Esperança pelas frutas e uma estrela do Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução

Esperança pelas frutas e uma estrela do Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução

Antecipo, para não causar nenhuma decepção, que não falarei sobre cloroquina ou qualquer similar no combate à pandemia que assola a humanidade.

Costumo ter os títulos das minhas crônicas como o "fio da meada" para o desenrolar da teia.

Nesta semana, uma notícia me inspirou para esta, de que os túneis de vento seriam proibidos para o desenvolvimento dos carros da Fórmula 1 em 2021.

Túnel de vento me remeteu à luz no fim do túnel, algo propício para os dias que enfrentamos.

A Fórmula 1 e outros assuntos, claro, perdem a importância em meio a uma situação tão grave, óbvio.

Mas esse termo, luz no fim do túnel, me fez pensar...

Uma noite dessas, desci para colocar o lixo na lixeira do meu prédio e dei um giro pelo condomínio, absolutamente desértico às onze da noite.

É um condomínio simples, sem espaço fitness nem piscina com raia olímpica, e os apartamentos não dispõe de varanda gourmet.

Mas tem uma área verde de dar gosto, com espécies variadas, espalhadas pelo espaço em que se acomodam os dez blocos erguidos.

Tem pitangueira, amoreira, goiabeira...

Não vi nenhuma santidade pendurada na goiabeira, mas vi o pé carregado das frutas, já maduras, algumas bicadas pelos passarinhos.

Algo fora do normal se a vida estivesse normal...

Nem todos sabem, mas sou astrônomo amador.

Fiz vários cursos no querido Planetário Municipal, onde fui aluno dos primos do Flavio Gomes, o Paulo Gomes Varella e o Irineu Gomes Varella.

Também tive aula com o saudoso professor Acácio Riberi, deficiente visual que enxergava melhor as estrelas do que qualquer um de nós que o acompanhávamos em sala de aula...

Falo disso porque, nessa minha volta pelo condomínio, além das goiabas maduras, também olhei para o céu e vi a Intrometida.

Intrometida é uma estrela encravada na constelação do Cruzeiro do Sul, que ganhou essa alcunha por intrometer-se às outras quatro que, alinhadas, sugerem a imagem de uma cruz.

Intrometida é uma estrela de brilho fraco, normalmente visível apenas com telescópio, como o que tenho, presente maravilhoso que ganhei do meu pai querido no meu aniversário de 1980, ano em que fiz meu primeiro curso de astronomia lá no Planetário.

Vi a Intrometida a olhos nus, justamente porque o céu está mais limpo, fruto da menor poluição...

Tudo tem seu lado positivo, não é mesmo?

Não é conformismo, mas resignação, que não é o mesmo que conformismo.

Resignação quer dizer "olhar com outros olhos".

Mais goiabas no pé para os passarinhos, porque nem eu nem meus vizinhos esticamos os braços para alcançá-las nos últimos dias...

A Intrometida "de volta" ao Cruzeiro do Sul em plena cidade de São Paulo, porque há menos carros, motos, ônibus e caminhões circulando...

Sim, muita coisa pode mudar depois que tudo isso passar. 

Vai passar, claro que vai!

É provável, bem provável, que ao contrário do que o genial Belchior escreveu em "Como Nossos Pais", divinamente interpretada por Elis Regina, nossos ídolos não serão mais os mesmos e que as aparências enganam sim!

Afinal, os mitos caem.

Quem sabe, assim que um remédio eficiente for descoberto para a doença grave (que não se evita atrás de um vidro blindado), ou uma vacina seja inventada, isso desperte o interesse  de jovens por cursos como biomedicina e química, gente interessada, por exemplo, em trabalhar justamente com medicamentos e vacinas, ao invés de ganhar a vida com cliques no Instagram?
 
As grandes pestes, que ceifaram milhões de vidas ao longo da história, fizeram as gerações futuras acreditarem e apostarem mais nas ciências.
 
E isso vem em boa hora, pois ainda tem gente que acredita que a Terra não é redonda e que nega a necessidade de nos isolarmos para frear a curva da contaminação.
 
Os mesmos que negam que por aqui tivemos mais de duas décadas de ditadura militar.
 
 

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