Mundo da Lua

A TV Cultura produziu um seriado entre 1991 e 1992 que muita gente certamente deve se lembrar, chamado "Mundo da Lua", escrito pela mente brilhante de Flávio de Souza.
O protagonista era um menino sonhador, Lucas Silva e Silva, que após um desastrado aniversário de 10 anos, ganha do avô Orlando, magistralmente interpretado por Gianfrancesco Guarnieri, um gravador de rolo da marca Geloso, daqueles antigos, peça rara preservada pelo patriarca da família.
Na engenhoca, o menino, aconselhado pelo avô, passa a gravar seu diário, "onde tudo pode acontecer...".
E, entre tantas aventuras, incluindo uma viagem à Lua com direito a um encontro com São Jorge e seu dragão Drauzio, com quem o guerreiro passava horas a fio jogando cartas, um jogo apropriadamente chamado de "cratera" e as agruras dos pais do garoto (Rogério e Carolina) para que ele comesse verduras e legumes.
Por razões óbvias, o episódio que me reporta às melhores lembranças chama-se "O Ás do volante", em que o garoto imagina-se um piloto da chamada "Fórmula Y".
Embalada pela fase espetacular de Ayrton Senna, a história coloca o menino no mesmo nível de heroísmo do piloto real.
No começo deste episódio, Lucas sobe os degraus do sobrado ao encontro do avô, para avisá-lo que a água para a macarronada está fervendo, e o encontra com os olhos marejados, enquanto ouvia uma canção italiana.
- Sua mãe era italiana, vô?, pergunta Lucas.
- Era, como você adivinhou?
- Ah, você ouviu a música, ficou com saudades e por isso está chorando...
- Não estou... Foi um cisco que caiu nesse olho...
- Então caíram dois ciscos, um em cada olho?, retruca o pequeno, que recebe um abraço apertado do vô querido que, por fim, reconhece que está chorando de saudades.
Falo tudo isso porque neste 20 de outubro estive, como há 12 anos atrás, em frente à casa do seriado com meu filho, que completou 16 anos. É esse pequeno das fotos acima, que aparece lá em 2001 e agora, em 2013, ao lado de um frondoso Pau Brasil, tombado pelo Patrimônio Ambiental, com direito a uma placa em um pedestal.
Seu nome é Lucas, como o Lucas Silva e Silva, que me inspirou para a escolha.
E, assim como o vovô Orlando, chorei de saudades.
Saudades daquele dia, em que eu o segurava no colo.