Atualmente a Páscoa, o Natal e até mesmo a Copa do Mundo caminham para a banalização

Atualmente a Páscoa, o Natal e até mesmo a Copa do Mundo caminham para a banalização

Atualmente a Páscoa, o Natal e até mesmo a Copa do Mundo caminham para a banalização. Ninguém mais espera a data para abrir seus ovos de Páscoa, as crianças ganham presentes quase diariamente, escolhem o que querem e a surpresa do Natal que "era doce, acabou-se?. Se antes, ir para uma Copa do Mundo era o luxo dos luxos, hoje, o jogador quando convocado, já está num clube europeu ganhando fortunas, com o seu maior objetivo de vida já atingido: poder se entupir de compras. Está com uma dúzia de carros chiques na garagem, roupas de grife, bregas, mas "de marca" como dizem. A Copa não é mais artigo de primeira necessidade, tem servido apenas para expor caprichos.
E saber que há um tempo, ansiávamos até pela coca-família do domingo.
Chega daquele clichê "não é momento de procurar os culpados?, por que não? Vamos procurar, encontrar e acusar agora mesmo, chega de covardia e dissimulação. Nós somos os grandes culpados, sim, nós adultos modernos e sabichões vamos comendo pelas beiradas e eliminando todas as gostosuras da vida das crianças. Um exemplo disso, é o velho porco-cofrinho que antes tínhamos que quebrar, hoje, possui uma tampa para que o piá possa retirar moedas à vontade sem aprender esperar até que fique cheio e nem aprender com a perda do cofrinho quebrado. A "Nova Ordem Mundial? é não frustrar a criança em hipótese alguma, eliminando qualquer expectativa e encanto. O infante não pode escolher nem o lanche do recreio, por que os "politicamente corretos? eliminaram das cantinas as guloseimas que fazem mal à saúde. A intenção é boa, mas de que adianta lhe cortarem as pernas só para economizar com sapatos? Os pais não precisam mais exercer papel de pais ensinando aos filhos o que podem ou não podem comprar, a escola já faz a escolha por eles. Para qualquer problema há um especialista, não os deixamos resolver nada sozinhos, não têm espaço para fazer nada escondido, nem errar, nem se ferrar, nem se frustrar, ou seja, nem crescer. E vão se tornando aqueles malas insuportáveis, mandões, birrentos e intolerantes. Aew, valeu! Estamos todos de parabéns!
Qualquer semelhança com os marmanjos do futebol de hoje, não é mera coincidência. Tratados a pão-de-ló, não enfrentam nada, não podem falar por si, não sabem lidar com a mídia, não sabem ler seus contratos, administrar seu dinheiro e suas namoradas. Mal podem fazer um pum sem autorização por escrito. São facilmente persuadidos a acharem chique e imprescindível ter quem os represente em tudo: assessor, consultor, segurança, motorista, nutricionista, fisioterapeuta, personal trainer, personal stylist e quem sabe até personal friend para as mais diversas situações em que se metem, como churrascos, boates, pagodão, livrarias, teatros e museus (os três últimos itens eu incluí apenas para não parecer preconceituosa, e para icluir no texto, os 3 ou 4 jogadores brasileiros que frequentam esses locais). Tudo aquilo que deveriam fazer para adquirir experiência é delegado a alguém, praticamente terceirizam a vida. E quando encontram algo "incomprável, invendável e imprestável? (frase ?impagável? de Vicente Mateus referindo-se ao jogador Sócrates), é que "the cow went to the swamp? - a vaca vai pro brejo - Millôr, o precursor do dialeto Joelsantanês.
Citar aqui, casos de jogadores suspeitos de ou que cometeram crimes é absurdo, mas não custa mostrar como a intolerância à frustração pode levar o sujeito a eliminar o problema e não a resolvê-lo. E pior, terceirizar, contratando alguém para "executar? ? desculpem a sinceridade da palavra - o problema. É claro que resumir o horror desses casos a uma simples falta de educação e de limite é um disparate, mas serve para ilustrar o extremo da intransigência de não admitir empecilho algum na vida: desde o cofrinho com tampa até a aberração de "eliminar? uma pessoa do caminho. Não estou dizendo que crianças mal educadas serão futuros psicopatas. Não é uma relação de causa e efeito, se a nossa psique fosse tão simples, seríamos todos tão idiotas que também não entenderíamos o que é causa e efeito - dizia Freud, com outras palavras.
As últimas Copas têm sido o retrato do que está acontecendo com o esporte, jogar bola deixou de ser prioridade no futebol. Em uma semana, os jogadores estão recuperados do tombo do salto-alto, assim como as crianças de hoje, que nem se lembram do que ganharam, muito menos quem os presenteou no aniversário. Até choram quando perdem a Copa, como a criancinha quando o brinquedo quebra, mas não se importam tanto assim, por que de onde vem tem mais.
É desolador pensar em corrigir um mundo em que um ser totalmente fútil e influenciável influencia os influenciáveis. E pior, por não saberem cuidar do próprio nariz, nem do bilau, pegam costume de procriar. Aí, é uma criança educando outra. O resultado, é que teremos mais do mesmo, os "júniors? que, reproduzirão o orgulho de dizer que detestam política, portanto não votam e não se comprometem.
O mundo ainda tem jeito? Ou é melhor passar a régua nisso tudo, fechar a conta. 2012?

Foto: iG

Marina Miyazaki, 42 anos de mau humor e completo desconhecimento teórico-prático em futebol. Utiliza como fonte inspiradora e público-alvo para os artigos, seu marido, filhos, amigos, inimigos, parentes, vizinhos, enfim, todos os habitantes do planeta que se acham doutores no assunto.
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