Daniel Neves
Do UOL, em São Paulo
A seleção brasileira e Marcelinho Machado não conseguem se separar. Com 39 anos, o veterano ala desistiu pela segunda vez da aposentadoria do time nacional para disputar mais um Mundial. Foi convencido pelo técnico Rubén Magnano, que sentiu a necessidade de trazer o veterano após eliminação na primeira fase da Copa América de 2013. Mesmo coadjuvante, com cada vez menos tempo de quadra, o ala segue com espaço cativo e levanta a questão: por que, 16 anos após seu primeiro torneio com a equipe principal, ainda é uma peça necessária?
Não é a primeira vez que Marcelinho volta atrás após anunciar sua aposentadoria da seleção brasileira. Então com 33 anos, disse que não jogaria mais pelo time nacional após o fracasso no Pré-Olímpico mundial de 2008. No ano seguinte, porém, estava lá novamente com a camisa amarela. Em Londres-2012, disse que deixava a equipe para dar lugar aos mais novos. Dois anos depois, está prestes a disputar seu quinto Mundial.
"É muito difícil recusar uma convocação da seleção brasileira. Acho que ainda não aprendi isso, já são duas vezes que anunciei minha aposentadoria e voltei atrás. Estou muito feliz de estar aqui, é um momento muito especial para mim", disse Marcelinho. "São vários motivos, vários fatores. Com a minha lesão [no joelho], ganhei um gás novo na minha carreira, aprendi a saborear ainda mais as coisas".
Na última temporada, Marcelinho mostrou que ainda é capaz de brilhar em âmbito nacional, sendo protagonista nos títulos do Flamengo no NBB e na Liga das Américas mesmo com queda nas estatísticas. Três vezes cestinha da liga nacional, foi apenas o 11º principal pontuador em 2014, retornando após uma temporada parado por grave lesão no joelho. A média, que chegou a 26,85 pontos em 2009, ficou em 17,33 no último ano. Ainda assim uma marca bastante respeitável e atingida através do que o ala tem de melhor: o chute de três pontos (foi o terceiro melhor neste ranking, com 9,58 pontos por partida).
E é exatamente esta característica que deve ser explorada no Mundial por Magnano, que costuma utilizar Marcelinho como opção de tiros longos do perímetro em momentos da partida. Função coadjuvante, mas muito bem aceita pelo veterano. Tanto que o ala não resistiu ao abandonar a aposentadoria da seleção pela segunda vez.
"Acho que ele nunca deixou a seleção. Ele falou que não viria mais, mas pelo bate papo que tive com ele acho que nunca abandonou. Ele mostrou na última temporada o tipo de jogador que é. É um atleta muito experiente, que eu pessoalmente gosto muito. É um agregador fora de quadra, o que é importante em uma seleção", disse Magnano.
A chegada do treinador argentino mudou radicalmente o papel de Marcelinho na seleção brasileira. O Brasil parou de jogar em função dos arremessos longos e o ala deixou de ser 'o cara' do time. Virou reserva, sendo utilizado cada vez menos. Sua média, que chegou a 25 minutos e 11,7 pontos por jogo sob o comando de Lula Ferreira em 2007, caiu para 10 minutos e 3,8 pontos nas Olimpíadas de 2012, sua última competição com o time nacional.
Mas a longevidade de Marcelinho na seleção não passa apenas por seus bons números no basquete doméstico e pela aceitação do papel de coadjuvante com função definida. Também tem relação com a falta de renovação nas alas da equipe brasileira. Além do veterano, nomes como Leandrinho, Marquinhos e Alex Garcia têm lugar cativo desde o início dos anos 2000. Nenhum dos substitutos testados até agora agradou a comissão técnica.
"Estamos falando há anos que temos carência de alas. Estou tentando dar um jeito a isso. No Sul-Americano fizemos Jefferson jogar praticamente todo o torneio de ala, uma posição em que não jogava há muito tempo. Estamos tentando fazer alguma coisa para reverter essa situação", afirmou Magnano. "Agora temos nesta posição o garoto [Bruno] Caboclo, que esperamos que tenha um desempenho bom. Convocamos ele agora, mas não conseguiu vir", completou, elogiando o jovem de 18 anos escolhido no draft da NBA pelo Toronto Raptors.
Sem substituto a altura e eficaz para cumprir uma função específica, Marcelinho Machado ainda é considerado por Magnano como uma peça-chave na composição do elenco e é citado como referência pelos demais atletas da seleção. O veterano, porém, não escapou das brincadeiras por mais uma aposentadoria frustrada.
"A gente sacaneou dizendo que ele é novato de novo, que vai ter que pagar o jantar, carregar as malas. É um cara que é muito pró-grupo, está aqui desde que vim pela primeira vez para a seleção. É muito bom tê-lo no grupo de volta", comentou Tiago Splitter.
"O critério é um só para essa nossa brincadeira: quem nunca disputou a competição", devolveu Marcelinho. "E por esse critério não tem como, estou indo para meu quinto Mundial. Agora eles têm dito que a média da seleção está um pouco mais alta e ficam colocando a culpa em mim, dizem 'também tem o Marcelinho com 50 anos'".
FOTO: UOL
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