Na imagem se vê Kaio Jorge, artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 12 gols; em primeiro plano Neymar, o astro maior da competição; ao seu lado esquerdo, Yuri Alberto, artilheiro do Corinthians, e Gabriel Barbosa, outro destaque do líder Cruzeiro. Todos têm algo em comum: lapidaram seu futebol e sua fome de gol nas divisões de base do Santos, ou seja, são todos Meninos da Vila.
O próprio Internacional, que com bons contra-ataques e muita sorte bateu o Santos na Vila, têm entre seus titulares do meio-campo dois jogadores formados na Vila famosa: Thiago Maia e Alan Patrick. O Bragantino tem Lucas Barbosa; o Fluminense, Paulo Henrique Ganso, e por aí vai. Todo grande clube brasileiro tem ou já teve um jogador formado no time de Pelé.
Na Vila costuma-se dizer que os outros clubes têm infanto-juvenis, mas só o Santos tem os Meninos da Vila, uma verdadeira grife de sucesso internacional quando se trata de revelar jogadores, quase todos atacantes. Recentemente Marcos Leonardo, 22 anos, brilhou no Mundial de Clubes ao marcar gols decisivos que levaram o Al-Hilal a vencer o Manchester City e alcançar as quartas de final da competição.
Em 2002, depois de gastar uma fortuna para montar uma verdadeira seleção que não ganhou nada, Marcelo Teixeira, o mesmo presidente atual, confiou nos Meninos e não só conquistou o título brasileiro, como montou um time que por alguns anos se tornou um dos melhores do continente. Seria esta a solução inevitável?
Na gestão atual Teixeira voltou a investir pesado para tirar o Santos da difícil situação em que estava após ser rebaixado pela primeira vez em sua história. Além da ousada volta de Neymar, trouxe, entre outros, o atacante argentino Benjamin Rolheiser, 25 anos, por 65 milhões de reais, e o volante Zé Rafael, 32 anos, por 15 milhões. Em campo, porém, a equipe ainda não engrenou.
Quem sabe não faltam mais Meninos dispostos a correr, entrar em divididas, reduzir o espaço do adversário e buscar incansavelmente os gols e as vitórias que representam fama e dinheiro? Algo me diz que os medalhões terão pouco tempo mais para se firmar, ou acabarão dando lugar ao entusiasmo e aos sonhos da garotada.
Clube fundado em 1912 por adolescentes bons de bola – como o ponta-direita Adolpho Millon e o ponta-esquerda Arnaldo Silveira, que dois anos depois já eram titulares da primeira Seleção Nacional –, no Santos até a paciência com os garotos é maior. Tanto, que Robinho Jr, 17 anos, filho do herói do título brasileiro de 2002, foi um dos poucos poupados pela torcida na derrota para o Internacional.
O problema é que depois de revelá-los, o Santos precisa negociar seus astros emergentes para equilibrar o caixa, como fez com Rodrygo, hoje no Real Madrid. E assim Meninos da Vila se espalham pelo mundo. Porém, enquanto permanecem na Vila, garantem a arte e a magia que mantêm o sonho do santista vivo.