Na época do cursinho pré-vestibular, de tanta efervescência, era preciso estar absolutamente antenado.
Em 1985, sem redes sociais, eram os professores, os jornais, as rádios, a tevê e as revistas que sinalizavam o que havia de bom (ou não, como diria Caetano), no universo das artes.
Por indicação do professor Tito Márcio Garavello, já falecido, encarei a fila do cine Belas Artes, na Consolação.
O Belas Artes, com suas várias salas, era (e ainda é) o cinema que passava os filmes que prestavam, em contraponto ao chamado "circuito comercial", com tranqueiras do "quilate" de "Procura-se Susan Desesperadamente", "Mad Max" e "Loucademia de Polícia 2".
E, lá no Belas Artes, peguei meu bilhete no caixa e, empertigado, achei que assistiria o melhor filme do ano: "Ran", de Akira Kurosawa, cujo mote é o Japão feudal no século XVI.
O período feudal japonês teve nuances absolutamente ímpares em relação ao europeu.
Era, portanto, uma ótima história, ao menos nas sugestões do "Caderno 2" do Estadão e da "Ilustrada" da Folha, somando-se ao fato de que Kurosawa era um cineasta que já gozava de prestígio por sucessos retumbantes, como "Dersu Uzala" e "Kagemusha".
Com tantos ingredientes assim, se estivesse no cardápio de um restaurante com estrela Michelin, "Ran" poderia ser comparado a uma iguaria preparada com trufas brancas.
Deixei a sala do Belas Artes desapontado, para dizer o mínimo.
Um filme arrastado, de quase três horas de duração que pareceram nove.
No ano seguinte, concorreu ao Oscar e ganhou apenas na categoria "Figurino", ou seja, uma perfumaria se comparada àquilo que efetivamente vale à pena, um regalo de segundo escalão que serviu, apenas, para que o diretor subisse no palco e fizesse um discurso manjado, lendo a cola surrada que puxou do bolso do smoking, de agradecimento a familiares, amigos e colegas de set.
E quem levou o Oscar de melhor filme?
"Out of África", aqui traduzido para "Entre Dois Amores".
Um drama romântico norte-americano cujo personagem central é Karen Blixen, vivida pela absolutamente necessária Meryl Streep.
Em resumo, é a história de uma baronesa dinamarquesa dona do seu nariz, independente, incompreendida e linda, que em determinado momento da vida se apaixona pela África e sua gente.
Mas, sentimentalmente, tem uma vida infeliz em seu casamento, até encontrar um amor verdadeiro, arrebatador.
Também assisti "Entre Dois Amores".
Ao contrário de "Ran", o filme dirigido por Sydney Pollack passa tão veloz quanto um cavalo em disparada, montado por uma amazona sem capacete, que abraça o vento com seus cabelos negros.
É simples, gostoso e fácil de digerir, como uma prosaica fatia de batata doce com alecrim e alho, deitada em um prato de sobremesa.
Que fica ainda mais saborosa se for à boca pelas mãos de alguém que está ao lado, com olhos marejados e medrosamente apaixonados, que tem uma das retinas cravejada de cicatrizes.
Mergulhei no mundo do cinema para falar de dois pilotos:
Gilles Villeneuve e Robert Kubica.
Kubica é "Ran"; perdeu-se pelo caminho e arrasta sua carreira.
Gilles foi "Entre Dois Amores"; breve, mas intenso.
Um flash que é muito mais duradouro que um longa metragem.
Pode ser eterno.
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR A HOME DE AUTOMOBILISMO DO PORTAL TERCEIRO TEMPO
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O CANAL DO BELLA MACCCHINA NO YOU TUBE
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR TODAS AS COLUNAS DE MARCOS JÚNIOR MICHELETTI
No Dia do Padeiro, conheça os dois 'Padeiros' da seção 'Que Fim Levou?'
08/07/2025Uma viagem de Milton Neves ao Japão para acompanhar o Santos Futebol Clube
08/07/2025Sauber pode servir de exemplo para a Cadillac escolher seus pilotos
08/07/2025Achados & Perdidos: Há 11 anos, Brasil 1 x 7 Alemanha
08/07/2025Por que, Fifa... por que tanto dinheiro? Por Ricardo Setyon
08/07/2025