Se você, como milhões de brasileiros, é um amante do futebol que também gosta ou está começando a gostar de tênis, tem acompanhado com interesse os jogos de Bia Haddad e João Fonseca e ficou um tanto ressabiado com as derrotas dos brasileiros nesta semana, então eu preciso lhe alertar sobre algumas diferenças fundamentais entre os dois esportes.
Como se sabe, a paulista Bia Haddad Maia, melhor brasileira no tênis desde a lendária Maria Esther Bueno, foi derrotada na estreia do torneio de Montreal pela holandesa Suzan Lamens, enquanto o carioca João Fonseca perdeu para o australiano Tristan Schoolkate na primeira rodada de Toronto. O detalhe é que os brasileiros eram favoritos, pois seus adversários têm rankings bem inferiores.
Bia é a 21ª do ranking feminino e sua algoz era a 64ª, enquanto João estava entre os 50 mais bem classificados entre os homens e o australiano era o número 103 do ranking. No futebol essas derrotas equivaleriam a um time da Série A do Brasileiro cair diante de um adversário da Série C. É evidente que isso deixa o torcedor indignado, mas é preciso conhecer as particularidades de cada modalidade.
No tênis o ranking é apenas mais uma informação, mas não a definitiva. Sempre há tenistas em ascensão com ranking ainda ruim e outros em queda com bom ranking. Isso ocorre porque a classificação de um tenista nas classificações da WTA (Women Tennis Association) para as mulheres, ou ATP (Association of Tennis Professionals) para os homens, dependem basicamente de resultados obtidos um ano antes. Explicando:
Um tenista que ganhe muitos pontos em um torneio importante, irá mantê-los até a mesma data do ano posterior, quando defenderá esses pontos no mesmo torneio. Até lá, mesmo que não se saia bem em torneios menores, sua classificação não oscilará muito. É o caso de Bia Haddad, que se mantém próxima das top vinte devido, principalmente, às quartas de final que conseguiu no US Open do ano passado. Caso não repita a boa performance no US Open deste ano, que começa dia 26 de agosto, em Nova York, aí sim a sua posição no ranking deverá ser muito afetada.
Quanto a João Fonseca, um adolescente que fará 19 anos no dia 21 de agosto (ele é dez anos mais jovem do que Bia Haddad), o que vier é lucro. Ainda pagando o preço pela falta de experiência, o garoto faz a sua primeira temporada profissional e já está perto dos 50 mais bem classificados do ranking. Isto é excelente quando se sabe que o catarinense Gustavo Kuerten tinha 20 anos e era o número 66 da ATP quando venceu Roland Garros pela primeira vez, em 1997.
Com uma estrutura que oferece verdadeiras fortunas aos mais destacados, mas é bastante penosa para os demais, o tênis atrai um número crescente de jogadores de todos os países, o que o torna um esporte ultracompetitivo. Hoje o tenista tem de ser um verdadeiro atleta e estar preparado em todos os níveis, o psicológico inclusive, para se dar bem como profissional.
A pressão do torcedor, que às vezes até pode funcionar no futebol, é totalmente contraindicada no tênis, pois o tenista já se cobra muito e se vê às voltas com seus demônios internos a cada partida. Até circunstâncias aleatórias, como o sorteio da chave, podem influir decisivamente no seu desempenho. Portanto, a melhor maneira de incentivá-los é estar ao seu lado. Sempre.