Passeando no rio Sena a bordo do Bateaux Mouches, em Paris, no início dessa Copa , dialoguei com um desportista francês, que se dirigiu a mim, puxando assunto sobre futebol, certamente pelo fato de ter me visto com a camisa da seleção brasileira autografada pelo Rei Pelé.
Ao me dizer que era francês e que falava português por ter morado em Lisboa, peguntei-lhe sobre as condições da seleção da França para encarar os jogos do Mundial da Rússia, comparada àquela equipe francesa que chegou à final da Copa de 2006, na Alemanha, perdendo o título para a Itália, na decisão por pênaltis.
Começou dizendo que a França iria surpreender a muitos, devido à qualidade técnica da equipe montada pelo técnico Didier Deschamps, integrada, segundo ele, por jogadores de excelente nível, entre os quais citou nomes como Pavard, Kauté, Giroud, Umtiti e Mbappé, apontando este último como grata revelação da nova geração do futebol francês.
Perguntei-lhe se usava o termo surpreender, querendo dizer com isso que a seleção de seu país estava um tanto desacreditada relativamente à sua participação no Mundial de 2018.
Explicou que pensava assim pelo fato de ter percebido que a mídia mundial tinha seu foco voltado mais para o Paris Saint Germain, em função de suas contratações milionárias como a de Neymar, do que para os bastidores do escrete francês que se preparava para uma grande participação no certame mundial.
Comparou a atual seleção da França com aquela que se tornou vice-campeã do mundo, em 2006, na Alemanha, chegando a dizer que essa possui um conjunto mais consistente do que as representações francesas do tempo de Michel Platini e Zinedine Zidane, embora sem possuir no elenco jogadores dessa envergadura.
Em razão da euforia e do otimismo com que se referia à seleção de sua pátria, cheguei a imaginar a hipótese de estar havendo algum exagero por parte do francês, embora eu soubesse que a equipe a que se referia tinha conquistado o primeiro lugar no grupo A das Eliminatórias da Copa, com 7 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota, contabilizando um total de 23 pontos na competição.
Nos jogos da fase de grupos do Mundial, quando se misturam fortes, médios e fracos na luta por uma vaga nas oitavas de final, não vi nada de surpreendente no futebol da França, que correspondesse àquele nível futebolístico a que se referiu com entusiamo o meu interlocutor no passeio de barco pelo Sena.
Na fase do mata-mata, entretanto, passei a perceber em cada jogada interessante da seleção da França o despontar daquela consistência futebolística que havia sido aludida pelo torcedor francês, que a priori me parecera "suspeito".
Comecei a acreditar no que me fora dito, a partir daquele jogo das oitavas de final em que a França despachou o Uruguai, aplicando um irreversível 2 a 0 no time de Cavani, resultado até certo ponto surpreendente, considerando que enfrentava a equipe de melhor campanha na Copa.
A certeza absoluta de que o francês do bate papo no Bateaux Mouches não havia exagerado nas referências feitas à seleção de seu pais, veio a reboque daquela estupenda vitória da França diante da Argentina por 4 a 2, nas quartas de final.
Naquele jogo pude constatar que o selecionado francês trazia em seu elenco, além da jovem revelação Kylian Mbappé, atletas de altíssimo nível técnico, compondo um conjunto plenamente entrosado em todos os setores da equipe.
A partir daquela apresentação de encher os olhos, saí de cima do muro e declinei meu favoritismo publicamente, apontando a seleção francesa como a mais cotada para chegar à conquista da Copa da Rússia, desfalcada em sua fase decisiva das potências de primeira magnitude do futebol Mundial.
Não vou exagerar, afirmando aqui que o time de Didier Deschamps passou com facilidade pela aguerrida seleção belga, que como todos viram vendeu a derrota muito caro, perdendo apenas de 1 a 0 e chegando bem próxima do gol de empate, quase levando a decisão para a prorrogação.
A rigor, pode ser dito que a vitória francesa nesse confronto veio no detalhe, calcada no senso de oportunismo do zagueiro Umtiti, ao saltar mais alto que os zagueiros belgas e cabecear de forma certeira para as redes da meta defendida pelo excelente goleiro Courtois.
Vale destacar aliás que Umtiti se tornou o grande herói desse jogo em que a França carimbou o passaporte para mais uma final de copa, não apenas por ter marcado o gol da vitória, mas também por haver salvo seu time de ter cedido aos belgas a abertura no pacar, aos 27 minutos do primeiro tempo, tirando de cabeça uma bola chutada por Hazard, que tinha o endereço certo das redes.
Amanhã saberemos quem será o outro finalista da Copa, no segundo jogo da semifinal, reunindo as seleções da Inglaterra e da surpreendente Croácia, no estádio Lujniki, em Moscou.
Acredito que a Inglaterra deve vencer esse jogo e chegar à final da Copa, por ser uma seleção um pouco superior e possuidora de maior tradição do que a seleção croata.
Não se pode descartar, contudo, a possibilidade de que a Croácia volte a surpreender e se torne a segunda finalista desta Copa onde gigantes despencaram prematuramente como bana passada de madura acaba caindo do cacho.
Vença Inglaterra ou vença Croácia, mantenho meu favoritismo relativo a essa conquista voltado para a seleção francesa, que tem demonstrado possuir um padrão de jogo diferenciado, confirmando o futebol surpreendente de que me falou o companheiro do passeio de barco no leito de um dos mais belos cartões postais de Paris.
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