Ser humano, bicho complicado. Passa anos, meses, dias e horas ao lado de alguém e mal percebe o passar dos ponteiros. Estabelece a normalidade frugal que empurra a existência à brisa leve do conforto e nos faz esquecer de dar ao outro as jóias valorosas que merece. Até que um dia ele vai. Sai de campo porque a vida chamou a campos mais floridos. Fica o amargor.
Lembro de um “causo” intrigante que meu avô Matias contou-me certa vez. Em frente sua casa de pau-a-pique, olhava o pé de Tamarindo e, tragando seu cigarro feito de fumo de rolo, lembrava. “Sabe, filho, essa árvore é como a gente da gente. Enquanto está aqui quietinha, nem se dá bola. Quando começa cair folha e galhos, se não cuidar, ela morre e o vento derruba.
Tudo isso veio-me à mente ao lembrar Thiago Nunes, treinador que deixou o Athletico (do Paraná) há poucas horas e irritou o presidente Mário Celso Petragia, a ponto de soltar uma dura nota acusando o técnico de ser ingrato. Pensei em meu sábio ancestral e matutei se o clube não deixou os galhos bonitas do trabalho de Nunes cair a ponto de perder a raiz.
Quantos profissionais, mesmo levando resultados importantes às suas corporações, sentem-se relegados a um segundo plano? Quantas vezes um líder ouve as pretensões de seu time? A horas da final da Copa do Brasil, Thiago disse que pensava em não permanecer, pois acumulava funções que não queria. Seu contrato não tinha multa, afinal “era o treinador do sub-23”.
O mercado é implacável e insensível. É vento que sopra além da vontade de contratantes e contratados. Thiago Nunes elevou o Furacão a níveis jamais vistos. Ganhou o amor do torcedor, tornou-se ídolo de uma era de ouro. Agora busca uma nova freguesia, assim como um dia poderia ser preterido por seu presidente. Talvez que o dono da árvore não a tenha regado corretamente e ela se foi. Mas, professor, não fique sentido. O ódio é assim, a manifestação do amor que adoeceu com a dor da partida.
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