Agora em 2025, completaram-se 15 anos do falecimento do genial Arnaud Rodrigues. Fica difícil descrever a genialidade desse multiartista em apenas uma crônica, então abordarei a grande paixão que ele tinha com o futebol.
Saído de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, com nove anos, Arnaud ganhou o mundo. Na década de 70 já era consagrado como um dos maiores roteiristas de humor da televisão e do teatro. Nesse “Primeiro Tempo” nas artes desenvolveu uma parceria magistral com Chico Anysio (que se estendeu para a música) elaborou os primeiros programas dos Trapalhões na Rede Globo, mas jamais esqueceu da paixão que herdou do pai, Walfredo Rodrigues; o Comercial Esporte Clube.
Nessa época, Arnaud organizou várias partidas amistosas em Serra Talhada. Jogando ou na arquibancada, foi testemunha da passagem de Garrincha, Fio Maravilha, além de inúmeros outros jogadores e artistas que pisaram no gramado do estádio Nildo Pereira (inaugurado em 1973). Foram mais do que simples jogos de futebol, eram festas que animavam a cidade e a região.
Arnaud é o terceiro jogador agachado ao lado de Lug de Paula, o Seu Boneco da Escolinha do Professor Raimundo e filho de Chico Anysio
Em 1980 finalmente um clube do sertão estaria na primeira divisão do campeonato pernambucano; o Comercial disputaria sua primeira competição profissional. Arnaud aproveitou toda essa atmosfera, somou com todo o lirismo do passado para compor um dos hinos mais belos da história do futebol.
Esquadrão do Comercial em 1978
Ninguém soube captar a magia de um domingo de futebol numa cidade do interior, seja na letra ou na melodia. Parecia a chegada de um circo num sítio, ou um cinema para a juventude, quando na verdade era uma partida de futebol. Seja no simples fato de esperar a chegada da delegação visitante pelas ruas ou aguardando a abertura das cortinas para iniciar o espetáculo, algo que para nós chega com o apito do juiz.
Realmente o Comercial era um teimoso mambembe e circense, foi líder ao mostrar que um clube distante da capital poderia jogar aquele sonho. O Alvirrubro da Serra desfilou sua mistica por apenas três edições do estadual. Deixou sua fibra da herança de Lampião no imaginário dos saudosos.
Era tanto carinho pelo clube que Arnaud sonhava até em construir um Museu do Comercial, até camisa da Seleção Brasileira autografada por Pelé já fazia parte do acervo.
Por questões políticas, o Comercial encerrou suas atividades em 1983. Por coincidência, no ano em que Arnaud emendou o seu “Segundo Tempo” nas artes, com marcantes personagens na televisão e no cinema, que até hoje causam saudade; Soró Sereno e Cego Jeremias foram o ápice da ternura para as crianças daquela década.
Em 1987 Arnaud foi “jogar” no time do SBT em 1987, sendo uma espécie de técnico e jogador, pois era roteirista e ator,numa parceria que durou vários anos e com vários personagens cômicos; Povo Brasileiro,Coronel Totonho e o retorno do aclamado Soró Sereno
Em 1988 foi candidato a prefeito de Serra Talhada e em 1990 tentou ser deputado federal. Não obteve êxito… azar da política. Eu mesmo fui uma das inúmeras crianças a gritar “Soró, Soró” pelas ruas da minha cidade, em algo muito além de um comício, era um desfile de alegria... apesar da companhia do ex presidente do Sport que tentava ser Senador no embalo da então recente disputa do Brasileiro de 1987 (que dura até hoje).. mas aí talvez já seria motivo para uma próxima crônica.
Arnaud seguiu pela década de 90 no SBT e em 1999, após uma pescaria e alguns shows no Tocantins, decidiu se mudar com a família para morar em Palmas. Iniciando assim o seu “Terceiro Tempo”, dessa vez mais voltado a sua velha paixâo; o Futebol. Em 2004, ele deixou o programa “A Praça é Nossa” no SBT para se dedicar aos seus shows solo e integralmente ao futebol. Ele havia assumido a função de dirigente do Palmas Futebol e Regatas. Em suas últimas apresentações na Praça é Nossa, chegou a usar a camisa do Palmas durante o quadro “Xitãoró e Xorãozinho”.
Chegou à presidência do Palmas entre 2003 e 2004. Após deixar o cargo, Arnaud continuou ligado ao clube com participação na direção, trabalhando à frente do projeto da construção do Centro de Treinamento da equipe, e buscando parcerias para o clube, inclusive com o treinador Vanderlei Luxemburgo.
Foto da edição número 133 da Revista Placar. Arnaud aparece ao fundo, de óculos e chapéu
Quando ensaiava um retorno para trabalhar na Televisão, Arnaud Rodrigues faleceu aos 68 anos após a embarcação que ele estava virar e afundar no lago da Usina Hidrelétrica de Lajeado, em fevereiro de 2010.
O Comercial não existe mais, tão pouco o Ferroviário e o Serrano que surgiram nos anos seguintes para representar Serra Talhada no futebol profissional. A casa que Arnaud morou em Serra Talhada foi demolida em Abril de 2025, o Estádio Nildo Pereira não recebe jogos oficias desde 2017.
Em janeiro de 2023, o Palmas anunciou sua desistência de disputar o campeonato Tocantinense. O clube teve que pagar uma multa de 20 mil reais, além de ser proibido de jogar competições até 2025, licenciando-se do futebol profissional. Em abril de 2025 o clube foi adquirido por um grupo de empresários do Tocantins, que dentre vários projetos, pretende finalmente concluir o Centro de treinamento idealizado por Arnaud Rodrigues.
