O que se vê em grande parte da imprensa esportiva é uma assessoria de imprensa paralela

O que se vê em grande parte da imprensa esportiva é uma assessoria de imprensa paralela

Foi-se o tempo em que os jornalistas, até aqueles que não enganavam ninguém, precisavam dizer nas mesas redondas por aí que não tinham time ou que torciam por um clube de menor expressão ou do interior. 

Hoje em dia todo mundo sabe a equipe favorita de todos os membros da imprensa. Até porque a maioria, principalmente nas redes sociais, faz questão de esfregar na cara do público suas preferência clubísticas quase que diariamente. 

É claro que eu sei que ninguém é “filho de chocadeira” e que todo jornalista que foi parar na área esportiva tem uma história de vida que se confunde com o futebol e, consequentemente, com o seu clube de coração. E também sei que o jornalismo será 100% imparcial apenas quando criarem robôs capazes de exercer a profissão. 

Bem, mas mesmo assim, me vejo obrigado neste momento a fazer o chato papel de “Ombudsman”. Confesso que o clubismo que tenho acompanhado por parte de muitos colegas por aí - e nada de figuras mais gozadoras ou folclóricas, como Chico Lang ou meu chefe Milton Neves. São profissionais que se dizem os mais sérios do mundo - tem me incomodado além da conta. 

Acompanhando certos perfis no Twitter, a impressão que passa é até de que alguns são contratados pela comunicação dos clubes, tamanha é a incapacidade de tecer uma crítica sobre a agremiação de seu coração. Não é raro também acompanhar brigas, indiretas e até diretas de jornalistas-torcedores contra profissionais que torcem por equipes rivais. E geralmente o motivo é uma simples opinião contrária sobre um lance polêmico ou sobre uma atitude de um dirigente. Uma baixaria!

Eu não concordo 100% com a definição de jornalismo dada pelo editor americano William Randolph Hearst (1863 - 1951) , que dizia que “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Nós, jornalistas, temos que publicar o que é verdade e o que é relevante para a sociedade, independentemente se isso vá ou não agradar a alguém. 

Mas, ultimamente, o que se vê em grande parte da imprensa esportiva é uma assessoria de imprensa paralela. Não sei se os profissionais têm medo de publicar fatos ou opiniões negativas sobre seus clubes para não desagradar um dirigente que é amigo, ou para não irritar os demais torcedores de seu clube, que acabaram virando seu grande público e fonte de seu engajamento. Mas a postura atual beira o inaceitável!

E como isso pode prejudicar os times? Uso como exemplo todo o escândalo financeiro envolvendo o Cruzeiro poucos anos atrás. Quem foi que escancarou para o Brasil o que acontecia nos cofres da Toca da Raposa? Os jornalistas Gabriela Moreira, diretamente do Rio de Janeiro, e Rodrigo Capelo, de São Paulo. Ninguém da imprensa de BH - e o pior é que os chefes que ainda mandam profissionais para a cobertura diária dos clubes costumam escalar jornalistas ligados ao time em questão, o que é um grave erro - conseguiu enxergar o óbvio que acontecia na cara de todo mundo. 

Portanto, passo longe de querer ser o dono da razão. E acho muito libertador que o jornalista possa revelar seu clube para o público sem maiores consequências. Contanto que exista bom senso. E isso, principalmente com o advento das redes sociais, período em que precisamos palpitar sobre exatamente tudo a todo momento para termos engajamento, está em falta na imprensa esportiva brasileira. 

A impressão é até de que daqui algum tempo as colunas terminarão com “saudações rubro-negras”, “vai, Corinthians”, “avanti, Palestra”, “vamos, São Paulo”, etc. 

 

 

 

 

 

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