A nova febre nacional: perder dinheiro sem sair de casa

A nova febre nacional: perder dinheiro sem sair de casa

Leio e não acredito. Dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, nada menos do que 18 têm como patrocinadores máster empresas ligadas a apostas, o que representa cerca de um bilhão de reais por ano. Os dois clubes que faltam, Mirassol e Bragantino, mesmo não tendo casas de apostas como seus patrocinadores principais, também as têm entre seus patrocinadores. Como se pode definir isso?

Pesquiso e descubro que o Brasil tinha 73 cassinos em 30 de abril de 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu que continuassem funcionando. A justificativa era de que jogos de azar “são nocivos à moral e aos bons costumes”.

As alegações principais dos que se colocavam contra a jogatina ressaltavam que apostar não é “um trabalho honesto” nem uma “forma digna de obtenção de renda”. Em defesa da moralidade e dos valores da família, antes tão preservados, as pessoas deveriam ser estimuladas a estudar, trabalhar e prosperar talvez lenta, mas honestamente.

Aqueles contrários ao jogo diziam que ele trazia o risco de “corrupção, endividamento e desordem social”. Fico aqui me perguntando se mudou alguma coisa na índole do povo brasileiro de 1946 até hoje. Não há elementos para um julgamento preciso, mas tenho a impressão de que se mudou, foi para pior.

Hoje boa parte da população do País vive do bolsa família, bolsa gás, bolsa isso e bolsa aquilo. Cadê o estímulo àquela rotina às vezes maçante, mas necessária, de estudar e trabalhar por anos a fio até se conseguir alguma coisa na vida? Ou será que arriscar o minguado dinheirinho nas bets, fazer uma fé nos jogos do tigrinho, torna alguém melhor?

É desanimador, para quem sempre ouviu que o Brasil é o país do futuro, saber que aqui a educação claudica enquanto a ânsia do dinheiro fácil prospera. Sim, o jogo nada mais é do que a vontade de cortar caminho, de não pagar o preço paciente e demorado do crescimento humano que leva aos valores que realmente importam.

Parece um complô, do qual fazem parte ídolos do futebol, artistas e comunicadores, além do governo, claro, para que o brasileiro não pense, apenas reserve seu dinheirinho ao sonho da fortuna instantânea.

Só no ano passado, segundo a Confederação Nacional do Comércio, os brasileiros destinaram 240 bilhões de reais para jogar nas bets. Imagine como essa dinheirama poderia contribuir para melhorar a qualidade de vida do povo.

O maior receio é o de que essa praga continue a minar as energias e as finanças dos nossos já empobrecidos compatriotas. Pois o jogo do bicho, proibido desde que surgiu, em 1892, continua prosperando normalmente nas esquinas deste Brasil afora. Enquanto isso, a saúde, o saneamento básico, a educação, o emprego...

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