Saulo também rebate as supostas teorias sobre um complô dos jogadores para derrubar o então técnico da equipe, Nelsinho Baptista

Saulo também rebate as supostas teorias sobre um complô dos jogadores para derrubar o então técnico da equipe, Nelsinho Baptista

Daniel Lisboa e Vanderlei Lima

Na quarta-feira passada (19), Santos e Corinthians disputaram mais um jogo decisivo entre os vários que marcaram os duelos entre os dois times. Há dez anos, porém, uma partida que não era de mata-mata também ficou eternizada. Sim, estamos falando do 7 a 1 que o Timão aplicou no Peixe, no Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro. Se para você, corintiano ou santista, é difícil esquecer daquele dia, imagine então para Saulo, o goleiro do Santos em campo naquele 6 de novembro de 2005.

Nem pai escapou de piadas

"Eu coloquei na cabeça que ou nós aceitávamos (a gozação) ou teríamos que matar toda a torcida do Corinthians, o que seria impossível", diz o goleiro, em tom de brincadeira, sobre o "eterno 7 a 1", como gostam de provocar os corintianos. Saulo, hoje disputando a Série D pelo São Caetano, revela que nem seu pai escapou das piadas. "Incomodou (a goleada) principalmente no extra campo, porque sempre tinha uma pessoa que vinha e soltava uma piadinha. Eu sempre fui muito forte, eu aguento qualquer tipo de pressão, então para mim não incomodou dentro de campo, mas às vezes as pessoas não tinham assunto e chegavam no meu pai. Especialmente porque ele era jogador, jogava no clube com os amigos dele e os outros ficavam lembrando", conta Saulo, que admite: "não ficavam lembrando da minha história, ficavam lembrando dos 7x1 para tirar sarro, e eu acabei tendo até atitudes ruins com relação a isso."

O ex-goleiro santista lamenta que, apesar de tantos jogadores mais experientes em campo naquele dia, ele tenha ficado marcado pela derrota. Pelo menos, essa é a visão dele. "Todo ano se fala desse jogo e o pessoal lembra só de mim, dificilmente lembra de outros atletas que estavam em campo. Se não me engano, eu era o mais jovem em campo, tinha 20 anos. Do lado do Santos, com certeza era o mais novo."

Saulo também rebate as supostas teorias sobre um complô dos jogadores para derrubar o então técnico da equipe, Nelsinho Baptista. Mas não nega que o treinador criou alguns atritos com o elenco. "O Santos tinha um grupo muito unido, aquela base tinha sido campeã brasileira em 2004 e havia chegado o Giovanni, o Kleber lateral, o Luizão (atacante). Mas o Nelsinho Baptista acabou afastando alguns jogadores que eram queridos, e isso criou um mal-estar", lembra Saulo. "Se não me engano, ele afastou o lateral direito Flávio, o Diogo. Os outros nomes eu não me lembro", diz o goleiro, que não se inclui entre os que teriam ficado melindrados. "Eu só queria saber de treinar e jogar cada vez mais."

Reserva e volta ao Brasil

Saulo também nega que a derrota histórica para o rival tenha pesado em sua saída do clube. Ele diz que o Santos quis renovar o contrato mesmo com a chegada de Vanderlei Luxemburgo e dos goleiros Fábio Costa e Roger em 2006, mas, como propostas haviam chegado, e Saulo sabia que não seria aproveitado, preferiu partir para a Udinese, da Itália.

"O contrato que a Udinese me ofereceu foi muito bom, então eu não pensei duas vezes e optei em buscar meu espaço na Itália e viver uma nova situação que é o sonho de todo jogador brasileiro, ter uma oportunidade em um grande centro como a Itália", diz o goleiro. A passagem pelo time italiano, que já teve brasileiros como Zico e Amoroso, entretanto, não foi marcante e Saulo acabou ficando na reserva do esloveno Samir Handanovic, hoje goleiro da Inter de Milão, e do italiano De Sanctis, atualmente na Roma. "Costumo dizer que ele (Handanovic) não era melhor goleiro do que eu, mas ele teve oportunidade antes e soube aproveitar muito bem. Ele pegou muito nas três temporadas em que estive com ele, eu só joguei com goleiros muito bons", lembra Saulo.

O ex-goleiro do Santos ficou na Udinese até 2009, quando acertou com o Allbino Leffe, time da série B da Itália. Lá Saulo finalmente foi titular, mas problemas particulares no Brasil o levaram a voltar ao país ao final daquele mesmo ano. Sua irmã mais nova, recém-chegada a São Paulo, foi assaltada mais de uma vez. Sua mãe, que morava no interior paulista, teve um grave problema de saúde e passou por uma cirurgia, enquanto seu pai morava longe, em Belém do Pará. Já a namorada estava então em Itapetininga, também em São Paulo. "Era muita coisa para administrar. Aí eu falei ´vou dar um stop, vou voltar para o Brasil e ajudar a colocar a casa em ordem e depois eu dou rumo a minha carreira", explica Saulo.

Elite de novo? Quem sabe

De volta ao Brasil, Saulo contou com o apoio de Juninho Paulista para voltar a atuar aqui. Primeiro, o ex-jogador deixou que o goleiro treinasse no Ituano, e depois o chamou para disputar o Paulistão de 2010 pela equipe. Do Ituano, Saulo foi para o Guaratinguetá, onde jogou por quatro anos, e depois para o Santo André, pelo qual disputou a Série AII em 2014. Agora, o goleiro encara as durezas da série D pelo rival local, o São Caetano.

Se Saulo ainda sonha em voltar a jogar em um time da elite do futebol? "Olha, não deixa de ser um objetivo, não digo um sonho. No futebol, o sonho não te ajuda muito não, você tem que traçar metas e objetivos. Porém, tem que ir de degrau a degrau, por isso é preciso fazer um grande trabalho no São Caetano para ser lembrado. Mas eu quero sim, eu almejo, acredito no meu potencial, eu nunca tive uma lesão séria e quem sabe eu possa voltar a um grande clube."

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