A mudança terá de ser mais profunda e radical, e começar na orientação política e econômica dos países

A mudança terá de ser mais profunda e radical, e começar na orientação política e econômica dos países

Há exatamente um século o melhor time do mundo era o Bella Vista, base da Seleção do Uruguai bicampeã olímpica em 1924 e 28, uma equipe talentosa, responsável por dar aos uruguaios a fama de praticar o melhor futebol do mundo. Neste domingo, 13 de julho, quando PSG e Chelsea decidirem o título do Mundial de Clubes em New Jersey, veremos duas legiões estrangeiras mostrarem, mais uma vez, como a política e a economia fizeram o futebol europeu se distanciar do sul-americano.

Com valores de mercado de 4,55 e 3,5 bilhões de dólares, PSG e Chelsea mantêm mis de 10 jogadores estrangeiros em seus elencos, seguindo um padrão entre os grandes clubes europeus. Ou seja, podem contratar potenciais craques de qualquer nacionalidade, só precisam agir rápido antes que um concorrente o faça. Isso explica por que os sul-americanos, além de africanos e asiáticos, vão cada vez mais jovens para a Europa.

A única chance de uma agremiação pobre, ou não rica, chegar a uma conquista dessas seria montar um elenco com jogadores jovens, habilidosos e baratos. Mais ou menos como o Santos fez em 2010/11, o que o levou à decisão do Mundial com o Barcelona. Mesmo assim, seria apenas o sonho de uma noite de verão, ou, numa imagem menos poética, um voo de galinha.

No máximo essas revelações são logo contratadas por clubes europeus, ficando no máximo mais uma ou duas temporadas na América do Sul (Neymar chegou a ser contratado pelo Barcelona mesmo antes de entrar em campo para a decisão com o seu futuro time). E para complicar, hoje temos clubes norte-americanos, árabes e asiáticos também dispostos a investir fortunas em novos talentos sul-americanos.

Quando se tenta buscar uma explicação para esse distanciamento, impossível não levar em conta o liberalismo da economia, o respeito aos valores democráticos, a qualidade de vida e o poder aquisitivo dos povos europeus, que podem pagar bem mais pelo espetáculo futebol e seu rico mercado de produtos e serviços.

Enquanto no Brasil o salário de um presidente de federação estadual chega a ser mais de vinte por cento da folha salarial de times das Séries A, como o Juventude, e da Série B, como o Vila Nova, na Europa até clubes do segundo escalão, como o inglês Brighton, o alemão Eintracht Frankfurt e o italiano Napoli têm um valor de mercado equivalente a 5,5 bilhões de reais.

Assim, para um dia o futebol sul-americano voltar a competir em igualdade de condições com o europeu, não bastará revelar jogadores ou mesmo montar grandes times, pois esta fórmula tem se revelado efêmera. A mudança terá de ser mais profunda e radical, e começar na orientação política e econômica dos países.

Os tempos em que só o futebol, a ginga e a destreza dos jogadores sul-americanos garantiam títulos mundiais estão cada vez mais distantes. Quanto ao saudoso Bella Vista, aquele time que deu ao pequeno e valente Uruguai a fama de ter o melhor futebol do planeta, o romântico e esquecido Bella Vista, hoje amarga a terceira divisão em seu país.

Odir Cunha - Escritor com mais de 30 livros publicados. Jornalista profissional desde fevereiro de 1977

 

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