulo. O prefeito da cidade de São Paulo, Luciano Gualberto, anulou a lei que proibia a prática de boxe na cidade e contribuiu para o desenvolvimento da modalidade. Celestino Caversazio (o primeiro técnico habilitado) de suas mãos saíram alguns dos melhores professores de boxe que já tivemos, os irmãos Jofre, Bruno Mufati, Chico Sangiovani, Willie Peters, Peter Johnson (este celebrizado como pugilista, com o apelido de "Passarinho de Santa Helena"). Peters Johnson veio da África do Sul e foi um dos pugilistas mais hábeis de sua época. Caversazio também ensinou sua arte para Atílio Lofredo, Atílio Bianchi, Guilherme Scneider, Begamino Ruta, Victor Nanini, Messias Ferreira.
Domingos Mangieri, do português Aníbal Prior e do espanhol Antolin Rodrigo (conheci e até treinei com a orientação dele, era técnico da SEME em 1976). Ainda Jack Marin que chegou ao Brasil em julho de 1920, como marinheiro, e aqui ficou para sempre. Jack Marin foi famoso na Espanha como campeão da Andaluzia e ampliou sua fama aqui com lutas memoráveis. Consta no livro Luzes do Ringue do autor Henrique Matteucci que Jack Marin é pai do ex-vice governador de São Paulo e atual presidente da CBF, José Maria Marin.
Colocar em evidência personagens que marcaram época e fizeram história no boxe brasileiro, é nossa missão e é por isso que nessa coluna já registramos histórias de: Miguel de Oliveira, Antonio Ângelo Carollo, Kaled Curi, Tonico Zumbano, Chiquinho de Jesus, José Maria de Oliveira (que tem a mesma história do Joreca, foi boxeador e conquistou mais fama como técnico de futebol) entre outros personagens que foram e serão lembrados pelos seus feitos em cima do ringue ou em prol da modalidade.
O boxe profissional brasileiro está adormecido, onde estão nossas referências?
Anos 50, anos dourados do boxe brasileiro, tínhamos Ralph Zumbano Tonico Zumbano, Milton Rosa, Paulo de Jesus, Kaled Curi, Pedro Galasso...... nos anos 60 tivemos o primeiro campeão mundial de boxe, Eder Jofre, sua trajetória e um montão de grandes boxeadores incentivaram outros e na década de 70 veio outro campeão mundial, Miguel de Oliveira. O Miguel, Servílio, Luíz Carlos Fabre, João Henrique, Luís Faustino Pires, Juarez de Lima entre outros, foram o "espelho" para vários boxeadores serem campeões brasileiros, sul-americanos e até disputarem títulos mundiais na década de 80.
Nos anos 80 podíamos assistir numa única noite três brasileiros defendendo seus títulos sul-americanos, numa época em que para ser campeão sul-americano tinha que ser o melhor da América do Sul.
Assistíamos semanalmente pela televisão boxeadores realizando grandes lutas, nos anos 70 pela TV Gazeta e nos anos 80 pela Bandeirantes, onde foram transmitidas lutas de boxeadores brasileiros por títulos mundiais.
Isso entusiasmou outros jovens a fazerem carreira no boxe profissional e aí vieram os campeões mundiais Acelino "Popó" de Freitas e Valdemir "Sertão" Pereira nas décadas seguintes.
Sidnei Dal Rovere e Henrique Matteucci
Ítalo Hugo Merigo
Paulo de Jesus com o técnico Horácio MolinaImagem: @CowboySL