Nos últimos dias tenho lido e ouvido muita piada de corintiano em cima de são-paulino por causa do tabu. Só estranho ninguém ainda ter dito que corintiano não discute com são-paulino porque o freguês sempre tem razão.
Há dez jogos o São Paulo não vence o Corinthians no Morumbi. A última vitória em campo são-paulino foi em 2007. Isso é pouco ou muito tempo? Difícil dizer, pois todos nós sabemos que o tempo é relativo. Sessenta segundos podem nada representar ou podem corresponder a uma eternidade. Muito irá depender de qual lado da porta do banheiro você estiver: se o de dentro ou o de fora.
Lembro-me de quando eu ainda dava aulas de Físico-Química. Havia um professor que sempre chegava atrasado para o início das aulas e invariavelmente encontrava Dona Regina, a enérgica diretora, esperando-o à porta da sala dos professores. Também invariavelmente ele vinha com uma desculpa. Uma das mais monumentais foi a seguinte:
? Professor, o  senhor está novamente atrasado. Vinte minutos.
? Me desculpe, Dona Regina, mas isso não é atraso.
? Como não?
? Caríssima senhora diretora, qual a idade do planeta Terra?
? Sei lá. Milhões, talvez bilhões, de anos.
? E vivendo num lugar que existe há bilhões de anos, a senhora ainda quer considerar míseros vinte minutos um atraso?
Há outras formas não tão científicas para se determinar um período, um espaço de tempo.
No início de minha carreira como escritor e autor eu colaborava com o Fausto Silva no programa Balancê [Rádio Excelsior-SP, hoje CBN] e no Perdidos na Noite [TV Gazeta, TV Record, TV Bandeirantes]. Participava da criação de ideias para a dupla de humoristas Tatá e Escova. Já para o Fausto eu escrevia gags (piadas rápidas) naquelas fichas, que até hoje ele usa. Na verdade, eram frases, em sua maioria. Certo dia, escrevi "sou muito antigo, do tempo em que 69 era apenas um número interessante?. O Fausto leu e gostou. Pediu-me que escrevesse outras. E então surgiram coisas como "sou do tempo em que faturar a rosquinha era apenas tirar a nota fiscal do biscoito? e "sou do tempo em que  o Bambi era o único veadinho a fazer sucesso?.
O sucesso das frases, junto com o programa, foi tamanho, que "eu sou do tempo em que...? transformou-se em sinônimo de ser muito antigo.
E hoje? Como se poderia imaginar a frase "eu sou do tempo ...?? Há várias sugestões. "... em que a Gretchen apenas namorava?, "...em que a Ana Maria Braga ainda não havia feito plástica? ou "...em que o Milton Neves não fazia merchandising? remontam a um passado bem distante. Já "... do tempo em que ?escuta aqui? era apenas um início de frase incisiva? ou "... do tempo em que o povo não sabia onde ficava Brasília e Brasília não sabia o que era povo? parecem-me ser algo mais recente.
Mas assim como tempo não para, os períodos de tempo parecem ser cíclicos a ponto de transformar a vida numa eterna gangorra. Em relação ao tabu Corinthians e São Paulo, é certo que os são-paulinos já estiveram ? e por um bom tempo ? no alto da gangorra. Nesses últimos tempos tem sido a vez dos corintianos. Pode ser que lá na frente a gangorra balance novamente a ponto de se dizer "eu sou do tempo em que o Corinthians ganhava do São Paulo?.
E antes que eu me esqueça: não vale dizer é "eu sou do tempo em que havia político honesto e decente?. Isso não é sinônimo de antigo. É sinônimo de nunca.

Magalhães Jr. ? o Maga
Imagem: @CowboySL