Narração de um jogo da Libertadores de 2013 até hoje é lembrada no Youtube

Narração de um jogo da Libertadores de 2013 até hoje é lembrada no Youtube

É "batata". Qualquer busca que você der no Youtube com "narrações mais engraçadas do rádio", "locutores que xingaram durante a transmissão" ou coisa do gênero, meu nome estará lá. Registrado nos anais de bites e bytes da maior plataforma de vídeos do mundo, segundo maior buscador do planeta, a voz deste narrador marca presença. O motivo: perdi a cabeça em pleno ar, como um piloto que surta a velocidade de cruzeiro. Foi em 2013 e essa história eu, rubro de vergonha, quero compartilhar com vocês.

Era uma noite de futebol "daquelas" no estádio do Pacaembu. No dicionário dos narradores, "daquelas" significa: evento esportivo com lotação esgotada, clima de decisão, foguetório, muito barulho e torneio "mata-mata". Pois bem, foi assim aquele 14 de maio, quando chegamos para a transmissão pela rádio 105FM. Cheguei uma hora antes da abertura e, nas arquibancadas, tudo era mosaico verde, vermelho e branco. Uma festa só da torcida que canta e vibra, que esperava seu Palmeiras para enfrentar o Tijuana, do México, pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores.

A partida de ida terminara sem gols e a disputa, que estava aberta, era no estádio municipal, pois o Parque Antártica estava se transformando no luxuoso Allianz Parque. Não importava. Olhei a cena, respirei fundo e pensei: "hoje é dia `daquela´ transmissão. Quase 35 mil pessoas viram o Alviverde imponente entrar em campo com Bruno; Ayrton, Maurício Ramos, Henrique e Marcelo Oliveira; Márcio Araújo, Charles, Wesley e Tiago Real; Vinicius e Kleber. Gilson Kleina era o treinador. Em negrito deixo os personagens do jogo.

Durante 26 minutos, com a bola rolando, a torcida criou um ambiente de pressão e de paixão contagiantes. Narrava sentindo o ar vibrar à minha volta e torci clamorosamente por um gol do Verdão. No entanto, um chute sem-vergonha de Riascos, da entrada da área, encontra caminhos numa falha de Bruno. Ele desligou o disjuntor do Pacaembu ao marcar um a zero para os mexicanos. O público, incrédulo, via seu arqueiro vacilar, sob o olhar de Marcos, um dos maiores goleiros da história palestrina. O gol fora de casa dava ao Tijuana uma vantagem incrível; poderia até perder por um tento de diferença.

Lá pelas tantas, no segundo tempo, comecei a sentir uma irritação com o jogo e os muitos erros palmeirenses. Certamente, lá embaixo, eles estavam mais tensos que eu, já que eram 35 mil vozes caladas esperando uma reação. Nada acontecia e Kleber, centroavante contratado junto ao Porto, erra mais passes que Pai de Santo novo. Num lance aberto de ataque com os três atacantes de frente para a área, ele inventa uma enfiada de bola para ninguém. Eu explodi:

- PARA QUEM, KLEBER? PARA QUEM... ESTRUPÍCIO! (no vídeo abaixo, a partir dos 33 segundos)

Márcio Torvano, repórter atrás do gol defendido por Saucedo, não conseguiu falar, Ricardo Martins, do outro lado do campo repetia, irônico (estrupício, estrupício) e eu espumava. Dizia que ele deveria deixar o futebol, fazer uma graduação, já que não tinha talento. "Esse Kléber é ruim demais, pelo amor de Deus"! Arce, aos seis minutos, e Souza, aos 16, acenderam uma esperança nova à massa. Os jogadores ligaram de novo o disjuntor, a galera começou a pular. "Olê, olê. Eu canto que sou Palmeiras até morrer!". Não adiantou... aquele frango de Bruno enterrou as chances paulistas contra o pequeno Tijuana.

De tempos em tempos alguém marca meu nome em uma rede social dessas mostrando um vídeo com essa narração. Legendas em letras garrafais com o meu grito colérico e impróprio. Não consigo assistir, me dá uma vergonha terrível. Não se faz isso com um profissional que, como eu, está ganhando o seu pão honestamente. Não cabia a mim dizer se tinha ou não talento para jogar futebol. Aqui, Kleber, peço minhas sinceras desculpas, embora nunca mais tenha ouvido falar de seu paradeiro.

Se você é aspirante a narrador esportivo, não repita esse ato tresloucado, fruto do amor pelo futebol e pelo ofício. Com o tempo, a gente aprende a colocar a paixão na caixinha certa, transformando o olhar sobre o jogo e desfrutando de todas as alternativas de um espetáculo de futebol. Não foi uma noite "daquelas" nem para o Palmeiras, nem para mim, no entanto, agradeço aos que gravaram e hoje se divertem com meu mico, pois me ensinam o que eu não posso fazer com um microfone nas mãos.

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